Crítica – Disco: Fatima Al Qadiri | Asiatisch

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Foto: Divulgação.
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ORIENTE GÉLIDO
Fatima Al Qadiri, nascida em Senegal e criada no Kuwait, desconstrói padrões em disco com tom pós-apocalíptico

Por Paulo Floro

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O trabalho de Fatima Al Qadiri, um dos novos nomes da música eletrônica atual, é uma tapa em que tenta enquadrar qualquer sonoridade ou autor que tenha uma origem além da hegemonia pop do Ocidente. Nascida em Senegal, mas criada no Kuwait, a produtora musical e artista plástica agora baseada em Nova York lançou o álbum de estreia com um trabalho conceitual sobre a Ásia, Asiatisch.

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O disco tem influência de videogames de tiro, ficção científica pós-apocalítica e cultura milenar chinesa. A base da sonoridade é o estilo conhecido como “grime”, que divide características comuns com o dubstep e o bassline, como a influência do hip hop e ragga jamaicano, mas tem uma estrutura mais rígida e pesada, o que combinou com o tom obscuro buscado pela artista.

Fascinada por videogames do estilo de Desert Strike, Fatima chegou a lançar em 2012 um EP com uma trilha sonora imaginária para o game de mesmo nome. O enredo do título mostra a atuação do exército norte-americano na Guerra do Golfo. O conflito tem muito a ver com a trajetória de vida de Fátima, cujos pais foram opositores do ditador Saddam Hussein. Sua música utiliza as referências mais duras do Oriente, em contraponto com o lado mais brilhante e bonito explorado pela produção cultura da indústria cultural do Ocidente.

Fatima, 32 anos, chegou aos EUA aos 18, quando ganhou uma bolsa de estudos. Depois de se formar em linguística, ela se estabeleceu como artista visual e hoje faz parte do grupo GCC, formado por integrantes do mundo árabe.

O novo disco, Asiatisch, imagina uma China futurista gélida e ainda mais opressiva. O álbum abre com uma versão macabra de “Nothing Compares To U”, música de Prince famosa na voz de Sinéad O’Connor, aqui cantada em mandarim. A partir daí todo o álbum é uma desconstrução do imaginário que temos da Ásia, retratado de uma maneira impessoal, desconcertante, mas ao mesmo tempo vibrante pela maneira original com que Fatima destrói os padrões culturais amplamente aceitos.

Na sonoridade o disco vai agradar quem curte artistas que empreendem propostas experimentais na eletrônica, como Burial, Skepta ou ainda Flying Lotus. As faixas “Dragon Tattoo” e “Forbidden City” formam uma trinca imersiva que mostram o quanto Fatima é meticulosa na produção. Já “Shanghai Freeway”, a melhor do disco, é um trabalho incrivelmente complexo de batidas com diferentes níveis que parece a trilha para uma longa cena de suspense sci-fi.

Asiatisch não chega a ser convidativo e precisa de um certo interesse do ouvinte para decodificar tantas referências. Quem estiver disposto a encarar unicamente pelo nível musical, o disco cria incríveis “imagens” auditivas que só um trabalho tão bem produzido conseguiria proporcionar.

homepage_large.42c4b0e3FATIMA AL QADIRI
Asiatisch
[Hyperdub, 2014]

Nota: 8,2

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