Crítica: Corto Maltese – A Juventude, de Hugo Pratt

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DO INÍCIO
Publicação de álbum inédito de Corto Maltese retoma antigo desejo de ver obra completa do personagem publicada no Brasil

Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!

Por algum motivo que é difícil compreender, algumas obras clássicas dos quadrinhos tem uma trajetória bem irregular no Brasil. É este o caso de Corto Maltese, considerada uma das séries de HQs mais cultuadas de todos os tempos. Criada por Hugo Pratt em 1967 e traduzida para diversas línguas, fala de um marinheiro maltês da Marinha Mercante que protagoniza diversas aventuras, muitas delas topando com personagens históricos, como Jack London ou Butch Cassidy. Até o cangaceiro Corisco deu as caras na saga, no álbum Sob o Signo de Capricórnio, onde o herói passa grande parte de seu tempo na Bahia.

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Depois de ser publicado em álbuns pela L&PM Editores, Corto Maltese teve um início promissor pela editora Pixel, que abandonou o título, assim como diversos outros quadrinhos que publicava. Agora, a novíssima editora Nemo retoma as histórias e inicia com um álbum comemorativo, Corto Maltese – A Juventude. É uma decisão muita acertada, pois a história pode atrair novos admiradores que não necessariamente conhecem a importância da obra ou referências sobre ela.

O livro foi lançado na Europa em 2003 e teve muita repercussão. Trata-se de um trabalho que consegue unir todos os elementos presentes nas histórias de Pratt para Corto Maltese. Mas, na verdade, a história da HQ é bem mais antiga. Em 1981, o jornal francês Le Matin encomendou a Pratt uma série em quadrinhos para ser publicada durante o ano, uma página por dia, em P&B e uma semanal, colorida. Por desentendimento com o editor, a obra foi interrompida, mas sem prejuízo do entendimento da trama, e mais ainda, sem perder o seu impacto.

A história trata dos bastidores da guerra entre Rússia e Japão na Manchúria em 1905. Corto Maltese tem 17 anos e encontra com o correspondente de guerra e escritor americano Jack London. Outro personagem histórico que ganha importância é Rasputin, revolucionário russo, que já apareceu em outros álbuns de Corto. A edição brasileira segue o mesmo esmero do original, com capa dura, comentário do autor e uma bela introdução com textos de Marco Steiner, colaborador de Hugo Pratt que fala mais sobre a época e o local em que se passa a história.

Mesmo com Corto levando seu nome na capa, os destaques ficam mesmo com London e Rasputin. O próprio Corto só irá aparecer mais perto do fim, ainda assim, como coadjuvante. Pratt consegue trazer toda o sabor das histórias de seu principal personagem sem como colocá-lo como protagonista. É como um teaser. O que nos leva ao velho desejo de ver Corto publicado com a regularidade que merece nas livrarias brasileiras. Fica a torcida para que a editora Nemo siga o mesmo com as demais obras do marinheiro.

Sem títuloCORTO MALTESE – A JUVENTUDE
Hugo Pratt
[Nemo, 96 págs, R$ 45,90]
Tradução de Ana Ban

NOTA: 8,5

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