Carnaval 2012: Quanta Ladeira tira onda com Whitney, Wando e “homenageia” Luiz Gonzaga

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Músicos na edição do ano passado (Foto: Rafaella Soares/Revista O Grito!)

Por Rafaella Soares
Do Cais da Alfândega

Da informalidade surgiu uma das atrações mais disputadas da programação do Rec Beat, e foi com o caráter original que o Quanta Ladeira fez sua apresentação em 2012, dentro da programação oficial do Festival, neste domingo (19), no Cais da Alfândega. Firme e forte, com data fixa no calendário da cidade, o coletivo que reúne alguns dos músicos mais conhecidos da cena musical do Recife ameaçou um propagado “último ano” mais uma vez, o que sabemos, faz parte do mis en scène de quem não quer ter a responsabilidade burocrática de ser obrigado a fazer uma outra edição no ano seguinte. E, de novo, o Quanta trouxe o maior público do festival.

Nada disso importa, no entanto, quando se juntam no palco nomes como Lula Queiroga, Silvério Pessoa, Bráulio Tavares, Zé da Flauta, China, Chico César, Pitty, Luiza Possi, Jr. Black e os novinhos (para não escapar ao gag local) Tibério Azul e Vitor Araújo. Os músicos se encontraram em clima de gréia total sob os olhos do seu um público fiel, reunido mais uma vez às margens do Rio Capibaribe, para versões nem um pouco reverentes dos eventos cotidianos e da mídia mais comentados no último ano, como a morte de Amy Winehouse (já homenageada anteriormente com uma versão de “Que beijinho doce”, parodiada em “Que pozinho doce / que a Amy tem! / depois que cheirei ele, nunca mais, cheirei de ninguém!”), Whitney Houston, o arrocho nas blitze do governo federal, o recém falecido cantor Wando, Rita Lee (numa versão muito perspicaz de “Jardins da Babilônia”), e as indefectíveis paródias do universo de quem fuma unzinho e dá uns tecos.

Este ano, a concentração começou um pouco mais tarde, por volta das 17h, o que não impediu os seguidores costumazes de lotarem toda a Rua da Madre de Deus desde bem cedo. É incrível como uma iniciativa tão anárquica (o adjetivo aqui é empregado com a maior propriedade possível), que não perdoa totens antigos, nomes sagrados e assuntos polêmicos, congregue tanta gente, ano após ano, sem o processo de divulgação formal que costuma atrair as pessoas.

E é muita gente, não brinque não. Entre as pérolas, a versão de “Construção”, hino do repertório de Chico Buarque, adaptada para trechos como: “Tentou rezar na igreja o mijo eclesiástico / Tentou mijar pra cima, mas não tinha prática / Tentou mijar no muro era um artista plástico / Morreu com o pau na mão de choque anafilático”. Ou a já antológica versão de Luiz Gonzaga, mais sagaz impossível, no ano de seu centenário de nascimento: “Minha vida é cheirar por esse nariz / Quanto mais cheiro, mais fico infeliz”, uma blague com os versos de “A Vida do Retirante”.

Também não faltou os standards: “Pires” (versão de “Beat It”, de Michael Jackson), “Preu comer teu cu, falta uma polegada” (“Meu maracatu pesa uma tonelada” – Nação Zumbi), entre outras. O Quanta é daquelas reuniões que celebram o intuito seminal do Carnaval.