Crítica – Disco: Sia | 1000 Forms Of Fear

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Foto: Divulgação.
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Sia traz olhar interessante e menos óbvio do pop

A cantora australiana Sia é um desses casos do pop em que o sucesso demorou a engatar. Aos 38 anos ela só agora conquista espaços onde nomes bem menos criativos e instigantes demoraram quase nada. E olhe que no caso dela, a consagração é merecida. Com um dos maiores hits de 2014, “Chandelier”, o novo disco da cantora é um manifesto de sua visão muito particular do pop comercial.

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Apesar de uma parte de sua audiência apenas ter tomado conhecimento de sua existência neste ano, Sia já é artista calejada do meio. Ela vem colaborando com nomes como Lea Michele, Kylie Minogue, Beyoncé, Katy Perry, Shakira, Jennifer Lopez, Leona Lewis, Britney Spears, Jessie J, entre outros, há anos. Seu trabalho como compositora a fez ficar no mailing de poderosos selos e produtores, o que há deu moral para catapultar seu próprio estrondo nessa indústria.

Como cantora, Sia vem lançando discos de forma independente desde o final dos anos 1990. Em 1997 ela soltou a estreia OnlySee, ainda assinando Sia Furler, que já adiantava seu estilo ácido. Mas praticamente ninguém deu bola. Ela conquistou seus primeiros fãs mesmo com Healing Is Difficult (2001), que chegou a figurar em paradas dance do Reino Unido. Em 2005, Colour The Small One, a colocou no lugar de vozes femininas do indie, ainda que seja seu primeiro trabalho por uma major, a Universal. Com Some People Have Real Problems, o quarto trabalho, já vimos a Sia talhada para ocupar um espaço ainda pouco explorado no saturado cenário pop de cantoras: o da diva irônica.

O hit “The Girl You Lost To Cocaine” dava uma ideia do poderio criativo da cantora. Mostrava um repertório bem maior que a maior parte de suas colegas e colocava a artista em um posto pop menos carregado de obviedade. Então chegamos neste 1000 Forms Of Fear, onde encontramos uma tentativa deliberada em criar músicas que a distanciem do atual panorama, mas ao mesmo tempo não a alienem. É o melhor trabalho da cantora até agora e o único em que conseguiu arregimentar seu talento para um direcionamento pop que seja acessível e esperto ao mesmo tempo.

Esse equilíbrio gerou diversas faixas com potencial para hits, a exemplo de “Fair Game” e “Elastic Heart” (que acabou entrando na trilha de Jogos Vorazes: Em Chamas). Com o disco, Sia trouxe uma vulnerabilidade à música pop de rádio, mas de uma maneira mais autêntica além das baladas lânguidas. Tem também a ironia necessária para expor o exagero que o cancioneiro pop sempre deu aos problemas da adolescência – melodrama de relacionamentos, paixões não-resolvidas, etc. A voz da cantora é outro adendo interessante, adicionando uma boa interpretação para todas as faixas. Ela ainda pode não lotar estádios e ter legiões melindrosas de fãs, mas é uma surpresa interessante para muita gente.

Ainda que não traga o conteúdo disruptivo que o pop precisa, o melhor disco de Sia ainda é o melhor do gênero este ano até agora. [Paulo Floro]

sia-1000-forms-of-fear-album-coverSIA
1000 Forms Of Fear
[RCA, 2014]
Compre o disco

Nota: 8,0

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