Cobertura Rec-Beat 2018: Johnny Hooker renascido, dono do Carnaval

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Vocês estão prontos para renascer comigo?, perguntou Johnny Hooker no show que encerrou a penúltima noite do Rec-Beat, no Cais da Alfândega, no Recife Antigo. Aquela noite, antes mesmo do músico subir ao palco, já tinha uma atmosfera eletrizada que indicava uma apresentação apoteótica, com plateia lotada. Foi o maior público deste ano do festival até então. O entorno do polo estava tomado de gente que aguardava pelo show desde o início da noite.

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Johnny Hooker apresentou seu novo disco Coração, lançado ano passado, onde ele experimenta outros ritmos e sonoridades à sua já conhecida interpretação bastante emotiva. Afoxé, axé, pop, brega, todos os gêneros se fazem presentes nesse novo trabalho de Hooker, que chega após o sucesso de Eu Vou Fazer uma Macumba Pra te Amarrar, Maldito. A última vez que Hooker esteve no Rec-Beat foi para apresentar esse último disco e, desde então, sua presença tem sido a mais pedida do público todos os anos.

Para quem acompanha Johnny Hooker desde os tempos do Candeia Rock City, como eu, a evolução é gigante. Esse seu show do Rec-Beat prova que ele é hoje um dos artistas mais carismáticos no Brasil hoje, capaz de envolver público com seus sentimentos como um maestro. Mesclando altivez de quem chega para dominar o palco com muito poder e sedução, ele também se mostrou bastante vulnerável. Contou sobre como lidou com uma forte depressão no ano passado. “Foram graças a todos vocês que eu consegui superar tudo isso, muito obrigado”, disse, bastante emocionado.

Foi emotivo também ao falar do Recife, da resistência do Rec-Beat em meio ao Carnaval e de política. Com a música “Flutua” ao fundo ele fez um discurso de força para lidar com as forças reaças. Alternando músicas de seus dois discos, Hooker ainda fez um baile de frevo que empolgou o público em meio à chuva que começava a engrossar. Com três trocas de figurino, repertório com ritmo e clímax e uma proximidade com seu público como poucos músicos hoje, Hooker fez o show de sua vida. É o dono daquele palco, do Carnaval. Interessante ver esse renascimento dele em um espaço que o consagrou e que possibilita uma troca tão intensa.

A noite teve ainda Xênia França, que chegou como uma deusa, explorando uma presença de palco forte e um figurino lindo que destacava seu cabelo que a fazia parecer uma amazona negra poderosa. Já começou abrindo com “Por Que Me Chamas?”, o hit de seu disco solo, Xênia, do ano passado.

Parte da banda Aláfia, Xênia é parte da renovação do pop brasileiro, trazendo referências da afrodiáspora, discutindo temas urgentes do mundo hoje, ao mesmo tempo em que inovam nas batidas com um olhar menos ortodoxo para a relação entre os diferentes ritmos. No seu show tem elementos de hip hop, pop, rock, funk e samba. Mesmo que não a conhecia saiu dali com a certeza de ter visto uma das novas estrelas do pop BR.

Esse dia mega-lotado do Rec-Beat trouxe ainda o trio argentino Fémina, que fez um show com muito papo com a plateia e João do Pife, que mostrou como as tradições sonoras são nosso maior tesouro e nosso pop legítimo. Destaque também para a Carne Doce, com sua base enorme de fãs, que cantaram todas as músicas do grupo, cheias de vigor e temas feministas e sociais. Foi um dia de muita conexão no Rec-Beat, daqueles para nunca esquecer.

Fotos: Kelvin Andrad/Máquina3