Adriana Varejão ganha exposição no Recife: “a maior resistência de um artista no Brasil hoje é se manter ativo”

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Parede com incisão à la fontana: "minha obra quer mudar perspectivas da história". (Foto: Paulo Floro/OGT)

Um dos nomes mais conhecidos da arte contemporânea brasileira, Adriana Varejão traz pela primeira vez ao Recife uma exposição individual. A mostra Adriana Varejão – Por uma retórica canibal inaugura nesta quinta (28), no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM) e fica até em cartaz até 8 de setembro. Trata-se de um projeto de itinerância por cidades fora do eixo Rio-São Paulo que ajudam a ampliar o debate sobre aspectos de sua obra, como a descolonização, o olhar crítico da ocupação europeia e a influência do barroco nas artes.

Com curadoria de Luisa Duarte, a mostra traz 25 obras dos seus mais de 30 anos de trajetória, realizadas entre 1992 e 2018. Trata-se de um conjunto significativo de sua produção, que inclui trabalhos seminais como Mapa de Lopo Homem II (1992-2004), Quadro Ferido (1992) e Proposta para uma Catequese, em suas Partes I e II (1993). “E pensar que passados 30 anos de carreira eu nunca tenha feito uma individual aqui é impressionante”, diz Adriana Varejão em um encontro no Mamam durante a montagem da expo. “Cidades como Recife e Salvador foram muito importantes no meu trabalho por me inspirarem a muda a perspectiva de muito dessa presença europeia por aqui”, diz. “Desde que comecei a pintar e pesquisar o barroco, usei como referências várias igrejas do Recife, como o altar da Basílica de Nossa Senhora do Carmo, a azulejaria do Convento de Santo Antônio e o teto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares. Tudo isso ajudou a moldar minha linguagem”, diz.

Foi também em Pernambuco que Adriana se inspirou para criar suas famosas obras conhecidas como Ruínas de Charque, uma série de instalações que revelam carnes por baixo das estruturas de construções. “Fiquei impressionada com aquelas carnes de charque em um mercado público de Caruaru e isso me inspirou a criar minha série”, diz.

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Varejão: mostra fora do eixo. Foto: Vicente de Mello/Divulgação.

A exposição é uma oportunidade de aproximar as obras de Varejão de suas referências. Parte artista, parte historiadora, o trabalho dela faz uma revisão histórica do passado colonial do Brasil e busca deslocar o olhar a partir de pontos de vista que foram muitas vezes negligenciados. “Minha obra quer propor uma mudança de perspectiva”, explica. “A obra de Adriana Varejão olha para o passado de forma crítica. Parafraseando Walter Benjamin, ela ‘escova a história a contra-pêlo”, diz a curadora Luisa Duarte. “Me interessa mostrar também que a Adriana já desenvolvia uma pesquisa nesse sentido muito antes dos estudos pós-coloniais estarem no centro do debate da arte contemporânea”.

As discussões sobre a obra de Adriana Varejão ressoam sobre o momento atual do Brasil, em que são gritantes as tentativas de apagamento da história, além de um descaso com a arte e com a cultura. “Acho que vivemos um momento no Brasil em que é importante fazer coisas. Hoje, a maior resistência que um artista pode fazer é se manter ativo”.

Ao longo da exposição comparecem trabalhos de quase todas as séries produzidas pela artista, tais como: Proposta para uma Catequese, Línguas e cortes, Ruínas de Charques, Pratos, Azulejões e Terra Incógnita.

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“Língua com padrão sinuoso”: obras que revisitam passado colonial. (Foto: Paulo Floro/OGT!)

A mostra vai ocupar todas as salas de exposição do MAMAM. No andar térreo, o público poderá ver a instalação em vídeo Transbarroco (2014). Nos demais andares, as outras obras serão dispostas junto com um conjunto de textos curtos, que descrevem e contextualizam cada uma delas, funcionando como ferramenta de mediação com o visitante. O público também poderá conferir um site specific da artista, que não está na seleção curatorial, mas que faz parte do acervo do museu: Panacea Phantastica (2003).

Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães / MAMAM fica na Rua da Aurora, 265. A entrada é gratuita.