Crítica: Xingu, de Cao Hamburguer

ÉPICO DO ALTO XINGU
Longa conta a história dos irmãos Villas-Bôas com humanismo e se esquivando com maestria das soluções fáceis

Por Paulo Floro

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A cinematografia brasileira ainda tem muitos desafios a enfrentar no que diz respeito aos gêneros narrativos. Xingu, que estreia nesta sexta em todo o País pode ser encarado como um marco, já que consegue ser uma das primeiras obras bem-sucedidas a explorar o épico, ajudado por um orçamento que também é incomum nos filmes feitos por aqui, cerca de R$ 14 milhões. O longa conta a história dos irmãos Villas-Boas, que desbravaram o Brasil central nos anos 1940 e foram peças cruciais para a criação do Parque Nacional do Xingu, importantíssimo na afirmação dos direitos indígenas no País.

O filme tem o mérito de conseguir envolver o espectador na história com ritmo de aventura dos três irmãos Villas-Boas, Leonardo (Caio Blat), Orlando (Felipe Camargo) e Cláudio (João Miguel), cada um evidenciando um traço marcante da personalidade dos personagens reais (intempestivo, sábio e o ideologista, respectivamente). A narrativa segue sem tropeços e nos faz criar intimidade não só com o épico do desbravamento, mas também com a questão indígena.

Xingu ainda se sobressai a outras grandes produções nacionais, pois não sucumbe à tentações fáceis que o tornariam mais palatável, como clichês envolvendo a selva (índias voluptuosas, animais peçonhentos à espreita). No lugar disso, temos um amadurecimento dos irmãos, que passam de burgueses entediados em busca de emoção para expedicionários idealistas que são confrontados com a dura realidade envolvendo interesses econômicos do governo e o cotidiano dos índios, com quem se envolvem.

Não há nem mesmo uma tentativa de suavizar defeitos dos Villas-Bôas, como é comum em algumas biografias. O roteiro de Helena Soares, Anna Muylaert e do próprio diretor, Cao Hamburguer contam erros, acertos e episódios controversos dos anos em que os irmãos passam no Xingu. É um filme sóbrio que impressiona também pela sintonia dos atores com aquela situação, o que confere não uma atuação cheia de arroubos, mas com realismo.

O diretor Cao Hamburguer foi tão obstinado quantos os Villas-Bôas neste filme. Iniciou o projeto ainda em 2007, com uma extensa pesquisa e logo em seguida foi fazer contato com os índios. Este é seu primeiro trabalho desde o elogiado O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006). É, com certeza um dos melhores filmes nacionais do ano.

cartaz gdeXINGU
Cao Hamburguer
[BRA, 2012]
Sony

Nota: 8,2