5 perguntas para Leonardo Vinhas, produtor da coletânea Brasil También Es Latino

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A integração latino-americana é algo urgente e necessário para uma maior autonomia e crescimento dos povos do continente. E a música é uma das melhores maneiras de promover isso. É com esse intuito que o site Scream&Yell lança mais uma coletânea, Brasil También Es Latino, com 12 artistas de sete países diferentes convidados a recriar canções brasileiras.

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O Brasil tem um histórico de isolamento em relação aos demais países da América Latina. Questões culturais e políticas contribuem para essa nossa alienação em relação à riqueza cultural de nossos vizinhos. E o problema é bem menos o idioma e mais o desinteresse e desinformação. O oposto não acontece. “Há muito muito interesse nos países hispanablantes pelo que fazemos aqui, seja no cinema, na literatura ou na música”, diz Leonardo Vinhas, produtor do disco.

O repertório escolhido reúne períodos e estilos diferentes da música brasileira, desde o samba dos anos 1940 até composições recentes como “O Cometa”, de Rodrigo Amarante. Entre os artistas convidados estão os mexicanos do Sotomayor, os uruguaios do Buenos Muchachos e o equatoriano Mateo Kingman, entre outros.

Esta é a segunda coletânea do Scream&Yell dedicada a celebrar a integração latina. Em 2015 Vinhas produziu Somos Todos Latinos onde 16 artistas brasileiros recriaram o cancioneiro dos países vizinhos.

Para conhecer mais os detalhes desse novo disco e falar sobre a nova música feita hoje na América Latina (que nunca esqueçamos, INCLUI o Brasil), batemos um papo com Leonardo Vinhas.

Na opinião de vocês por que o Brasil vive isolado culturalmente em relação ao resto da América Latina (em suma, pq não nos reconhecemos latinos)?
São muitos os fatores. O idioma é um pretexto, mas não é o principal: fosse um problema, não teríamos músicas e filmes em inglês. Acho que a razão principal é o complexo de vira-lata mesmo. A gente se sente inferior por não ser “metrópole”, por não ser centro – e qualquer coisa que não seja a “metrópole” (isto é, os EUA), nós rejeitamos. Pode notar que não temos uma relação cultural com Portugal, que fala o mesmo idioma. E existe uma certa arrogância de não querer nos igualar, queremos nos sentir “maiores” – então reduzimos todos os outros a estereótipos. Por isso, no Brasil o “Latino” vira o sujeito de pele morena e bigodón, a caricatura de desenho animado, mesmo.

A musicalidade latino-americana é muito diversa e pouco conhecida por nós, brasileiros. Como foi fazer a seleção dos artistas participantes?
Procurei não chamar ninguém que adotasse uma estética estereotipicamente latina. Mesmo o Rialengo, que usa muitos ritmos caribenhos, tem uma atitude mais cosmopolita e menos caricata. O essencial era que eles tivessem alguma ligação com o Brasil ou com a música brasileira. Andrés Correa e Nicolás Molina, por exemplo, são entusiastas da música brasileira e conhecem muita coisa que muitos compatriotas nossos não conhecem. Já outros, como Valle de Muñecas e François Pegalu, não são tão “especialistas”, mas já tocaram por aqui, tiveram outro contato com o país e formaram uma relação de respeito com nossa música.

Como foi a produção do disco? Tudo é articulado online, diretamente com os artistas?
Nem tudo é online. Eu lidei pessoalmente, em um primeiro momento, com parte desses artistas, na passagem deles pelo Brasil. Mas sim, uma vez feito o convite para o disco, aí vai tudo via Skype, e-mail, Messenger e WhatsApp. Com todos os artistas lidei diretamente, à exceção do equatoriano Mateo Kingman, com quem falei apenas com empresários e parceiros. À exceção dele, o processo foi direto e bastante opinativo de ambos os lados com todos os participantes.

Como foi a reação de artistas brasileiros em relação às versões feitas pelos artistas escolhidos por vocês?
Não sei (risos). Só a Nação Zumbi foi informada – e manifestou em suas redes sociais o apreço pela versão dos Buenos Muchachos para “Infenro”, que consideraram uma “bela surpresa”, em suas palavras. No caso dos tributos ao Paralamas e ao Alceu, que eu produzi, pedi autorização antes de começar, já que era um artista só, e mostrei o resultado final apenas depois de pronto. Quando é um tributo coletivo como esse, com muitos homenageados, acho melhor pôr o disco na rua e mensurar a reação depois. Honestamente, não vejo porque se sentiriam ofendidos ou mal representados. Os trabalhos estão de alta qualidade.

O S&Y acompanha de perto a movimentação do pop nos nossos vizinhos. Que tendências e nomes vocês podem comentar como sendo destaques na musicalidade latina hoje no Continente?
A chicha, versão peruana da cumbia, mais psicodélica e enguitarrada, está forte há anos, e já ganha roupagens totalmente novas em alguns países. O reggaeton, no mercado mainstream, tem a força que o sertanejo tem por aqui. O cenário eletrônico também vem se fortalecendo muito. Acho que existe um bom equilíbrio entre nomes novos, como Ságan e Sotomayor, com gente já mais estabelecida, como Bareto e Bomba Estéreo, nessas tendências.