Cobertura Janeiro de Grandes Espetáculos: terceira peça da Trilogia Vermelha relembra perseguição a Dom Hélder

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Márcio Fecher, Junior Aguiar e Daniel Barros integram o elenco. (Divulgação)

Como terceira parte da chamada Trilogia Vermelha, o Coletivo Grão Comum e Gota Serena estrearam, nesta quarta-feira (17), o espetáculo Pro(FÉ)ta – O Bispo do Povo, no Teatro Arraial Ariano Suassuna, no Recife, dentro da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. A encenação é dedicada ao cearense Dom Hélder Câmara, figura católica de projeção internacional, cujo apelido, o Bispo Vermelho, refletiu ideologia alinhada à esquerda.

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A trilogia começou com h(EU)istória, em 2014, sobre o cineasta baiano Glauber Rocha e na segunda parte enveredou pela biografia de Paulo Freire, com a Pa(Ideia) – Pedagogia da Libertação, em 2016. A Trilogia Vermelha é uma investigação dos artistas sobre pensamentos de esquerda através dos olhares da cultura, da educação e da religião, durante a Ditadura Militar.

A peça recupera textos e dados biográficos do sacerdote, cuja trajetória se notabilizou por projetos na educação, ações de combate à miséria e discursos igualitários que o levaram a indicações ao Nobel da Paz. Defensor da não-violência e de uma Igreja Católica voltada aos pobres, o arcebispo emérito de Olinda e Recife ficou conhecido nos anos de 1970 e 1980, por denunciar internacionalmente os crimes de tortura no Brasil. Ele foi impedido pelo AI-5, a partir de 1986, de ter seu nome citado pela imprensa brasileira, e, em uma de suas indicações ao Nobel, em 1970, foi combatido pelo próprio ex-ditador Emílio Garrastazu Médici, então presidente da república.

A montagem é dividida em 17 cenas e conta com um prólogo que encena o velório do Padre Henrique, assassinado pelo Regime Militar. Antes de o espetáculo começar, o público foi recebido pelos atores em frente ao Monumento Tortura Nunca Mais, na Rua da Aurora, e depois saiu em cortejo fúnebre até o Teatro Arraial, na mesma rua. Em Pro(FÉ)ta – O Bispo do Povo, o elenco representa ainda um encontro imaginário entre Dom Hélder com Glauber Rocha e Paulo Freire. Esse encontro só é possível graças à atmosfera profana, utópica e poética do teatro.

Os três espetáculos contam com pesquisa, roteiro, direção e encenação de Júnior Aguiar, que, em cada uma das montagens, divide o palco com os atores Márcio Fecher e Daniel Barros. Com jogo teatral brechtiano, a peça abre debate direto com a plateia, questionando o atual contexto político e social do Brasil.

É um teatro que resgata nossa memória e identidade nacional usando como personagem central este que foi um dos mais importantes líderes da Igreja Católica no Brasil. A abordagem da peça tenta enfocar não apenas a vida de Dom Hélder, mas vai além com a mensagem do Cristianismo. No entanto, o espetáculo conta com uma enxurrada de informações que prejudicam a narrativa, comprometida por excesso de didatismo em algumas cenas. Diferente das montagens anteriores, Pro(FÉ)ta – O Bispo do Povo ainda precisa encontrar um rumo mais fluido a ser trilhado.