2012

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POR UM FIM LÚDICO
Baseado no calendário Maia, 2012 lança mão de tantos esfeitos especiais que se esvazia por completo
Por Fernando de Albuquerque, editor da Revista O Grito!

Filmes sobre o fim do mundo sempre arrastaram multidões às salas de cinema e são garantia de perplexidade em família nas sessões de Tela Quente. Mas todos esperavam que 2012 fosse bem diferente da safra apocaliptíca que hollywood é acometida ano após ano. E isso porque há muita coisa em torno da profecia de um possível fim que seria em 20 de dezembro de 2012 segundo o calendário Maia. Os pré-colombianos detinham um calendário mais preciso, mais complexo e muito mais holístico que o nosso, previram vários acontecimentos como a chegada do homem branco – Hernan Cortez – a 8 de Novembro de 1519.

Mas o diretor da vez, Roland Emmerich – que já fez Independence Day (1994) e O Dia Depois de Amanhã (2004) -, não nos fornece muitas informações históricas sobre a profecia e coloca toda a culpa em uma erupção solar que move a crosta terrestre. Ah, e tudo foi descoberto por um indiano que abriu um buraco de dois mil metros de profundidade na Índia. Tudo muito bem relacionado!

E todos os clichês estão exibidos na tela. Já que vivemos na era Obama, precisa-se de um presidente negro, “altruista”, liberal e verde. Aqui ele é interpretado pelo experiente Danny Glover. E a questão levantada pelo Obama das telonas é não é se o mundo vai entrar em erupção, mas sim de como os povos podem se unir para preservar a espécie. E, assim, os EUA se transforma na nova nação de Noé. E a partir daí uma série de clichês se repetem à exaustão. A atitude punitiva em torno de Sasha – o russo garanhão que leva um avião gigante e sem combustível de Los Angeles ao Tibet – e sua amante. A punição em torno dos ricos que são impedidos de entrar nas arcas pós-contemporâneas. E a própria atuação de John Cusack que aqui se traveste do anti-herói americano que salva todo mundo arriscando a própria vida se mantendo mais de cinco minutos debaixo d’água. E haja pulmão.

O mais engraçado de tudo é que a catastrofe parece assolar apenas os EUA. De forma rápida e pouco convincente vemos a Torre Eifel cair, o Vatiano lotado de fiéis ser destruído por uma explosão, o cristo redentor ser derrubado por um maremoto (como som de fundo temos a fala “Ai meu Deus”) e por aí vai. O que se sucede na tela é um sem número de cenas bizarras numa crescente megalomania por efeitos especiais dignos de um desfile de escolas de samba. Em outras cenas, cientístas de jaleco branco fazem simulações de tsunamis que se aproximam: “Vejam, ela é da altura do Everest”.

Mas no final todos são punidos, se redimem e seguem para viver em paz no continente africano, o novo eldorado: “A África se elevou e não foi inundada”. E todos partem para reconstruir o mundo que será povoado por patricinhas que pagaram R$ 1 bilhão para serem salvos no dia do juízo final. Ah, e onde estavam os líderes sulamericanos dentro das arcas?

2012, no entanto, é um filme cômico. Sua veia tensa se perde por completo ao lançar mão de todos os clichês perniciosos do american way of life. E com tantos efeitos especiais, impossível não julgá-lo como mentiroso. Mas se é para fazer a linha poliana, bem madura por favor, deixem os miolos no estacionamento, comprem grandes pacotes de pipoca e pronto: riam, por que 2012 é engraçado.

NOTA: 2,0

Fernando de Albuquerque é jornalista

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