Bate-papo com Alice Caymmi: “O papel do artista é absolutamente político”

Artista se apresenta no Recife dentro do projeto Seis e Meia com o show Imaculada, com o repertório de seu quinto álbum

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Disco traz abordagem pop e visceral. (Foto: Hick Duarte/Divulgação).

“O papel do artista é absolutamente político”, declara a cantora e compositora Alice Caymmi. Em ano de eleições, é comum artistas e formadores de opinião posicionarem-se para o público. Artistas buscam expressarem sua ideologia, opinião e posicionamento através das artes cênicas, da literatura e na música não é diferente.

Neta de Dorival Caymmi, filha de Danilo e Simone Caymmi e sobrinha de Nana e Dori Caymmi, Alice apresenta o álbum Imaculada no Teatro do Parque, nesta sexta-feira (5). A apresentação, que ocorre às 18h30, faz parte do Projeto Seis e Meia, que traz shows de artistas de diversos gêneros e estados para o palco, no bairro da Boa Vista, no Recife. O iniciativa foi, nas décadas de 1980 e 1990, uma das atividades que mais movimentaram a cena cultural da cidade.

O artista brasileiro tem em seu DNA o posicionamento político e ideológico. O Brasil tem um histórico de militância da classe artística em épocas de repressão, como a Ditadura Militar, onde alguns expoentes como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil precisaram exilar-se no estrangeiro, frente à censura sofrida por sua arte e sua opinião. Em tempos de polarização política, Caymmi tem se posicionado a favor da democracia. “Eu nunca vou deixar de atuar politicamente e viver a arte dessa forma. Estou aqui também pra trazer amparo e afeto”, revela.

Imaculada é o título do show e também o quinto álbum lançado pela artista. Do repertório, fazem parte as canções “Sentimentos”, “Ninfomaníaca” e “Todas as Noites”. “Eu espero sempre uma recepção maravilhosa e também sempre descobrir algo novo sobre Recife como acontece todas as vezes que vou” afirmou.

Em dez anos, a cantora encarnou diversas personalidades, em cada um dos seus álbuns: Alice Caymmi, 2012, Rainha dos Raios, 2014, Alice, 2018, Electra, 2019, além de Imaculada, 2021. A artista prepara um novo trabalho intitulado Alice 10 anos- ao vivo, com 14 faixas para celebrar uma década de carreira. As gravações, produzidas pela própria Alice Caymmi, chegam acompanhadas por performances dirigidas por Hick Duarte. A expectativa é de que o repertório apresente as principais músicas da artista.

Nesta entrevista para O Grito!, a artista fala de diversos temas que deságuam num lugar só, o seu lugar: a música. Confira:

Aos 32 anos, você chega em 2022 aos dez anos de carreira. Nesse período como cantora e compositora, quem foi a Alice que descobriu na intimidade?

Eu descobri muita coisa ainda mais na pandemia. Olhei muito pra dentro e experienciei a solitude de uma forma espiritual e pude compor de jeitos diferentes.

O público será contemplado com um material especial em comemoração a uma década da sua carreira. O que pode adiantar desse novo trabalho?

Tem muita coisa da minha trajetória além de bastante coisa do último lançamento “Imaculada”.

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Alice Caymmi prepara novo álbum (Foto: Divulgação)

O isolamento social, impulsionado pela pandemia, foi para muita gente um espaço e tempo de reflexão e religação. De que forma Imaculada, o repertório da sua apresentação no Recife, e seu trabalho que será lançado em breve, foram afetados pela pandemia?

Como eu disse, a pandemia me trouxe uma solitude espiritual e daí surgiram as canções de Imaculada. Que traz esse nome pela sensação que tive ao olhar pra dentro. Tive uma ligação muito grande com nossa senhora.

Alice, desde o início da sua carreira, você sempre procurou fazer um trabalho  diferente no mercado musical nacional por ser uma artista conceitual. Já nasceu com isso ou era algo que você projetou no futuro?

Os dois. Eu sou assim e eu projetei que fosse assim. Já tive momentos de negação da minha natureza conceitual, mas eu já percebi que jamais vou ser infiel a mim mesma e minha natureza. Eu não sei fazer as coisas pela metade. O signo e o significado sempre estão lá.

Concorda que em mercados como o norte-americano e europeu, um artista conceitual consegue ter um raio de atuação artística do modelo que encontramos aqui no país?

O artista conceitual não é muito valorizado no Brasil. Lá fora tem mais espaço. Mas também tem mais dinheiro. E com dinheiro a cultura prospera.

Como tem acompanhado a campanha eleitoral deste ano? Você acha que o papel dos artistas é de resistência, mas também despertar esperança?

O papel do artista é absolutamente político. Sempre foi, sempre será. Eu nunca vou deixar de atuar politicamente e viver a arte dessa forma. Estou aqui também pra trazer amparo e afeto.

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Imaculada expõe dores e fragilidades da artista (Foto: divulgação)

As mulheres enfrentam uma disparidade de gênero gigante ainda na música. Apesar disso, houve um avanço nos últimos anos. Como avalia?

O avanço ainda é incipiente. O esvaziamento do feminismo pelo discurso de redes sociais não ajudou em nada na proliferação das práticas feministas propriamente ditas.

Você se apresenta na capital pernambucana neste final de semana no Projeto Seis e Meia. Qual a expectativa para esse retorno ao Recife?

Eu espero sempre uma recepção maravilhosa e também sempre descobrir algo novo sobre Recife como acontece todas as vezes que vou.

Serviço:
Projeto Seis e Meia no Parque, com Alice Caymmi e Os Terráqueos
Sexta-feira (5), às 18h30
Teatro do Parque – Rua do Hospício, 81, Boa Vista – Recife
Ingressos à venda pela internet, a R$ 50 (meia), R$ 60 (social ) e R$ 100