Cobertura Rec-Beat 2019: Shevchenko e Elloco e a vitória merecida do brega-funk

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Shevchenko e Elloco fizeram show histórico na primeira noite do Rec-Beat 2019 (Foto: Hannah Carvalho/Divulgação)

A abertura do Festival Rec-Beat 2019 celebrou variados tipos de som que fizeram o Cais da Alfândega, no Bairro do Recife, vibrar em diferentes sintonias, criando uma conexão entre as pessoas, entre o público e a música, neste sábado (2). Na primeira noite do evento, que segue até a próxima terça-feira (5), os ídolos Shevchenko e Elloco esbanjaram carisma e fez o público dançar ao final de uma noite eclética, que teve atrações como a norte-americana The Space Lady e o grupo pernambucano Radiola Serra Alta.

A 24ª edição do Rec-Beat foi aberta com Hélder Aragão, o DJ Dolores (sergipano, mas radicado em Pernambuco), que começou a tocar com pouca plateia, mas que, aos poucos, ia ocupando o palco montado às margens do Rio Capibaribe. Ele fez um show de música eletrônica bastante dançante. Misturou ritmos da música nordestina com batidas eletrônicas, trazendo temas e remixes autorais, sob influências da música eletrônica. GG Albuquerque  e Igor Marques esquentavam o clima nos intervalos entre um show e outro com o projeto Embrazando.

Em seguida, foi a vez da norte-americana Space Lady, um dos principais ícones da música eletrônica mundial. No repertório, ela trouxe composições próprias, incluindo “Synthesize Me” e “The Ballad of Captain Jack”, e versões inusitadas de “Major Tom”, “Ghost Riders in the Sky” e “Starman”, sempre acompanhada do teclado Casio MT-40. Sua performance, porém, foi prejudicada por problemas técnicos, o que fez seu show atrasar por longos minutos logo na abertura.

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A norte-americana The Space Lady levou psicodelia e eletrônica ao palco. (Hannah Carvalho).

Destaque de momento de instiga da noite também para Radiola Serra Alta. Inspirados na cultura popular de tradição secular, os brincantes do município de Triunfo misturam música eletrônica com os ritmos nordestinos. Trajados de caretas, figuras carnavalescas desta cidade sertaneja, eles utilizaram performances ao vivo, sempre em interação com a plateia.

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A chuva caiu algumas vezes ao longo da noite, mas não foi o suficiente para afastar a plateia. Afinal, estavam todos ansiosos para assistir à apresentação da dupla Shevchenko e Elloco. O show da dupla responsável pelo hit Gera Bactéria e outros sucessos foi carregado por uma energia eletrizante, colocando todo mundo para dançar até o chão com o movimento bregafunk no Carnaval do Recife. Eles também trouxeram ao palco o grupo conhecido como Os Lokos do Passinho.

O bregafunk chega para valorizar um gênero musical que movimenta a economia cultural nas periferias da Região Metropolitana do Recife. A presença deles dá continuidade ao fenômeno de MCs do gênero em festivais alternativos com Tocha no Rec Beat (2018), Troia no Coquetel Molotov (2018) e Dadá Boladão no Guaiamum Treloso Rural (2019).

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Inspirados nos caretas de Triunfo, a Radiola Serra Alta levou sua música eletrônica regional pro Rec-Beat. (Foto: Hannah Carvalho/Divulgação)

O brega foi reconhecido por uma lei estadual como expressão cultural de Pernambuco em 2017 e, após dois anos, ainda busca ocupar espaço considerável na grade da folia de momo da capital pernambucana. Há, inclusive, movimentos de reconhecimento da música fora do Estado. Festivais de renome já inserem o brega na sua curadoria e, por aqui, eventos de grande porte realizam esse movimento. O gênero, no entanto, segue à margem dos grandes eventos, como a programação oficial do Carnaval do Recife.

Por onde se circula em Olinda e no Recife tocam-se os sucessos de Shevchenko e Elloco no Carnaval. “É a periferia ocupando o Rec-Beat!”, bradou Elloco ao subir ao palco, com reciprocidade do público, que gritava ensandecido. A cada música, ele elencava os bairros do subúrbio do Grande Recife: “Tem gente aí de Maranguape, Ibura, Ipsep…?” Tudo isso com sucessos como “Gera Bactéria” e “Tome empurradão”. Eles trouxeram ainda outras músicas conhecidas do grande público como “Cerol na Mão”, “Rap do Silva”, “Disso que elas gostam” e “Poc Poc”. A dupla fez o público dançar até não querer mais já na madrugada deste domingo (3). Ao final eles emendaram um trecho de “Noites Traiçoeiras”, de Padre Marcelo Rossi, como uma forma, disseram, de agradecer por tudo o que alcançaram.

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A galera do passinho. (Divulgação).

A dupla de MCs demonstra que a música produzida na periferia vai além dos estereótipos que a relacionam à violência e ao apelo sexual. Serve, como procuram fazer a dupla de artistas, como denúncia de desigualdades sociais e dão voz às insatisfações dos que vivem às margens e, sobretudo, funcionam como forma de ascensão.

No Rec-Beat os artistas ganham destaque trazendo trabalhos que apontam para a inovação da música pop brasileira. A festa segue neste domingo. Acompanhe a nossa cobertura do Carnaval pelo Instagram e Twitter.