Cobertura Abril Pro Rock 2018: O metal merece um festival como o APR

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A Asomvel fez um dos shows mais aguardados este ano. (Foto: Jonatan Oliveira/OGrito!).

Tradicional festival roqueiro do Recife celebrou a cultura headbanger, mas também se mostrou uma vitrine para a renovação do gênero

Fotos por Jonatan Oliveira para a Revista O Grito!

Seguidores fiéis do metal não podem reclamar da 26ª edição do Abril Pro Rock (APR), que aconteceu nessa sexta (27) e sábado (28), no Baile Perfumado, no Recife. A diversidade dos estilos e das bandas que se apresentaram nas noites da sexta e do sábado, no Baile Perfumado, contagiou a galera headbanger. Ela também consolida a escolha do produtor Paulo André em dar mais espaço a um segmento musical para o qual deve-se creditar a ele, sobretudo, o mergulho fundo no rock pesado, mantendo acesa a chama inflamada nos anos 1970 por bandas como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabath.

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Thrash metal, speed metal, death metal, hard core, heavy metal em clima medieval e até rock psicodélico foram alguns dos gêneros e tribos que dividiram os dois palcos instalados no Baile Perfumado. Na sexta, o público foi modesto e clima acabou ficando meio morno. O melhor show da noite e o mais concorrido foi, sem dúvida, o do veterano Richie Ramone, ex-baterista da lendária banda de punk rock Ramones. Ele participou de três álbuns da banda e era também vocalista e compositor do Ramones, incluindo o hit “Somebody Put Something in My Drink”.

Richie e seu grupo está em turnê pela América do Sul e apresentou no APR, entre outras canções, hits como “Hei Ho, Let’s Go”, sucesso do Ramones, músicas do seu disco mais recente Cellophane, lançado em agosto do ano passado. Um dos destaques da banda que o acompanha é a guitarrista baixo e vocal inglesa Clare Misstake. Ela tem uma banda chamada NOIZEE e na apresentação da sexta, no Baile Perfumado, sua forte energia, aliada ao peso de Richie Ramone, foi responsável pelos momentos mais eletrizantes da noite.

As bandas Asomvel, de Liverpool (Inglaterra) e Supersuckers (EUA) também fizeram apresentações instigadas, mas sem grandes novidades. Os americanos se autoproclamam a “maior banda de rock’n’roll do mundo” e a mistura de rock, country e grunge feita por eles funciona, mas não passa disso. Já o speed metal dos ingleses pareceu mais convincente. A Asomvel está na estrada desde 1993 e sua sonoridade é sempre comparada ao da banda Motorhead. Ela se reinventou depois da morte de seu líder Jay-Jay Winter, em 2010, tendo lançado dois álbuns. O show deles no APR mostrou um grupo que não está preocupado em fazer algo novo, mas tocar o que gosta.

Ainda na sexta, uma boa surpresa foi a banda 70mg, de Caruaru, com seu rock psicodélico misturado com a música tradicional do Nordeste e fortes referências à música pernambucana dos anos 1970, sobretudo Lula Côrtes, Zé Ramalho e Marconi Notaro. O grupo tem sete integrantes e uma boa performance de palco, usa instrumentos regionais e investe num visual colorido e bem engraçado. Entre as músicas apresentadas, destaque para a releitura de Fidelidade, de Marconi Notaro, autor do lendário álbum No Sub Reino dos Metazoários.

A Plugins é bem conhecida da cena indie do Recife e há nove anos se mantém fiel ao seu estilo que flerta com o thrash metal e o hardcore com letras que falam de ativismo político e responsabilidade social. A banda nasceu em Tejipió e, apesar do seu rock hardcore, não nega influências do rap e do reggae. O show no APR 2018 mostrou que a banda continua consistente no seu trabalho e contou no palco com uma cancha de um parceiro de muito tempo, o músico Cannibal da banda Devotos.

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Fernando Ribeiro, vocalista da Moonspell: inspiração no trágico ano de 1775. (Foto: Jonatan Oliveira).

Metal sombrio

No sábado, a melhor atração do APR foi a banda portuguesa de heavy metal Moonspell. O grupo formado em 1992 tem como líder, o vocalista Fernando Ribeiro. A Moonspell começou a carreira seguindo o estilo black metal, atravessou uma fase experimental eletrônica e, em 2017, lançou 1755, seu décimo segundo álbum. O novo trabalho é um disco conceitual, cantado em português e tem como mote o terremoto que devastou Lisboa no século 18. Esse clima sombrio e angustiante foi mostrado em toda sua intensidade no show apresentado pela banda, permeado por hits antigos e músicas do novo álbum. Ele se traduziu em riffs pesados, orquestração épica e vocais vibrantes.

As bandas paulistas Armored Dawn e Noturnall também realizaram apresentações empolgantes, fazendo a festa dos que gostam de agitar as longas cabeleiras e dos que curtem a tradicional roda formada por quem tem fôlego para encarar cotoveladas e joelhadas enquanto dança. A banda tem apenas quatro anos de formada, mas é bem conhecida internacionalmente e eletrizou o público, por sinal, bem maior que o da sexta. O metal progressivo da Noturnall também foi muito ovacionado. Fundada por ex-integrantes da banda Shaman, ela está com uma nova formação e um dos convidados do vocalista Thiago Biachi para o show do APR, foi o cantor Alírio Netto, que começou sua carreira na ópera rock Jesus Cristo Superstar.

A noite do metal foi encerrada com a banda americana Immolation. Seus hits antirreligião na voz gutural do vocalista e baixista Ross Dolan acompanhados de riffs dissonantes ecoaram pelo Baile Perfumado, mostrando a força de um dos grupos de death metal mais cultuados da atualidade. O sábado teve também show da banda Uganga, que transita entre o thrash metal e o hardcore, e a histórica banda pernambucana Decomposed God, um dos expoentes do death metal nacional.

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