Crítica: Apenas o Fim

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DELICADO E POP
Feito em esquema independente, Apenas O Fim chega em DVD após revelar talento do jovem diretor Matheus Souza e ganhar prêmios no Festival do Rio

Por André Azenha
Colaboração para a Revista O Grito!, em São Paulo

Dois jovens: Adriana (Érika Mader, sobrinha da Malu Mader) e Antônio (Gregório Duviver, de “À Deriva”). Ela: bonita, esperta, provocadora, meio maluquete. Ele: nerd, veste camisa pólo antiga e óculos do avô.

Adriana vai ao encontro de Antônio quando ele está para fazer uma prova na faculdade. O motivo? Ela não quer mais namorar, vai embora para algum lugar fora do país e tem somente uma hora antes de embarcar, a qual decide passar com ele e propõe: “Podemos utilizar esse tempo transando ou discutindo a relação”. Antônio prefere a segunda opção.

A partir daí, o diretor e roteirista Matheus Souza, de apenas 20 anos, em Apenas o Fim, nos presenteia com uma hora e meia de diálogos inteligentes, inúmeras citações pop, e um realismo que ora diverte, ora parte o coração. Afinal, todos já vivemos situações que remetem às vontades de Adriana (ter liberdade, fugir do cotidiano) e Antônio, que se vê perdido diante do rompimento.

Entre as andanças do casal pelas belas paisagens da PUC/RJ, são inseridos alguns flashbacks que mostram os dois, deitados na cama, conversando temas variados: de Tartarugas Ninja a Supernintendo, de Vovó Mafalda a O Senhor dos Anéis.

Realizado por alunos da PUC-RJ, Apenas o Fim surgiu como um trabalho de faculdade para arrancar elogios da crítica, ser premiado pelo público e ganhar a Menção Honrosa no Festival de Cinema do Rio, e, principalmente, cativar toda uma geração que viveu curtindo episódios dos Cavaleiros do Zodíaco, jogando Mario Bros., imaginando a Britney Spears nua e tentando compreender os caminhos e descaminhos do amor.

Matheus Souza, à maneira de Quentim Tarantino, utiliza a obra alheia para criar algo peculiar, que soa novo. Os diálogos remetem a Woody Allen, Domingos de Oliveira, entre outros. As citações pop a Cameron Crowe, Nick Hornby e Juno. E o casal formado por Érika e Gregório poderia muito bem ser substituído por Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças; Jesse (Ethan Hawke) e Celine (July Delp) de Antes do Amanhecer/Antes do Põr-do-Sol (aliás, a caminhada do casal protagonista é herança direta dos filmes de Richard Linklater);  ou ainda pelo casal interpretado por Glen Hansard e Markéta Irglová em Apenas uma Vez.

Ou seja, são pessoas comuns, como eu e você, vivendo algo real, a despedida e a perspectiva do recomeço. Sem os exageros hollywoodianos, sem dramalhão nem personagens caricatos. A conversa entre Adriana e Antônio flui tão naturalmente que temos a impressão que os atores chegaram a improvisar algumas falas.

Apesar da pouca idade para a profissão, Matheus Souza parece ter vivido o dobro, tamanha segurança com a qual ele conduz a trama. Ainda por cima, provou que é possível fazer bom cinema com pouco: o filme custou “meros” R$ 8 mil, valor irrisório para uma produção cinematográfica.

Apenas o Fim é um sopro de juventude no cinema nacional, um belo exemplo para quem acha que os filmes produzidos por aqui só mostram violência, pobreza, nudez. Poderá se encarado como um veículo somente para quem tem vinte e poucos anos. Ledo engano. Relações amorosas são identificadas por todos os públicos. Acima de tudo, o longa é como aquelas receitas feitas por nossas mães e avós, que utilizam ingredientes simples, se apropriam de itens de pratos mais elaborados, para conceberem algo extremamente saboroso.

APENAS O FIM
Matheus Souza
[Brasil, 2009]

NOTA: 9,0