Crítica – Disco: Swans | To Be Kind

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Foto: Divulgação.
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O amor aos extremos do Swans
Com um disco duplo de mais de duas horas, banda segura a dianteira da vanguarda do rock

Por Paulo Floro

[Recomendado]

Depois de viver uma espécie de ressurreição nos anos 2010, o Swans, banda norte-americana liderada pelo vocalista e guitarrista Michael Gira se tornou um dos grupos de rock mais importantes hoje em atividade. Como comprova este novo trabalho, To Be Kind, eles estão em uma vanguarda do experimentalismo estético e sensorial praticamente isolados do que é feito hoje. Na verdade a proposta aqui passa mais por uma audácia em empreender algo tão monumental do que um talento incomum.

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Com duas horas de duração, o disco consegue envolver o ouvinte em uma tomada angustiada, que caminha para uma catarse em sons pulsantes sobre morte, sexo, drogas, fim dos tempos e amor. Essas emoções estão condensadas em uma espiral de negatividade, é verdade, mas transparece no disco uma proposta de levar o ouvinte aos extremos de tais sentimentos.

Gira é um roqueiro experiente, que conseguiu passar por diversos entendimentos sobre amor, relacionamentos e política desde os anos 1970. Ele começou a carreira com o Circus Mort em 1979 até formar o Swans logo em seguida. O primeiro disco Filth (1983), bastante ligado ao post-punk do período já explorava temas do lado menos bonito da vida. Após a reforma do grupo em 2010 com My Father Will Guide Me up a Rope to the Sky (2010), a banda abraçou o rock experimental como forma de catapultar o legado adquirido ao longo das décadas em um trabalho sofisticado e que traz uma ousadia tanto sonora quanto conceitual. The Seer (2012) também tinha a gana de ser apoteótico, com 119 minutos e participações de Karen O. e Akron/Family.

Esse revivamento deu certo. Com três discos lançados desta nova fase, o Swans reafirma o rock como gênero insolente pela própria natureza e um dos espaços mais propícios a dar vazão a essas inquietações do ser humano. E se “visceral” acabou se tornando um chavão nesses tempos, o Swans solta um disco como To Be Kind para reaver o termo para momentos que lhe façam justiça. Faixa como “She Loves Us”, com seus 17 minutos de pura violência em versos como “Fun fun fun! / Mau mau mau! / Fuck fuck fuck / Your name is fuck”, seguido de um coral de igreja cantando “Aleluia”.

E se o Swans, que sempre foi ligado a momentos de desespero, vem falar de amor, esse amor vai sempre nos extremos. E se relaciona não só ao mais óbvio, como o relacionamento conjugal, mas também em relação a si mesmo e à liberdade. O grande clímax do álbum, “Bring the Sun/Toussaint L’Ouverture” congrega a proposta extrema da banda ao relacionar o amor extremo a uma revolução. “Liberté! Égalité! Fraternité!” grita a banda na música de 34 minutos que é o maior destaque deste trabalho.

Com participações de St. Vincent e Little Annie, o disco tem muitas camadas para serem apreciadas. E com faixas longas de 10 minutos e até mais de meia hora, requer também certa paciência do ouvinte. Ao chegar ao final, percebe-se que foi o tempo necessário. A catarse do ano no rock, sem dúvida.

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To Be Kind
[Mute, 2014]

Nota: 9,0