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Conto: Porra, cadê o boy?

"Deveria ter escolhido uma fantasia mais confortável. Puta que pariu, o braço tá começando a ficar dormente. Eu tenho que aguentar uns cinco minutos. O boy tá se chegando. Tá meio suspeito."

Quando eu chegar em casa eu vou matar Oscar. Disse que hoje ia esquentar no final da manhã e tá um frio da porra. Nem pra olhar previsão do tempo direito aquela bicha serve. Tenho que pensar numa fantasia nova com mais roupa pra me proteger. Meu Deus, espero que esse vento passe. Tenho que aguentar. Eu aguento, eu aguento. Como é que eu vou pagar a porra do aluguel? Se não conseguir uns 160 paus até domingo tô ferrado. A maquiagem só dá pra mais dois dias. Com esse vento, o povo passa direto, nem olha pra cá. Será que o pessoal do shopping vai ligar hoje? Karina jurou que iam dar uma resposta. Tomara. Tá muito osso essa merda aqui. Finalmente um cristão. Vou dar um sorrisinho. Sempre funciona. Gostou né? Deus lhe pague. Miguel é um filho da puta. Onde é que eu tava com a cabeça pra vir pra cá atrás dele? Dois meses, o cara arranjou outra figura. Foi bem feito pra eu aprender. Tito vivia dizendo deixa de ser besta esse cara vai te ferrar. Paixão é foda. Queria não pensar mais nisso. Por que é que isso fica rodando na minha cabeça? Também, aqui parado como vou esquecer? Era uma trepada tão gostosa. Eu sabia que ele era um desses caras que só pensam nele. Mas não vou dar o braço a torcer e voltar pra Caruaru.  Não é possível que não aconteça uma coisa boa comigo. Vou tomar uns banhos de sal grosso. Oxe! Aquela menina ali! Não é aquela que mora no apartamento do lado de Miguel? Pensou no diabo, ele dá sinal. Ela tá fazendo o que por aqui? Ela me reconheceu, tenho certeza. Vai contar pra ele. Que se foda. Podia deixar umas moedas pelo menos. Porra, o joelho tá doendo de novo. Não adiantou nada a pomada. Como é o nome dela mesmo? Priscila… Camila… Júlia… não, não, Júlia era aquela galega do térreo.  É Priscila mesmo, a gente até fumou um baseado juntos um dia. Será que ela trabalha por aqui? Aleluia. Um ônibus. É da Rectour. Graças. Iansã me ajuda, por favor. E esse cara parado aí? Tá querendo o que? faz um tempo já que ele tá aí. Já me olhou umas três vezes. É tesudo. Fazia lindo. Cara de safado. Tem jeito de quem tem mala boa. Tem perna de jogador de futebol. Parece com aquele boy que mora perto da casa de Gustavo. Esse é mais alto. Bundinha gostosa. Comia. Meu Deus. Queria arranjar um boy pra esquecer Miguel. Mas é assim, quando a gente tá sozinho, na merda, não aparece ninguém, nem que seja só pra trepar. Sou muito idiota. Ainda fico pensando naquele bosta. Deve estar agora na boa com o branquelo riquinho lá em São Paulo e eu aqui nessa praça imóvel, fodido, sem grana. Esses turistas não vêm pro lado de cá não? Caralho, vou ter que aguentar mais uns quinze minutos. E esse boy de novo olhando pra mim. Tá muito esquisito esse cara parado aí por nada. Mas ele é bonito. Fazia. Tem cara de quem gosta de uma putaria. Amém. Finalmente estão vindo pra cá. Não têm caras de gringo. Puta que pariu! Aqueles fotógrafos de novo. Vão passar meia hora alugando os turistas. Vou aguentar não. Oxe! O boy deu uma risada. Que é que esse cara tá querendo? É pra mim esse okay com a mão? Qual é a desse cara? Esses turistas serão de onde? Têm sotaque de mineiro ou do interior de São Paulo. Melhor. Pra eles tudo é novidade. Vão querer fazer fotos do meu lado. Só espero que não esqueçam de deixar uns trocados na caixinha. O boy tá se chegando. Tá meio suspeito. Porra! Tirou a carteira da bolsa da mulher. Minha senhora, abra o olho, o cara pegou sua carteira. Coitada nem percebeu. O boy continua rondando. Vai aprontar mais. Que guia mais abestalhado. Não tá sacando nada. Opa! O gordinho vai me fotografar. Câmera da porra. Deve ter grana. O boy tá por onde? Tou sacando a desse gordinho, não vai deixar nada. Filho da puta! É assim, quanto mais pinta de bombado, mais pirangueiro. Ah! olha o boy aí. Tá vindo pra perto do gordinho. Caralho, tirou o celular do bolso dele. Hoje não tem nenhuma viatura por aqui. O boy é afoito. Tá olhando pra mim e rindo. Ele sacou que eu vi. Foda-se. Esse gordinho mão de vaca mereceu. Porra que é que eu tou dizendo? Eu não era assim. Vou avisar pra ele. Cadê a porra da viatura que fica parada ali na esquina? Melhor ficar na minha. Esse boy tem cara de bandido. Pode ser violento, me marcar e me pegar depois. E eu não posso perder essa boquinha. Sem isso aqui eu vou me foder. Finalmente uma turista bondosa. Deixou uma nota e não é de dois reais. Deus proteja essa criatura. Afaste o boy ladrão dela. Kkkkkkkk. Não estou aguentando mais. Meia hora já. Ainda bem que o vento parou. Eu devia ter seguido o conselho daquele site. Devia ter pensado numa fantasia com algum apoio. Vestido e sentado. Agora só quando conseguir juntar um dinheiro. Anjo prateado nunca mais. Jesus amado! Lá vem o boy de novo. O filho da puta é muito gostoso. Uma cara bonita dessa, na beca, ninguém desconfia que é larápio. Tá vindo direto pra mim. O que será que ele quer? Vai pegar minha bolsa. É isso! Celular, dinheiro do aluguel tá tudo dentro. Safado, tá rindo pra mim de novo. Se ele encostar eu pulo em cima dele. Vou gritar. Oxe! O que é que ele tá fazendo? Ai meu Pai! Pegou uma nota de vinte reais na carteira. Porra, vai colocar na caixinha. “Gostei de você com essa tanguinha prateada, tu é bonitinho e gostoso pra caralho. A gente se cruza por aí”.  Puta que pariu! O que é isso? Tá tirando onda com minha cara, só pode.  Vou falar com ele. Caralho! Lá vem outra turista fazer fotos. Puta que pariu, o braço tá começando a ficar dormente. Eu tenho que aguentar uns cinco minutos. “Gerusa, vem cá, tira uma foto minha com o anjo!” Vai mulher tira logo essa foto! “Jéssica! Pede pro anjo olhar pra você!”. Tá bem vou olhar. Quer um risinho também? “Agora Gerusa. Tirou? Obrigado anjinho. Gerusa! me dá cinco reais pro anjo”.  Até que enfim vou me mexer. Porra, cadê o boy? Tava aqui agorinha. Cadê ele? Porra! Que merda! Foi embora.

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