Academia da Berlinda une serenidade e baile no novo disco Descompondo o Silêncio

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Foto: Bruna Valença.

A Academia da Berlinda é sinônimo de diversão, de um rolê certeiro com muita animação e pessoas incríveis (pergunte a qualquer pernambucano como é um show da banda). Há quatro anos sem lançar um trabalho novo, o grupo chega com Descompondo o Silêncio, que tem como proposta alternar essa animação com serenidade.

Produzido por Kassin e gravado por Mauro Araújo no estúdio Marini, no Rio de Janeiro, novo registro nasce de uma parceria com o Coala.Lab (plataforma de projetos musicais do Coala Festival) e já está disponível nas plataformas de streaming.

Conhecido pela hibridização de influências e ritmos afro-caribenhos, o grupo – formado por Alexandre Urêa (voz e timbales), Tiné (voz, pandeiro e maraca), Yuri Rabid (baixo e voz), Gabriel Melo (guitarra), Hugo Gila (teclados), Irandê Naguê (bateria e percussão) e Tom Rocha (percussão e bateria) – entrega dez faixas inéditas. Com produção de Kassin, a tracklist passeia pela rica bagagem de referências da banda e vai dos trovadores medievais à ciranda pernambucana, inspirações para a faixa “Estrela do Norte”, e até ao semba, gênero nascido na Angola e principal influência da música “Semente do Semba”.

“A gente escuta muita música de Angola e latina quando a banda começou. Isso veio na hora da gente pensar e formar a estética musical da banda e por isso tem essa influência afro-caribenha. Também com as influências que cada um traz, né? E também a influência da música daqui de Pernambuco, que é muito forte”, diz Tiné, em entrevista à Revista O Grito!. A presença da musicalidade também foi importante para dar forma a esse novbo trabalho. “A gente tem uma vivência, todo mundo foi de maracatu, vivia em maracatu rural nós interiores, coco de roda, tudo isso com influência da música de salão, da música afro-caribenha. Rolava muito no Recife da gente escutar coisas que vinham do Pará também. Tudo isso influenciou muito a banda.”

Além das várias ambientações sonoras que se desenvolvem ao longo do trabalho, Descompondo o Silêncio também versa sobre uma variedade de temas cotidianos que ganham perspectivas diferentes a partir da abordagem das composições.

“Derrotas e Vitórias”, faixa que encabeça a tracklist, por exemplo, introduz elementos costumeiros da vida, assim como incertezas que são comuns a todos e a importância da empatia. Enxergar outros pontos de vista, inclusive, é o mote de “Solução”, música que destaca aquela conhecida sensação de “como eu não pensei ou vi isso antes?” quando buscamos a resolução de alguns problemas.

Mas a proposta dançante, da música de salão, segue intacta. “Sim, a banda começou com a proposta de fazer bailes em Olinda, tocando covers de músicas de baile. A ideia desde o começo foi fazer música dançante, fazer baile pro pessoal se divertir. Quando a gente começou a compor, seguimos nessa linhagem de música dançante, com temas de amor e tal”, diz Tiné.

O disco chega em um momento complicado mundialmente, de pandemia causada pelo novo coronavírus. Encasteladas em suas casas, os fãs da banda terão que pensar em uma outra forma de curtir o álbum. Mas o momento de maior introspecção já era algo buscado pela banda antes mesmo do isolamento causado pelo Covid-19 ter começado.

“É engraçado que, antes desse tempo de quarentena, a gente fez um disco com o nome “Descompondo o Silêncio”, que tem tudo a ver com esse momento. Mas eu acredito que era uma coisa que já vinha acontecendo, de um momento de radicalismo, de falta de respeito, de toda essa coisa que a gente vinha sentindo, essa angústia que tava dentro de todo mundo, de grande parte da população”, explica Tiné. “E essa angústia, a gente sentia que acontecia esse silêncio angustiante, essa silêncio que deixa todo mundo triste, sorumbático. E a gente via que era uma forma de falar e conversar com as pessoas sobre isso, acabou que, com a quarentena, ganhou um sentido maior ainda. Foi uma coisa que a gente acertou na intuição.”

Para uma proposta como a da Academia da Berlinda a falta de um show presencial faz bastante falta para compor a experiência completa de curtir a banda. “Tem essa coisa também da gente não poder fazer shows, mas é uma coisa que todo mundo tá passando, então é aceitar e aproveitar as oportunidades que tão acontecendo. Tipo fazer uma live, conversar com as pessoas, de estar todo mundo prestando mais atenção também”.

Ouça o disco: