Crítica: A Arte da Visão, de Federico Fellini

FELLINI

Livro resgata espírito sensível de Federico Fellini

Por Alexandre Figueirôa
Editor da Revista O Grito!

Passados quase 20 anos de sua morte, o italiano Federico Fellini é um daqueles cineastas que os amantes da arte cinematográfica nunca poderão deixar de lembrar. Seus filmes, verdadeiros poemas audiovisuais, são reflexos de um espírito sensível e criador cuja capacidade de construir universos narrativos únicos o transformou num dos autores mais respeitados do cinema mundial. E para não esquecermos a magia que emanava de obras como Noites de Cabíria, A Doce Vida, Satyricom, Amarcord, E La Nave Va, entre tantas outras, a Editora Martins Fontes acaba de lançar A Arte da Visão, um pequeno livro com uma entrevista realizada por Godofredo Fofi e Gianni Volpi, em abril de 1993, um pouco depois de Fellini receber um Oscar pelo conjunto de sua obra e poucos meses antes de seu falecimento.

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O livro contém, além da conversa com os dois entrevistadores, fotografias feitas no set de 8 e 1/2 , depoimentos de cineastas americanos sobre o diretor e observações pelo próprio Fellini acerca de seus filmes. Porém, o mais valioso nesta leitura é termos a oportunidade de conhecer melhor o método expressivo-artesanal do diretor em que ele mesmo observa que para construir as narrativas de seus filmes ele precisava inventar um mundo. Se na primeira fase de sua carreira, próxima ao Neorealismo, Fellini ainda estava preso ao cinema como um sistema normativo, a partir de A Doce Vida ele avança para um cinema cada vez mais pessoal onde a representação de suas experiências, das suas memórias se misturam com suas esperanças e emoções pessoais.

Dessa forma a conversa com o diretor gira em torno, sobretudo, do processo de criação do artista. Ao responder as perguntas feitas por Fofi e Volpi, o cineasta mostra uma visão lúcida da sua produção artística onde os filmes por ele realizados emergem como uma realidade física, vital e mágica, ou seja, algo muito maior que um conjunto de regras e procedimentos inerentes a sua própria construção. É também aqui onde ficamos sabendo como o cinema de Fellini encontrou-se com o pensamento do psicanalista Carl Jung e a literatura de Franz Kafka, e de que forma o cineasta expressou sua preocupação com um público cada vez mais desatento e transtornado pelo consumo, a televisão e a publicidade. Ao ler A Arte da Visão, não se espante se isto despertar o desejo de descobrir ou rever os filmes de Fellini. Será um bela oportunidade de voltar a sonhar.

artedavisaoA ARTE DA VISÃO
Federico Felini, em conversa com Godofredo Fofi e Gianni Volpi
[Martins Fontes, 120 páginas, R$ 19,80]

http://www.youtube.com/watch?v=j6vmAARKFNI

Foto: Fellini nas filmagens de Julieta dos Espíritos (Divulgação)