Após atitudes machistas durante debate, Lírio Ferreira e Cláudio Assis são punidos pela Fundaj

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Lírio Ferreira e Cláudio Assis: banidos. (Divulgação).
Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação.

Os cineastas Lírio Ferreira e Cláudio Assis tornaram-se “personas non gratas” na Fundação Joaquim Nabuco e estão proibidos de participar de eventos no Cinema do Museu e no Cinema da Fundação. A punição vem depois de um episódio acontecido nesse sábado (29) durante o debate sobre o filme Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, que contou com a presença da própria diretora.

O cineastas desrespeitaram o evento e protagonizaram cenas de machismo e homofobia. Eles chamaram Regina Casé, protagonista do longa, de “gorda”. Eles ainda atrapalharam a condução do debate, interrompendo falas da diretora e do público. A punição da Fundaj tem validade de um ano.

Lírio Ferreira e Cláudio Assis: banidos. (Divulgação).
Lírio Ferreira e Cláudio Assis: banidos. (Divulgação).

Diz a nota: “A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que, diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano. Em respeito ao público e prezando pela promoção da Educação e da Cultura, de forma democrática, a Fundaj reafirma seu compromisso com a qualidade e o respeito aos seus diversos públicos.”

O perfil do Cinema do Museu no Facebook já tinha se pronunciado sobre o caso na noite desse domingo, onde pediu desculpas ao público e à diretora. “O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco pede desculpas aos frequentadores incomodados no debate ocorrido na noite de sábado 29.08. A situação desagradável e o constrangimento causados servirão de exemplo para novas medidas a serem tomadas pela Fundaj, instituição que não corrobora nenhuma expressão de preconceito. Ao contrário, vem trabalhando há mais de seis décadas para tornar a sociedade melhor”

Em entrevista ao JC, a diretora disse que o fato deve servir para abrir uma discussão maior sobre machismo e preconceito. “Agiram de maneira infantil e boba, numa atitude de egolatria comum aos homens. Quando viram uma mulher em evidência, precisaram atrapalhar o momento”.

A jornalista Carol Almeida foi uma das primeiras a falar sobre o assunto no Facebook. Diz ela: “Não importa o quanto eles gostaram do filme, ou do quanto estariam lá porque era amigos dela. O fato é que: eles reproduziram exatamente o machismo do qual a própria Anna, sendo mulher e realizadora de cinema, certamente sempre sofreu (e, como se vê, ainda sofre)”. O diretor de arte pernambucano Thales Junqueira, também presente ao debate também fez críticas. “Show de machismo, sexismo, gordofobia: insetos em volta da lâmpada. Não passarão. Me entristece ver artistas ficando pra trás, sendo engolidos pela poeira da história, sem conseguir pegar o bonde que já esta lá na frente.”

Precisamos falar sobre Perversidade. E sobre como precisamos reconhecê-la, nos defender dela e apontar para outros…

Posted by Carol Almeida on Domingo, 30 de agosto de 2015

Desde o domingo não conseguimos contato com Claudio Assis e Lírio Ferreira para comentar o assunto. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, ele pediu desculpas à Anna. “O que aconteceu foi que eu saí num sábado à noite para prestigiar a estreia do filme de minha querida amiga, bêbado. Quando cheguei, a sessão já tinha começado e fiquei pro debate. Na mesa, eu fiquei esperando uma oportunidade para elogiar o trabalho de Anna, mas o mediador tentou dar a palavra à plateia. E eu me intrometendo pra tentar retomar o raciocínio. Depois me dei conta que estava atrapalhando, peguei um táxi e fui embora. Agora, estou sendo crucificado no Facebook. Só posso pedir desculpas à Anna, como de fato o fiz, logo depois dessa repercussão toda.”

Que Horas Ela Volta? conta a história de Val (Regina Casé), empregada doméstica que largou sua terra natal para trabalhar para uma família rica de São Paulo. Tudo muda com a chegada de Jéssica, sua filha que vem à capital paulista para prestar vestibular. O longa descortina regras não ditas das classes sociais e das relações entre ricos e pobres no Brasil hoje. O filme foi premiado no Festival de Sundance e estreou em circuito comercial no Brasil esta semana.