Crítica – Disco: Panda Bear | Panda Bear Meets The Grim Reaper

Panda Bear Meets the Grim Reaper
Foto: Divulgação/Domino.
Foto: Divulgação/Domino.

Panda Bear explora psicodelia e o maximalismo em seu disco mais pessoal

Por Paulo Floro

Noah Lennox, um dos membros do Animal Collective, exercita sua estranheza no novo disco de seu projeto solo, o Panda Bear. Com uma carreira coesa e sólida, este novo disco, Panda Bear Meets The Grim Reaper, chega como um cume de um trabalho que sempre se pautou pelo experimental e pela exploração dos recônditos mais difíceis do pop, como o minimalismo, a psicodelia e a world music.

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Enquanto sua estreia, Person Pitch, de 2007, tirava sua genialidade do incrível trabalho de modelar músicas a partir de samplers e retalhos de sons, este novo brinca com os opostos minimalismo e maximalismo, duas vertentes tidas como incompatíveis dentro da música eletrônica. O que Lennox faz aqui é suplantar essa ideia. Com isso ele constrói um trabalho rebuscado, mas preciso. Exagerado, mas limpo em suas ideias.

O carro-chefe que exemplifica bem a proposta do disco é a faixa “Mr. Noah”, lançada ainda no ano passado como um single. Ela começa com grunhidos de animais e depois apresenta uma batida crescente que desemboca em uma profusão de sons psicodélicos que servem de base para o vocal abafado como um eco. Tudo isso parece tanta coisa que poderia gerar uma cacofonia sem uma produção cuidadosa. E Panda Bear consegue orquestrar essa confusão de uma maneira bela e melódica. Lennox trabalhou na produção com seu amigo e colaborador antigo, Sonic Boom, que também gravou o anterior, Tomboy (2011). Boom masterizou o trabalho em Minorca, nas Ilhas Baleares, Espanha.

Em busca de um som mais “vivo” e “orgânico”, Lennox gravou esse seu quinto disco entre 2013 e 2014 em duas cidades portuguesas, Almada e Lisboa, onda mora. Esse tempo de pesquisa serviu também como um momento de reflexão e amadurecimento. E isto fica evidente nas letras, que falam de assuntos pessoais, mas em uma escala universal. “Butcher Baker Candlestick Maker” trata de amizade e dificuldades em compreender as pessoas, enquanto que “Tropic of Cancer” é uma maneira delicada do músico em falar sobre a doença que acometeu o seu pai, em 2004. Já “Boys Latin”, o segundo single, é uma referência ao Boys’ Latin School of Maryland, uma escola preparatória. A faixa é hiper-estruturada, com camadas sobrepostas de sons, batidas matematicamente precisas e um vocal repetitivo cantado de forma cadenciada e cíclica.

Em comum todas essas músicas comentam sobre a passagem do tempo e do valor que damos ao passado e futuro. A ideia de permanência é um dos temas mais trabalhados ao longo do álbum e estão presentes de alguma maneira em todas as faixas. Em “Come To Your Senses”, uma eletrônica dançante, Lennox fala daqueles momentos em que estamos irritados por fazer algo que não gostamos e das vezes em que falhamos. Ela culmina na incrível e já citada “Tropic of Cancer”, canção de melodia triste que está ali para avisar que o fim da existência também tem a ver com continuidade. Com os versos no presente e no futuro, o refrão diz “you can’t get back / you won’t come back”.

Noah Lennox conseguiu reunir todas as confusões, desorientação, dilemas e questões pessoais dentro de uma proposta que não se vende em nenhum momento como uma jornada narcisista ou autorreferente. É um disco poderoso e universal que se insurge na eloquência de sua produção caprichada. Com um estilo bem marcado e uma esquisitice cultivada ao longo de cinco ótimos trabalhos, Panda Bear se mantém como um dos músicos mais relevantes de sua geração.

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Panda Bear Meets the Grim Reaper
[Domino, 2015]
Compre: iTunes, Amazon | Ouça Spotify, Deezer

9.0