Cobertura: Abril Pro Rock 2013 | Television, Marcelo Jeneci, Siba

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Foto: Paulo Floro/Revista O Grito!
Foto: Paulo Floro/Revista O Grito!
Foto: Paulo Floro/Revista O Grito!

Television foi destaque no APR, em show surreal
Coxinha lançada na plateia não abalou a banda, que tocou clássicos. Primeiro dia também ficou marcado pela falta de novidades e dificuldade de renovação do festival

Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!

O Television chegou ao Abril Pro Rock no Chevrolet Hall no Recife como destaque na escalação, mesmo sem ser o headliner do evento. O grupo novaiorquino, parte da cena roqueira novaiorquina dos anos 1970, fez um show bastante ovacionado por uma parte da plateia ao tocar hits dos três discos do grupo, sobretudo o mais famoso, a estreia Marquee Moon (1977). Mas, a apresentação foi um tanto surreal.

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Primeiro, o show foi bastante curto, se comparado não só às outras atrações que se apresentariam depois, mas também em relação à importância do grupo na história do rock. Eles deixaram de lado clássicos como “See No Evil”, que abre o Marquee Moon e “Friction”, entre outras. Depois, durante um dos inúmeros solos de guitarra, o vocalista Tom Verlaine foi surpreendido por uma coxinha (!) jogada ao palco por uma pessoa da plateia.

Tom Verlaine (Foto: Rafael Passos/Divulgação)
Tom Verlaine (Foto: Rafael Passos/Divulgação)

Como assim uma pessoa no Chevrolet Hall jogou uma coxinha no vocalista?, todos se perguntam. Verlaine delicadamente pegou o brebote do chão e devolveu ao público. E ninguém parou de tocar. Em certo momento, o guitarrista Jimmy Rip encontrou a lançadora de coxinha e a chamou no palco para um revide. Depois, mostrou aos seguranças, que a levaram para fora da casa de shows. Era uma senhora que horas antes divertia o público rodopiando no show de Silva e Tagore.

Excluindo esses momentos bizarros, o Television mostrou que sabe legitimar a importância que conseguiu ao longo dos anos. As faixas foram tocadas com apuro técnico incrível e mostrou que o quarteto está em forma. Em “Marquee Moon”, épico punk de mais de 10 minutos, ainda conseguiram mostrar algum improviso e até mesmo interação entre eles. Isto para uma banda conhecida pela timidez e shows burocráticos, é muita coisa. Verlaine até mesmo falou um discreto “obrigado”, em português.

Fregueses do Brasil, o Television veio diversas vezes ao Brasil, mas esta é a primeira vez no Nordeste. Sua presença no Abril Pro Rock casa bem com a personalidade do festival, que todos os anos costuma trazer algum nome importante da história do rock mundial. Exemplo disso é a vinda do New York Dolls e shows comemorativos do Ratos do Porão, entre outros.

Show da Volver (Foto: Rafael Passos)
Show da Volver (Foto: Rafael Passos)

Móveis usados
Sem Television, o primeiro dia do Abril Pro Rock não teria a relevância que se espera de um festival deste porte. Ainda que todos os nomes escalados estejam em ótimo momento da carreira, a presença deles no Recife já está bastante saturada. É o caso da atração principal da noite, o Móveis Coloniais de Acaju.

Maior nome hoje do rock independente, a banda de Brasília costuma lotar todas as casas de shows em que se apresentam. Seu público é tão fiel que os segue por suas turnês. O retrato de tanta devoção foi o estande do Móveis, bastante movimentado durante toda a noite. Mas, o show não teve novidades que esse público já não tenha visto.

Atualização: como este repórter esqueceu de notar, o show teve sim músicas inéditas. Essas faixas até já são conhecidas entre os fãs mais empenhados, pois foram tocadas em outras apresentações. O show do APR deverá iniciar uma nova fase.

O Móveis esteve no mesmo Abril Pro Rock há quatro anos, e no Recife, no ano passado. Também não há disco novo, além de coletâneas e algumas músicas soltas esporadicamente. Foi o mesmo show frenético que já conhecemos e que mais uma vez empolgou basicamente os fãs.

O mesmo se pode dizer de Marcelo Jeneci e Siba. Jeneci tocou bastante no Recife entre 2011 e 2013. Seu disco Feito Pra Acabar o fez um dos cantores mais celebrados da música pop brasileira nos últimos anos – e Recife é onde se encontra uma das suas maiores legiões de fãs. Mas, o show neste Abril Pro Rock foi pura repetição. Sua última passagem por aqui foi há cerca de um mês no Domingo no Campus, de graça. Ele também já se apresentou no Rec Beat, Baile Perfumado e em várias outras casas de show.

Claro, o show segue com a mesma entrega emocional que conhecemos de Jeneci. É algo tão forte que inspirou até um pedido de casamento (daqueles ajoelhados à moda antiga) durante a faixa “Felicidade”. Outro destaque ficou com a música “O Astronauta”, em que o músico assume os teclados.

Já Siba encerra um ciclo de seu disco Avante, um dos mais elogiados do ano passado. Assim como Jeneci, sua presença na cidade já mostra sinais de saturação, ainda que a apresentação continue tão boa quanto a estreia ao vivo, na Rua da Moeda, em 2012. Siba foi esperto e soltou faixas mais antigas, o que deu um tom nostálgico ao repertório. Mas, o público vibrava mesmo com os hits do último álbum, como “Bravulha e Brilho”, “Canoa Furada”, “Ariana” e “Avante”.

É um show para ser visto, mas para a maioria dos presentes, foi pura repetição.

Aposta tímida
Sobrou para Silva a tarefa de segurar a responsabilidade de ser a grande novidade desta edição. O artista capixaba é considerado uma das revelações do pop independente nacional. Ele tocou basicamente seu disco de estreia, Claridão, que já tem hits como “2012”, “A Visita” e a faixa-título. Com arranjos sofisticados, ele faz um som cheio de sutilezas, que acabou dando certo com a plateia ainda pequena quando ele subiu ao palco (foi o terceiro nome da noite).

O dia ainda teve os pernambucanos Tagore, Babi Jaques e os Sicilianos e Volver. Levando em conta o histórico do Abril Pro Rock, a escalação deste ano não fez jus à importância do festival. Conhecido por antecipar tendências, revelar novos nomes e surpreender o público, este ano o APR trouxe nomes cansados, com pouca inovação e falta de timing. Percebe-se uma tentativa de conversar com um público mais jovem, interessado em novos ídolos como Marcelo Jeneci. Mas, é preciso retomar a ousadia, uma das marcas do passado do evento.

Este sábado, o festival continua com as bandas de rock pesado. Uma das mais aguardadas é o Dead Kennedys, uma das mais importantes do hardcore mundial. O dia ainda terá Vocífera, Kriver, Kataphero (RN), Fang (EUA), DFC (DF), Devotos, Krisiun (RS), Sodom (ALE) e André Matos (SP).