Arte e Tecnologia

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PORQUE ARTISTAS?
Evento da Nokia sobre tecnologia traz osGemeos para o Recife e coloca a arte mais uma vez em xeque

Por Davi Lira
Colaboração para a Revista O Grito!, no Recife!

Três pontos de vistas precisamente distintos, mas não menos convergentes à atual discussão sobre as relações que envolvem a Arte e a Tecnologia. Nesta nova emergência de debates conceituais sobre o valor da arte contemporânea, questionamentos de autoria, discussões à respeito de significações particulares e propósitos estéticos, três sujeitos de fala com preceituações bem articuladas: os artistas autorais, o geek entusiasta e a jovem curadora pragmática. Através do debate “Mais do que tecnologia, é o que se faz com ela”, promovido pela Nokia, no último dia 2 de novembro, no bairro Antigo do Recife, osGêmeos grafiteiros, o diretor do Festival File de São Paulo, Ricardo Barreto e a Coordenadora da Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco, Cristiana Tejo, puderam levantar seus pontos de vista, focados na influência que as inovações tecnológicas estão propiciando no desenvolvimento do proceso artístico.

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“Não sabemos até quando o sistema de arte que nós conhecíamos até então vai se manter em toda a sua integralidade”, afirma Cristiana. Segundo ela, enquanto que no século 19 o crítico tinha um papel importante, agora ele deve se portar de forma mais humilde e ficar ciente da condição de volatilidade da Arte. “Temos nesse novo momento, um esgarçamento do sentido da Arte. Para onde ela vai? E onde ela fica? O curador está procurando hoje o que vai fazer com tantos questionamentos, não existe um caminho único, estamos buscando cada vez mais respostas”, diz. A arte, no entanto, sempre dialogou com os meios tecnológicos do seu tempo. A diferença é que neste novo momento a forma que ela se apropria do aparato tecnológico é bastante distinta, especialmente pela revolução espistemiológica do digital, surgida a partir da década de 1970 e fortalecida neste novo século.

“Hoje a forma de pensar e de se relacionar está totalmente mudada, porque nossa mentalidade não é mais linear, somos cabeças digitais pensantes”, setencia o diretor Ricardo Barreto. De acordo com o idealizador do File (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), isso faz com que a classificação do que seja arte ou literatura, por exemplo, sejam difíceis.”Somos parte dessa sociedade libertária da abundância que sofre de esquizofrenia salutar: muitos conteúdos, milhares de informações e múltiplas possibilidades, onde cada um pode ser várias pessoas, criar seu prórprio imaginário e ter várias personalidades”.

Mas esse ambiente digital anarco-cultural preceituado por Barreto, que acredita, inclusive, que em 40 anos as pessoas possam se apaixonar por robôs, encontra fortes antagonistas. “Para nós, no entanto, a essência do real sempre será maior”, afirmam osGêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo. Segundo a dupla de grafiteiros mais famosa do país a novas tecnologias possuem dois lados bastante distintos: o de ajuda na divulgação como a parte positiva; a dependência e a sujeição como as questões a serem criticadas.

“O mundo virtual até hoje sempre ficou distante de nós. Viemos da cultura hip-hop, uma escola um pouco longe disso tudo isso. Para nós é bizarro trocar o caderninho de pintura por um programa de computador, queremos continuar a nos sujar e jamais vamos nos tornar mimados diante da tecnologia. Mandamos alguns e-mails por dia e pronto, já é suficiente”, afirmou Gustavo. Segundo eles, hoje as coisas se tornaram mais fáceis com a tecnologia e o risco de ter mais produções artísticas descartáveis é ainda maior. “É dessa forma que temos que repensar as formas pelas quais passamos a criticar essa nova arte, tecnologicamente influenciada por este novo momento. O fato é que a internet é uma babel e novas amarras de poderes estão em jogo, eu até arrisco dizer que a qualidade como critério pode até desaparecer, a discussão ficar no eixo da relevância, talvez”, afirma Cristiana Tejo.

Mas o entusiasta da tecnologia, das vidas artificiais e redes neurais, Roberto Barreto, margeia um pouco esses prognósticos de críticos e aponta em uma direção que vangloria mais a inovação e destaca aspectos práticos subjetivos. “Pessoas comuns agora estão diante de um novo e inacreditável mundo que está surgindo. Elas podem criar novas subjetividades através das redes sociais e das ferramentas da internet e da programação, e serem criadores, mesmo sem a intenção de fazer arte”, diz Barreto.

Quanto a essa riqueza cibernética até osGêmeos ficaram de acordo. “Hoje de fato está mais excitante, tem mais competição de estilos e guerra de talento na rede, que podem ser observados rapidamente pelo Flickr”. Mas sintetizam bem a originalidade que sua pop-art desponta no meio artístico. “Foram as poucas informações da época, e a pouca dependência que temos da internet hoje que conseguimos criar e consolidar nosso estilo de arte”. Para eles nada há de substituir o diálogo real das pessoas com suas pinturas.

“O contato com a obra está além de uma galeria virtual, envolve todo o ambiente e atmosfera do lugar, continuamos a preferir a interação do não-digital”. É a poética da vivacidade do pessoal se contrapondo ao puro determinismo do tecnológico. Mas as infidáveis possibilidades da tecnologia seduzem até mesmo “osGêmeos off-line”. “Nosso trabalho sempre foi bidimensial, mas aos poucos estamos experimentando coisas novas”, aponta Otávio Pandolfo.

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