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Arte: Felipe Dário/OGrito!.

As 50 melhores músicas de 2021

Em mais um ano caótico, uma seleção das faixas mais representativas. De Caetano Veloso a Djonga, passando por Marina Sena, Liniker, Linn da Quebrada, Lil Nas X, Duda Beat, Pabllo Vittar e muito mais

Por Alexandre Figueirôa, Rafaella Soares, Fernando de Albuquerque, Túlio Vasconcelos. Edição: Paulo Floro

Arte da capa por Felipe Dário.

Em mais um ano marcado por desgovernança, uma triste marca dos mais de 600 mil mortes e retrocessos de toda sorte, a música nos levou a diferentes caminhos para sofrer, chorar, dançar e também nos trouxe ânimo para resistir, sonhar e aguardar por dias melhores. E o pop nunca esteve tão inventivo e instigante como hoje, o que prova essa incrível seleção de faixas que servem como uma trilha sonora para este ano cheio de percalços, mas que se encerra com uma pitada de otimismo pelo novo ciclo que se avizinha em 2022. Com vocês, as 50 melhores músicas do ano.

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Nao com Adekunle Gold – “Antidote”

A cantora inglesa NAO chamou o nigeriano Adekunle Gold para esse hit que representa bem o momento vibrante que o pop africano vive e como vem influenciando diferentes gêneros ao redor do mundo. A faixa fala de maternidade e de como o nascimento de sua filha transformou a vida de NAO.


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Jader – “Eu Gosto”

Depois de ótimos trabalhos ao lado das bandas Projeto Sal e Mulungu, o pernambucano Jáder atualiza a estética do forró para descolar do gênero um histórico muito heteronormativo. Nessa reinvenção, ele propôs um som animado, sexy e onde os corpos LGBTQIA+ possam se reconhecer. Forró-chiclete dos bons.

Leia mais: Um papo com a Mulungu.


48
Urias – “Foi Mal”

“Foi mal eu ser assim / Dar esse amor ruim / Desculpa esse ter que ser o nosso fim / Só cuidei de mim.” Os caminhos do autoconhecimento e o senso de autoproteção dão o tom nesta faixa de Urias, que fala das dores e delícias da nossa dificuldade em se jogar no amor. Para quem já sofreu bastante, todo cuidado é pouco. A interpretação cheia de entrega dá o tom nessa música viciante.


47
IZA – “Gueto”

“Gueto” é mais uma prova que IZA nos entrega da popstar de altíssima qualidade que ela é. Produção altamente sofisticada, batidas viciantes e interpretação cheia de vigor dessa representante da ótima fase que o pop BR vive.


46
UANA – “Mapa Astral”

“Mapa Astral” marca o início da nova fase musical da atriz e compositora pernambucana UANA. Misturando pop, trap e brega funk, ela apresenta uma proposta bastante original que indica os novos e interessantes movimentos vivenciados hoje no cenário musical de Pernambuco.

Leia mais: UANA apresenta novo clipe de “Pirraça”


45
Sofia Kourtesis – “La Perla”

A artista de música eletrônica peruana Sofia Kourtesis – hoje radicada em Berlim – aposta nos próprios vocais pela primeira vez para compor uma delicada canção sobre saudade, pertencimento e a nossa necessidade dos encontros físicos.


44
Pabllo Vittar – “Ânsia”

A maior estrela pop que temos fez o resgate mais do que merecido do hit de Eliza Mell, “Ânsia”, um brega romântico que fez a educação sentimental de muitas LGBTs na virada dos anos 2000. Pabllo manteve a estética da sofrência brega, mas adicionou toques eletrônicos em arranjos sofisticados.

Leia mais: Um papo com Pabllo Vittar.


43
Fred again… com The Blessed Madonna – “Marea (We’ve Lost Dancing)”

Fred again… lançou este ano um dos trabalhos mais interessantes da música eletrônica, repleto de convidados e com temas que ressoaram questões levantadas pela pandemia. Uma delas fala justamente do nosso isolamento forçado e da falta que nos faz estar em uma pista de dança, do contato próximo. Apesar da atmosfera melancólica, a batida acaba nos levando a um lugar de muita reflexão, do papel que esses espaços da cena noturna representam para a comunidade LGBTQIA+ e da esperança de que tudo vai passar.


42
Caroline Polacheck – “Bunny Is A Rider”

Prestes a lançar mais um trabalho solo, Caroline Polacheck (ex-Chairlift) encabeça esse novo levante de artistas que arejam o cenário pop com novas ideias e personalidade vocal. “Bunny Is A Rider” é um synth-pop cheio de carisma, com experimentações na voz e diferentes levadas que tornam a faixa estranha e interessante na mesma medida.


41
FEBEM, CESRV – “CRIME”

Nome relevante do grime brasileiro (ou, na verdade, o brime, o grime brasileiro, como gosta de chamar), o rapper FEBEM reforça sua lírica com batidas firmes e apressadas em rimas baseadas em vivências. “CRIME”, com produção de CESRV é uma das melhores faixas de rap este ano.


40
Gloria Groove – “A QUEDA”

Um dos maiores hits do pop brasileiro hoje, “A Queda” é prova da versatilidade de Gloria Groove, uma artista cheia de potência e ainda muito a entregar. É uma faixa super inspiradora sobre as vicissitudes da indústria e também sobre resiliência frente à cultura do cancelamento.


39
Japanese Breakfest – “Be Sweet”

Projeto solo de Michelle Zauner, o Japanese Breakfast se reinventou neste terceiro disco com uma proposta mais indie-rock, assertiva e pesada e menos focada nas composições etéras dos álbuns anteriores. “Be Sweet”, apesar de sua batida animada carrega uma letra áspera sobre relacionamentos.


38
Rochelle Jordan – “NEXT 2 You”

Todo ano aparece uma nova promessa do “futuro do R&B”. Rochelle Jordan não dá bola para essas pressões, porém traz um trabalho que busca inovações no gênero ao apostar em elementos da eletrônica, como é o caso desta hipnótica “NEXT 2 You”.


37
Little Simz com Cleo Sol – “Woman”

Rapper britânica de ascendência nigeriana, Little Simz apresentou um dos mais interessantes trabalhos de rap estre ano – Sometimes I Might Be Introvert – e “Woman”, ao lado de Cleo Sol, é uma das melhores faixas. Unindo R&B das antigas com linhas de baixo fortes e letras politizadas, a faixa representa bem esse novo momento do gênero que a Inglaterra vem exportando.


36
C. Tangana com Nathy Peluso – “Ateo”

Que fase incrível vivem esses dois artistas latinos. Mistura de bachata (ritmo típico da República Dominicana) com rumba e com um delicioso verniz pop, “Ateo” representa bem a explosão criativa da música ibero-americana hoje.


35
Alessandra Leão – “Borda da Pele”

A cantora pernambucana lançou este ano o ótimo ACESA, em que apresenta suas pesquisas sobre as sonoridades afro-brasileiras em um trabalho cheio de inventividade . “Borda da Pele” é fruto dessa busca da artista em promover o encontro desses sons tradicionais com o pop experimental.

Leia mais: Alessandra Leão lança ACESA.


34
serpentwithfeet – “Same Size Shoe”

Codinome do estadunidense Josiah Wise, o serpentwithfeet celebra o amor LGBT e preto nessa faixa que celebra o prazer de estar com alguém. Mistura de pop e R&B com ecos de pop, a faixa é pura contemplação e tranquilidade (que todos merecemos, afinal).


33
Jayda G – “All I Need DJ – Kicks”

A canadense Jayda G iniciou como uma promessa da house music, mas avançou com desenvoltura para o cenário pop independente. Depois do hit absoluto “Both of Us”, ela retorna com mais uma música igualmente viciante, que fez parte da coletânea da DJ Kicks.


32
Peggy Gou – “I Go”

Sul-coreana residente em Berlim, Peggy Gou é um dos nomes mais celebrados da música eletrônica hoje e “I Go” é sua mais nova contribuição para os hits do gênero em 2021. Com uma injeção da energia da cultura rave, a faixa é um batidão diletante que vai direto ao ponto.


31
Adele – “Oh My God”

Adele poderia simplesmente surfar dentro da estética que construiu ao longo de uma carreira de sucesso, com uma enorme base de fãs. Mas seu aguardado novo disco, 30, mostra uma artista disposta a se arriscar, porém ainda muito comprometida com um projeto artístico muito meticuloso e bem executado. “Oh My God” é bem representativo disso.


30
Magdalena Bay – “Secrets (Your Fire)”

A dupla estadunidense de synth-pop Magdalena Bay formada por Matthew Lewin e Mica Tenenbaum aparece hoje como a vanguarda do pop no sentido de testar novas possibilidades da eletrônica dentro de um molde pop já bem experimentado. O resultado rende trabalhos incríveis como este “Secrets (Your Fire)”.


29
Johnny Hooker – “Amante de Aluguel”

O cantor pernambucano Johnny Hooker prepara sua nova era com uma embalagem ainda mais pop com esse “Amante de Aluguel”, mas sem deixar de lado a originalidade de buscar as referências do brega. A faixa amplia a expectativa para o novo álbum de Hooker, inspirado pelos relatos eróticos feitos pelo dramaturgo, ensaísta e poeta argentino Tulio Carella (1919 – 1972) no livro Orgia – Diários de Tulio Carella – Recife, 1960.


28
Amaarae com Kali Uchis – “SAD GIRLZ LUV MONEY Remix”

Depois de ganhar destaque com o seu disco de estreia, The Angel You Don’t Know, a cantora e produtora ganense-americana Amaarae encerra o ano com este excelente remix de “Sad Girlz Luv Money”, que ganha o reforço luxuoso de Kali Uchis.


27
Megan Thee Stallion – “Thot Shit”

Megan Thee Stallion mostra novamente que está no pelotão de frente no rap mainstream hoje com essa faixa hiper-reativa que demonstra todo seu poder de fogo (a saber: rimas, batidão e arranjos viciantes e performance incrível).


26
Mbé part. Juçara Marçal, Orlando Costa e Luizinho do Jejê – “A Caminho de Palmares”

Projeto do pesquisador e produtor Luan Correia, Mbé (que em iorubá quer dizer “ser e existir”) traz como principal interesse propor uma busca histórica e estética da música negra no Brasil. Com uma mistura de colagens, o músico carioca faz um som de alta inventividade e forte emotividade. “A Caminho de Palmares” mistura trechos de uma fala da ativista e pesquisadora Lélia Gonzales com sons ritualísticos para criar uma atmosfera repleta de sinestesias no ouvinte. Impossível sair indiferente à audição.


25
Snail Mail – “Valentine”

Em seu segundo álbum, Snail Mail (codinome da jovem artista estadunidense Lindsay Jordan) mostra o porque das mulheres serem hoje a ponte de lança da originalidade no rock, o que torna o gênero ainda interessante hoje. “Valentine” é tudo o que esperamos do combo riffs pesados e interpretação angustiada, tudo com muita entrega e vigor.


24
Olivia Rodrigo – “drivers license”

Revelação do ano inconteste, Olivia Rodrigo dominou as paradas e os corações de milhões de adolescentes com uma música que fala direto aos anseios e questões dessa fase da vida. O pop sempre renova sua safra de artistas com esse exato perfil, mas isso não desmerece em nada o talento de Rodrigo, que tem como destaque um domínio vocal impressionante e excelentes interpretações. De vários hits lançados este ano, “drivers license” segue sendo a mais interessante música dela, com sua carga emotiva no máximo.


23
Chlöe – “Have Mercy”

Primeiro hit solo de Chlöe, “Have Mercy” é um incrível cartão de visitas para uma artista que é tida como a sucessora natural de Beyoncé. A faixa, que tornou-se viral no TikTok, é uma mistura poderosa de R&B e trap com uma letra sexy e cheia de confiança.


22
Wizkid part. Tems – “Essence”

Primeira música de um artista nigeriano a alcançar o Hot 100 da Billboard, “Essence” chamou atenção para a originalidade do afropop atualmente. A poderosa interpretação de Tems e Wizkid, a química entre os dois, e a levada cadenciada e sexy levam o ouvinte a um prazer instantâneo. O hit traz ainda referências de pop e R&B sem perder sua identidade africana.


21
Don L part. Mateus Fazeno Rock- “vila rica”

O rapper Don L segue discutindo as raízes do Brasil a partir da sua história de violência na segunda parte do seu projeto Roteiro Para Aïnouz. “vila rica” aponta suas rimas diretamente para as histórias revolucionárias dos que lutaram contra o sistema desde o período colonial. “​Saquear engenhos no caminho ​/ Matar os soldados do rei gringo ​/ E nunca poupar um sertanista / É disso que eu chamo cobrar o quinto“, diz a letra, mais direta impossível.


20
Arooj Aftab – “Mohabbat”

Nascida no Paquistão e atualmente residente no Brooklyn, nos EUA, Arooj Aftab chamou atenção para o seu disco repleto de referências da música paquistanesa, porém com um verniz pop que utiliza elementos do jazz e do folk, além de um vocal límpido e muito bonito. O resultado é uma música que soa bastante universal, como essa “Mogabbat”, com sua atmosfera melancólica.


19
Billie Eilish – “Happier Than Ever”

Billie Eilish retornou este ano decidida a mostrar que é uma popstar diferente. Subverteu as expectativas criadas para si mesma após a explosão de popularidade do seu disco de estreia. Fez um trabalho cheio de nuances onde experimenta diferentes possibilidades de sua voz e com arranjos que fogem do óbvio. Em “Happier Than Ever”, a faixa-título, decidiu explorar o fim de um relacionamento abusivo com uma narrativa sonora que inicia calminha e vai ganhando mais e mais peso até culminar em uma catarse que se assemelha à liberdade vivida após se livrar do boy lixo.


18
Thiago Elniño com Zé Manoel – “Dengo”

Em um disco bastante introspectivo, mas bastante acolhedor, o rapper Thiago Elniño fala de desejos, anseios, alegrias e sobrevivências diárias do povo preto. Cheio de nuances, é um trabalho para ser redescoberto a cada audição. “Dengo”, com participação do pernambucano Zé Manoel, é uma das melhores faixas do trabalho e chama atenção pela levada intimista.

17
Silk Sonic – “Leave The Door Open”

A produção altamente sofisticada de “Leave The Door Open” e a nostalgia instantânea que essa faixa provoca nem de longe são suas qualidades mais chamativas. O melhor dela é mesmo é o fato de contar com os dois principais talentos do R&B estadunidense hoje, Bruno Mars e Anderson .Paak, artistas com interesse genuíno em buscar o melhor do pop sessentista dentro de uma roupagem contemporânea com uma interpretação cheia de otimismo e emotividade. Com isso eles revitalizam uma excelência da música negra no mais alto nível.


16
Kali Uchis – “Telepatía”

Desacreditada pela própria gravadora, que recusava divulgar um disco praticamente todo cantado em espanhol, Kali Uchis provou estar correta em sua visão artística com um dos seus melhores álbuns (e o primeiro dela a ser indicado ao Grammy). “Telepatía” é um delicioso jam de pop e R&B, mas com o toque de personalidade de Uchis, que conecta como ninguém as referências latinas com o apelo mainstream.


15
Djonga com Coyote Beatz – “Easy Money”

Djonga é o rapper mais prolífico do cenário hip hop do Brasil hoje. Não parar de lançar trabalhos ótimos desde que explodiu com Heresia (2017). Depois de passar mensagens poderosas, ele agora mostra sua versatilidade com essa faixa mais descontraída, para descansar a mente, com “Ea$y Money”.


14
Rodrigo Amarante – “Maré”

Em mais um disco solo, Rodrigo Amarante retornou experimentando arranjos mais diretos e menos complexos que seu trabalho anterior. “Maré” entrega uma melodia envolvente com uma interpretação animada do músico. A faixa foi inspirada em um antigo provébio espanhol, “a maré leva o que a vazante traz. “Na música isso vira uma reflexão sobre como o desejo, nossos sonhos e pesadelos, moldam nosso destino, a graça e o terror disso“, disse Amarante no texto de apresentação da faixa.


13
Doja Cat com SZA – “Kiss Me More”

Nenhuma celebridade pop trabalhou tanto quanto Doja Cat este ano. Divulgando o seu melhor trabalho até agora, Planet Her, a artista entregou clipes, lives, apresentações e hits que foi puro entretenimento por meses. Dos inúmeros sucessos, “Kiss Me More” é, talvez, o mais representativo de sua persona artística. Ao lado de SZA, Doja apostou na sua mistura precisa de rap e pop com um aceno ao R&B alternativo.


12
Lana Del Rey – “Chemtrails Over The Country Club”

Depois de um disco catártico e cheio de peso, Norman Fucking Rockwell, Lana Del Rey retorna mais amena e disposta a curtir momentos mais introspectivos neste novo Chemtrails over the country club“. A faixa-título mostra Lana muito segura em uma canção despida de grandes arranjos e toda trabalhada no dedilhados e no vocal. Mininalista e concisa, a artista segue com sua proposta melancólica, agora apostando em letras mais reflexivas.


11
Gaby Amarantos com Alcione, Dona Onete e Elza Soares – “Última Lágrima”

Após anos sem lançar um disco de inéditas, Gaby Amarantos deu mais uma prova da potência criativa que é o Norte do Brasil. Das diversas faixas que apostam em uma mistura de ritmos tradicionais com uma visão futurista do pop, “Última Lágrima” é uma das mais interessantes. Gaby se uniu a um pelotão de puro poder com Alcione, Dona Onete e Elza Soares para trazer uma faixa gostosa sobre fim de um relacionamento.


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Sarah Leal/Divulgação.

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Marina Sena – “Por Supuesto”

Ela foi O NOME do pop brasileiro em 2021, queiram os detratores ou não. Marina Sena faz parte de um interessante movimento de renovação do cenário pop brasileiro, que busca referências em diferentes frentes para compor um panorama bastante original que se distancia das bases mais tradicionais do gênero. “Por Supuesto” tem a sagacidade de uma letra criativa, uma batida viciante com um arranjo cadenciado e uma interpretação vocal cheia de personalidade. Impossível ouvir essa faixa e ficar indiferente.


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Foto: Divulgação.

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Lil Nas X – “MONTERO (CALL ME BY YOUR NAME)”

Lil Nas X já tinha tomado o mundo de assalto no ano passado ao desconstruir com sua presença artística um gênero tão heteronormativo como o rap. No seu primeiro álbum, enfim, ele mostrou-se super à vontade para derrubar de vez as fronteiras estéticas da qual o hip hop se mantinha prisioneiro por décadas. “MONTERO” é seu testamento: um hit abusado que reforça o talento iconoclasta de Nas X sem precisar se levar tão a sério.


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Foto:  Gabriela Schmidt/Divulgação.

08
Duda Beat – “Meu Pisêro”

Nome poderoso do pop brasileiro, Duda Beat entregou tudo com o ótimo Te Amo Lá Fora, lançado este ano. “Meu Pisêro” traz uma mistura gostosa de forró, axé e pitadas de synth-pop para trazer uma letra de pura sofrência de um fim de relacionamento. “Eu já sofri demais / Já chorei / Mas não me entreguei, não / Me segurei / Contra esse amor, que acabou / Comigo de vez“.


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Foto: Roberto Braga.

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BaianaSystem com BNegão – “Reza Forte”

A religiosidade serve como arma importante no embate contra as injustiças neste novo trabalho do BaianaSystem. Ao lado de BNegão, o grupo busca na fé ancestral dos povos afrodescendentes e latinos a força necessária para resistir. A faixa traz uma levada animada e uma produção complexa assinada por Daniel Ganjaman. A música, assinada por Russo Passapusso, SekoBass e BNegão, abre com os versos da Cantata para alagamar (1979): “Primeiro, Nunca Matar/ Segundo, Jamais Ferir/ Terceiro, Estar sempre atento/ Quarto, Sempre se unir/ Quinto, Desobediência às ordens de vossa excelência que podem nos destruir.”


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Foto: Myesha Evon Gardner/Divulgação.

06
Jazmine Sullivan com Anderson .Paak – “Price Tags”

Jazmine Sullivan retornou este ano com um dos trabalhos mais complexos e cheios de nuances do R&B, levando o gênero a um patamar até então pouco explorado. A artista buscou em Heaux Tales trazer uma polifonia de experiências para dar conta das diferentes vivências da mulher negra americana. “Price Tags”, ao lado de Anderson .Paak discute com graça sobre os clichês que envolvem as mulheres cientes de seu próprio poder. Batida hipnótica alinhada a uma das mais potentes interpretações do pop este ano. Para ser lembrada por muito e muito tempo.


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Mdou Moctar – “Afrique Victime”

O músico tuaregue Mdou Moctar (nome artístico do guitarrista do Níger Mahamadou Souleymane) mistura rock psicodélico com sons do norte da África para criar uma sonoridade bastante convidativa e universal. Com solos de guitarra que hipnotizam, Moctar constrói uma canção moderna e animada que traz uma letra engajada contra a exploração do continente africano. “A África é vítima de tantos crimes / Se ficarmos em silêncio será o nosso fim / Por que isso está acontecendo? Qual é a razão por trás disso?“, diz a letra.


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Foto: Caroline Lima/Divulgação.

04
Liniker – “Psiu”

Em sua estreia solo, Liniker retornou com uma proposta mais suingada e pop com “Psiu”. A faixa marca uma nova fase da artista que segue com letras repletas de imagens que fogem de obviedades e com uma poética bastante rica. Uma faixa que nos convida a uma viagem sinuosa – mas tranquila – pontuada por um instrumental cheio de detalhes e uma interpretação delicada, porém bastante forte.


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Wallace Domingues / Divulgação

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Linn da Quebrada part. BADSISTA – “I Míssil”

Ciente das armadilhas que a representatividade impõe, Linn da Quebrada reflete nesta faixa sobre o seu fazer artístico e de sua relação com a indústria musical, com a arte enquanto produto mercadológico. “Divagar mais, divulgar menos”, canta a artista em meio a uma construção complexa que mescla batidas sincopadas e ritmadas que se contrastam com um delicado trompete ao fundo. Entendendo o jogo da indústria, “I Míssil” quer destruir – como um míssil – as etiquetas impostas pelo mercado para que, assim, possamos imaginar novas e livres possibilidades.


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Caetano Veloso – “Anjos Tronchos”

Em seu novo disco, Meu Côco, Caetano Veloso nos tira da apatia e coloca à mesa uma proposta bastante assertiva de embate contra o obscurantismo. É um trabalho que enxerga na música brasileira – e na arte como um todo – uma força de resistência. O trabalho é muito pontuado pelo samba, o que se distancia um pouco da sua proposta roqueira abraçada nos três discos anteriores. “Anjos Tronchos”, curiosamente, ainda se insere nessa pegada rocker e soturna, mas já aponta caminhos para uma proposta mais animada e popular, como a aparição repentina de um triângulo de forró no meio da música. A letra discute as questões contemporâneas dos nossos grilhões digitais e do poder das Big Techs no mundo hoje. O poder das grandes corporações a partir dos algoritmos que regem nossa vida hoje são citados no trecho “anjos tronchos do Vale do Silício”, enquanto que a extrema direita beneficiada pelas redes sociais aparece no verso “palhaços líderes brotaram macabros”, uma referência ao ex-presidente Donald Trump e Jair Bolsonaro, duas figuras ligadas à proliferação das fake news na web. Caetano ainda cita outros fenômenos online como os nudes e os comportamentos tóxicos dos usuários (“um post vil poderá matar”), o vício em redes sociais, bem como traz um aceno às possibilidades criativas trazidas pela internet, a exemplo de Billie Eilish, que construiu uma carreira de popstar; e a Primavera Árabe, o mais célebre levante revolucionário que começou como uma articulação online.


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Foto: Pablo Saborido/Divulgação.

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Juçara Marçal – “Crash”

Indo de encontro à calmaria do pop, Juçara Marçal se apropria de cacofonias, colagens e arranjos secos e desconstruídos para compor “Crash”, uma faixa que responde com um embate de frente, com ira e coragem. É quase um ataque-surpresa, um grito colérico que parece representar o cansaço de tantas injustiças e absurdos no Brasil de 2021. A música traz versos do rapper Ogi e produção de Kiko Dinucci, que utilizou diferentes samplers e sintetizadores para criar uma atmosfera punk em toda a faixa. A música traz Juçara se arriscando numa proposta que se equilibra entre o rap e o rock.  “Eu faço tudo para não entrar numa guerra / Mas, se entrar, não vou parar de guerrear / Ninguém mandou você vir me aperrear / Eu vou te madeirar”, canta Juçara Marçal em um dos versos mais potentes da música brasileira este ano.

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