Janela de Cinema 2014: Permanência, com Irandhir Santos, traz a dor de se lembrar

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O diretor Leonardo Lacca e seu avó no São Luiz. (Victor Jucá/Divulgação).
Irandhir em "Permanência". (Foto: Divulgação).
Irandhir em “Permanência”. (Foto: Divulgação).

Entre os longas metragens pernambucanos em exibição no Janela Internacional de Cinema, curiosamente, três deles são desdobramentos de curtas realizados pelos seus diretores há um certo tempo. A História da Eternidade, de Camilo Cavalcanti, tem uma versão curta em 35 mm com duração de 10 minutos, lançada em 2003; Brasil S/A, de Marcelo Pedroso, tem o mesmo plot do filme Em Trânsito, cuja estreia foi na edição do Janela no ano passado, de onde saiu premiado como Melhor Curta Brasileiro.

E por último Permanência, de Leonardo Lacca, um prolongamento do seu curta Décimo Segundo, realizado em 2007, uma história que fala de como os sentimentos são ao mesmo tempo permanentes e efêmeros.

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O filme de Lacca participou recentemente da Mostra Première Brasil, do Festival do Rio e ontem à noite foi apresentado no cinema São Luiz, integrando a mostra especial de longas da sétima edição do Janela. Permanência coloca na tela mais uma vez os protagonistas do curta – Irandhir Santos e Rita Carelli. Ele é Ivo, um fotógrafo recifense que está em São Paulo, para sua primeira exposição individual em uma galeria, e se hospeda na casa de sua ex-namorada Rita. Ela agora está casada com Mauro, mas o reencontro com Ivo vai provocar um pequeno abalo na relação dos três.

Permanência é um filme sem pressa e marcado por silêncios. Sua narrativa concentra-se nos protagonistas da trama, com a câmera captando, por meio dos enquadramentos cuidadosamente estudados e nos closes dos rostos, o estado de impossibilidade de retorno a um tempo de afetos que está agora apenas na memória do casal. Memória esta que ao permanecer viva provoca um choque no presente onde as tensões e reminiscências dos sentimentos ganham forma e se transmutam em matéria fílmica através das situações vivenciadas por Ivo e Rita.

Ao comentar seu primeiro longa-metragem – rodado em São Paulo, em 2012 -, Lacca diz que sempre teve em mente o conceito budista de impermanência, pois seu filme – como na vida – trata de coisas que ficam e vão embora. Construído a partir de planos que permitem ao espectador apreender os gestos, as sutilezas de um olhar, Permanência concretiza seu intento da imagem ser a principal protagonista. Os diálogos, contudo, tem um papel relevante ao pontuar o mal-estar do reencontro com conversas contidas de meias-palavras. Eles também estabelecem um contraponto divertido na trama quando as conversas, em geral prosaicas, brincam com os clichês usuais dos paulistas em relação a Pernambuco.

O diretor Leonardo Lacca e seu avó no São Luiz. (Victor Jucá/Divulgação).
O diretor Leonardo Lacca e seu avó no São Luiz. (Victor Jucá/Divulgação).

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