Crítica – Disco: Spoon | They Want My Soul

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Foto: Divulgação.
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Spoon mantém consistência com mais um disco conciso e deliciosamente pop

Por Maurício Ângelo
Do Movin’Up

[Recomendado]

Parece fácil cair na armadilha de jogar o Spoon no balaio de bandas hypadas e queridinhas dos críticos mundo afora (no Metacritic, nenhuma banda tem uma média tão alta de avaliação quanto o Spoon na última década). A verdade, no entanto, é que esses caras já tem 20 anos de estrada. Duas décadas em que construíram uma das discografias mais interessantes do pop atual.

Ao contrário de muita gente que estourou já no debut, o Spoon foi lentamente desenvolvendo seu som, suas referências e seu estilo, chegando ao ápice no terceiro disco, Girls Can Tell, de 2001. Nos quatro discos posteriores, tiveram a capacidade e a decência de sempre moldarem novas possibilidades, refinando, distorcendo, experimentando.

They Want My Soul é o retrato perfeito de uma banda tão diversificada. A primeira metade é sintomática em desvendar isso: a abertura com “Rent I Pay” é rock clássico e na medida sem jamais soar datado e como mera emulação, “Inside Out” é um devaneio etéreo-psicodélico, sem dúvida marcando a presença do produtor Dave Fridmann, responsável por participar de muito do que o Flaming Lips e o Mercury Rev fizeram (sem falar em Spaklerhorse, Low, etc).

“Do You”, com o ótimo clipe “surreal” abaixo, é uma gema pop, uma das melhores músicas do ano e uma das coisas mais grudentas e cativantes que o Spoon já fez (parente distante da espetacular “Everything Hits At Once”). Britt Daniel (vocal, guitarra) e Jim Eno (bateria), os dois fundadores, guardam uma sinergia pra lá de fluída e inteligente da qual “Knock Knock Knock” é fruto direto, fresca e memorável, evidenciando o quanto eles conseguem escrever canções incrivelmente pop ao mesmo tempo que de estrutura incomum e harmonias acima da média.

Pra quem tem os alemães do Can como grande influência, é um caminho natural a seguir. Mas um caminho extremamente perigoso, que costuma relevar em coisas insossas cheias de pretensão na mão de gente menos talentosa. As texturas de “Outlier” são ótimo exemplo: muitas bandas atuais tentam fazer esse tipo de som mas o resultado é infinitamente pior que o alcançado aqui.

É a diferença entre realmente ter estofo e repertório e querer ter. A faixa-título é uma daquelas que antes que você perceba, já está cantando junto. Modo geral, They Want My Soul é muito mais orgânico e “maleável” que o antecessor, Transference.

Outro atributo relevante aqui é a concisão: o disco inteiro tem 37 minutos, prova de que não há enrolação e músicas enfiadas apenas para encher a gravação, algo tão comum na maioria das bandas. Nos 4 anos entre um registro e outro, o Spoon conseguiu produzir outra grande obra da sua discografia, sem excessos e deliciosamente pop e variado, de uma banda madura e necessária. Um dos melhores discos do ano, fácil.

spoonSPOON
They Want My Soul
[Loma Vista, 2014]

Nota: 9,0