Crítica: Valente, de Brenda Chapman e Mark Andrews

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FORÇA NO CABELÃO
Apesar de divertida, primeira heroína da Pixar não se arrisca fora da zona de conforto das encantadas princesas Disney

Por Paulo Floro

Demorou 20 anos para que a Pixar, o estúdio que deu novo rumo às animações em Hollywood, trouxesse uma protagonista feminina em um filme. A empoderada Merida (dublado por Kelly McDonald no original e aqui no Brasil por Luisa Palomanes) estrela Valente, longa que se vale bastante dessa questão de gênero para cativar o público. No entanto, ela se afasta de propostas originais que a produtora se acostumou em trabalhar para se encaixar no estanque das princesas Disney que sofrem na aceitação de seus destinos.

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Na trama, Merida é uma princesa de um reino com referências escocesas, que vive um frágil equilíbrio entre seus vizinhos. Ela que entra em conflito com a postura de donzela que lhe é imposta: é exímia no arco e flecha, gosta de cavalgar pela floresta, tem atitudes cafuçus, como não ter modos à mesa e outros detalhes não muito dignas da realeza. Sua mãe, Elinor (dublada por Emma Thompson/Mabel Cézar) é um baluarte das tradições e tudo que mais quer é arrumar um pretendente para sua filha.

O problema é que a garota não quer se casar – não por ser contrária às instituições machistas dominantes na aristocracia, mas sim porque ela quer manter-se livre em sua juventude de exploradora. Três jovens herdeiros querem sua mão: os filhos do lorde Dingwall (Robbie Coltrane/Rodrigo Lombardi), do lorde Macguffin (Kevin McKidd/Luciano Szafir) e do lorde Macintosh (Craig Ferguson/ Murilo Rosa), este último uma homenagem descarada e divertida ao computador criado por Steve Jobs. A trama se equilibra entre mostrar conflitos da manutenção das tradições familiares e a relação mãe e filha.

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Em determinado momento da trama, Merida faz um pacto com uma bruxa para impedir seu casamento. Mas, o feitiço não dá muito certo e ela acaba transformando sua mãe em uma ursa gigantesca. Dai em diante, Valente transforma-se em um melodrama que foca o processo de aprendizado que mãe e filha terão que passar para coexistirem pacificamente. Elinor é uma personagem muito interessante, pois carrega motivações que nos acostumamos ver nas vilões da Disney. No entanto, sua interpretação tão humana nos faz torcer por ela.

Já Merida, apesar de todo potencial, é desperdiçada em um papel sem profundidade e com pouquíssimo a dizer. É difícil vê-la com força suficiente para inspirar garotas de sua idade. É mais uma princesa Disney com um arco e flecha (nesse papel, outra heróina teen se saiu melhor: Katniss Everdeen, de Jogos Vorazes). Com tanto alarde, a primeira personagem feminina da Pixar poderia ter sido mais original e saído da zona de conforto, como o estúdio já fez diversas vezes.

Valente, apesar de não estar entre os melhores filmes da Disney/Pixar, tem diversos bons momentos. Um deles é o realismo com que trata os animais. Os ursos mostrados no longa são tão parecidos com os reais que assustaram muitas crianças na cabine de imprensa que os pimpolhos participaram como “consultores”. A tecnologia empregada para tornar ainda mais críveis o movimento corporal e os pelos dos bichos também ajudou a incrível cabeleira de Merida. Nunca um desenho animado trouxe uma sofisticação tão grande como o cabelo da heroína. Em busca desse efeito, dois softwares foram desenvolvidos especialmente para o filme. Cerca de 1500 fios dos cachos de cabelo foram renderizados.

Ainda entre os destaques temos os três irmãos de Merida, que sem falas, fazem referência à pantomima que dominou a comédia nos primórdios de Hollywood. Ainda que não seja uma obra-prima da animação, muitas qualidades podem ser encontradas nos cachos pretensiosos de Valente.

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Valente cartazBrasilVALENTE
Brenda Chapman
[Brave, EUA, 2012]
Com vozes de Emma Thompson, Julie Walters, Craig Ferguson e Luisa Palomanes, Mabel Cézar, Luciano Szafir e Murilo Rosa na versão nacional
Disney/Pixar

Nota: 7,1

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