Cobertura No Ar Coquetel Molotov 2018: Diversidade e resistência marcam os 15 anos do festival

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Fotos de Jonatan Oliveira. 
Colaborou (texto e produção): Fernando de Albuquerque, Rafaella Soares

O No Ar Coquetel Molotov completou 15 anos nesta edição que aconteceu no sábado (17), no Caxangá Golf Club. Com uma programação bem diversa, o Coquetel reuniu nomes interessantes da nova cena indie pop como Duda Beat, Maria Beraldo, Bule, Jotaerre, Gluetrip, Mestre Anderson Miguel, além de destacar ainda mais o sucesso de MC Troia e Heavy Baile como legítimos representantes da música periférica e inovadora.

O evento reafirmou que é hoje o espaço que melhor compreendeu as evoluções do cenário musical e artístico no Brasil. Fundado em um nicho em ebulição que era o indie-rock do início dos anos 2000, o No Ar colocou o público e bandas locais em contato com cenas musicais emergentes de países como Suécia, além de trazer medalhões do gênero, de Teenage Fanclub e Deerhoof, entre outros. Com o passar dos anos, o evento começou a dar espaço para transformações que iam acontecendo na indústria. Hoje, com funk, pop, rock e eletrônica, o No Ar hoje percebe que as interseções das tribos estão mais fluidas. Foi massa ver o público que foi ver Djonga curtindo Troia, que aconteceu logo depois.

Outro ponto a favor do No Ar, e que o torna tão especial, é sua capacidade de construir o melhor mundo possível para seu público. Ali cada detalhe se faz presente para atender às demandas sociais necessárias para que todos se divirtam igual. Esse espaço de conforto e liberdade vem sendo trabalhado há diversas edições e ficou ainda mais evidente desde que o festival passou a acontecer no Caxangá Golf Club. Passarelas acessíveis, parceria com o Women Friendly para coibir assédio de mulheres, treinamento de profissionais e o fato de trazer mais representatividade em sua equipe (transexuais, mulheres, negros, etc), tudo isso contribui para um clima prazeroso nas quase 12 horas de evento.

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A banda Bule apresentou o disco de estreia.

Novos e novíssimos nomes

O Palco Aeso, desta vez unido ao Som da Rural, mais uma vez reuniu nomes mais recentes da cena independente. Sendo que duas bandas já meio veteranas fizeram seus retornos neste palco, A Banda de Joseph Tourton e Anjo Gabriel. A primeira trouxe o seu novo disco homônimo e mostrou que possui uma base fiel de fãs. Já a Anjo Gabriel fez seu rock psicodélico como uma boa recepção de boas vindas de quem começava a chegar ao No Ar.

O espaço também serviu para apresentar para mais pessoas nomes que valem a pena a aposta na cena indie local, a Bule, que acaba de lançar o disco de estreia e a Guma, também com debut na praça. Mas os pontos altos daqui foi a Gluetrip, pessoal de João Pessoa que transita em um som viajado que mistura rock e eletrônica. Com um som encorpado e boa presença de palco, talvez pudessem ganhar um palco maior.

A Aqualtune, produtora local de hip hop, reuniu um time de rappers e poetisas para fazer uma performance coletiva que tratou de temas urgentes no país, como o assassinato da população negra e jovem, a misoginia e a perda de direitos adquiridos. Bell Puã (do Slam das Minas), o coletivo 808 Crew, Negrita MC e Adelaide Santos foram alguns dos nomes que passaram por lá.

As melhores debutantes

O No Ar mostrou que sabe fazer um baile de debutantes de arromba em seus 15 anos. O palco Natura Musical reuniu uma divertida batalha de vogue e um desfile de debutantes com a presença de drag queens, drag kings, performers e dançarinos que divertiram o público perto da meia-noite.

Antes teve Duda Beat com seu pop romântico de sofrência. A cantora apresentou o disco Sinto Muito, um dos melhores trabalhos do ano. Com hits como “Bixinho” e “Bédi Beat”, ela reuniu um grande público que chegou cedo para vê-la. Outros destaques daqui foram trabalhos que primam pela experimentação, mas que reúnem carisma para segurar um show empolgante, caso da multiinstrumentista Maria Beraldo e o francês Barbagallo.

A noite trouxe ainda Jotaerre e sua guitarra dançante e Luedji Luna, que reuniu o maior público do Palco Natura e deu indícios de que deverá estourar no pop nacional de vez a partir daqui.

Troia é rei

No palco principal deu para ver bem a proposta do festival de reunir destaques da música atual sem distinção de gênero. O nosso pop genuíno foi bem representado por MC Troia que fez um show que foi pura explosão do início ao fim, com suas batidas ressoando em cada canto do Caxangá. Foi tão intenso que terminou com um monte de gente no palco quase sem uma distinção clara entre o que era público e o que era atração.

Seu carisma é hoje algo que o coloca um patamar acima do brega pop que bomba no Nordeste. “É Troia, carai”, é bem auto-explicativo para o tamanho que se tornou dentro do pop nacional. Sua música agrega elementos muito característico do brega de bases eletrônicas (tecnobrega), mas tem sabores locais que o coloca com uma assinatura muito própria.

O Heavy Baile, que encerrou o festival, fez o mesmo com seu trabalho que trafega entre o rap, pop, funk e dance. Eles fizeram um show longo que reuniu os maiores hits do grupo além de fazer um resgate de clássicos do funk carioca.

A noite ainda teve o rapper Djonga, que fez um show com um flow direto tratando de temas que ainda nos engasga a garganta, a exemplo da ascensão da extrema-direita. Com diversos discursos entre suas faixas, Djonga proporcionou à plateia tanto uma catarse quanto forças para resistir. Ele baseou o show com faixas de seu novo disco, O Menino Que Queria Ser Deus, mas também trouxe faixas de Heresia, do ano passado, além do novo single, “Música da Mãe”.

O palco trouxe ainda Anelis Assumpção, que apresentou o ótimo Taurina, e Mestre Anderson Miguel, cantor que propõe o intercâmbio da cultura popular, sobretudo do maracatu rural, com uma produção moderna e pop.

O No Ar de 15 anos mostra que tem fôlego para seguir como o mais inovador dos festivais brasileiros e um espaço de experimentações de todo tipo.

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O público do festival: melhor espaço possível.