Crítica – Disco: Sleater-Kinney | No Cities To Love

Sleater Kinney
Foto: Divulgação/Sub Pop.
Foto: Divulgação/Sub Pop.
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Sleater-Kinney retorna após 10 anos com o mesmo peso apaixonado do rock

Por Paulo Floro

O rock passou por tantas intempéries nos últimos anos que é difícil fazer uma análise do estado do gênero em 2015. No entanto, para o trio Sleater-Kinney ele passou incólume ao teste do tempo. O novo álbum da banda, No Cities To Love, o primeiro em dez anos, traz a força primordial do estilo no que ele tem de mais gutural, impreciso, sujo e exageradamente apaixonado.

O trio formado por Carrie Brownstein, Corin Tucker, and Janet Weiss despiu o rock de todas as experimentações e desvios de percurso que o tentaram elevar para baixá-lo à sujeira costumeira de sempre. Produzido por John Goodmanson (Bikini Kill, Blonde Redhead, Death Cab for Cutie), o álbum preza pelo peso e energia, mas traz uma produção esmerada que conseguiu costurar os vocais nervosos das integrantes com arranjos sofisticados.

O senso de urgência permanece inalterado e remete automaticamente aos discos clássicos da banda, como Call the Doctor (1996) e Dig Me Out (1997). Surgida nos anos 1990, o Sleater-Kinney foi uma das bandas mais importantes do chamado rrriot-girl, movimento que deu voz às mulheres dentro do cenário alternativo norte-americano. Esse empoderamento repercutiu até mesmo em outras searas do pop e teve seu valor musical equiparado à importância política.

O Sleater-Kinney também foi uma das mais importantes bandas feministas do rock a surgir nos anos 1990. Após o disco The Woods (2005) o grupo entrou em um hiato de dez anos após um período de intensa atividade. Nesse tempo, a integrante mais famosa do trio, Carrie Brownstein ficou mais conhecida por seu trabalho como atriz na série de comédia Portlandia ao lado do amigo Fred Armisen (passa aqui no canal pago i-Sat). A baterista Janet Weiss também trabalhou na produção do seriado, além de atuar com seu projeto The Jicks. Já a guitarrista e vocalista Corin Tucker atuou com sua outra banda, a Cadallaca.

O rock também mudou nesses dez anos, passando por um período de intensa experimentação, vide discos como In Rainbows (2007) do Radiohead e a ascensão de grupos como Animal Collective e Arcade Fire. No Cities To Love tem o timing de chegar em uma espécie de ressaca desse período de busca por novos caminhos sonoros. A impressão que dá ao ouvir faixas como “Gimme Love”, “Bury Our Friends” e a faixa-título é que o trio se libertou após anos em um depositório selado onde foram nutridas com peso. Saíram de volta ao mundo do mesmo jeito que entraram, em 2005.

No Cities To Love tem um ar atemporal que o transforma em um dos mais importantes registros roqueiros em muito tempo. E a banda mostra que envelheceu bem ao se manter purista em sua proposta político-musical.

No_Cities_to_Love_coverSLEATER-KINNEY
No Cities To Love
[Sub Pop, 2015]
Compre: iTunes | Ouça: Deezer, Spotify

8,5