Crítica – Disco: Titãs | Nheengatu

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Foto: Marcos Hermes/Divulgação.
Foto: Marcos Hermes/Divulgação.

VELHA FÚRIA DOS TITÃS
Grupo retoma sonoridade dos 80 para disco punk-rock de protesto

Os Titãs retomaram o espírito punk rock contestador de seus álbuns dos anos 1980 após atravessarem os anos 2000 apostando em composições amenas em um namoro com o pop radiofônico, o que acabou afastando seus fãs mais antigos. Também legou à banda uma pecha de acomodação, na qual se incluiu grande parte dos remanescentes dos anos 1980. Mas, então, eis que em 2014, o grupo volta à boa forma em seu 18º disco, Nheengatu.

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O novo trabalho busca o mesmo tom visceral, sobretudo na temática, com referências a problemáticas atuais. É o que se percebe já na primeira faixa, a porrada “Fardado”, que fala diretamente aos policiais com os versos “Você também é explorado / Por que você não abaixa essa arma / O meu direito é o seu dever”. A referência direta é a atuação da PM nos diversos protestos que acontecem no Brasil com mais intensidade desde o ano passado. Curiosamente, muitos manifestantes usam outra clássica música de Titãs, “Polícia”, nos protestos de rua.

Outras faixas como “Eu Me Sinto Bem” falam de alienação de parte da população aos problemas, enquanto “Pedofilia”, como o título bastante direto sugere, dessa extrema violência aos menores de idade. E o disco segue, sempre mexendo em temas espinhosos, de religião a machismo, mas sem o tom de indignação vazia, coxinha, de celebridades que empunham cartazes em fotos de Instagram. É um estilo de ataque que reza na cartilha punk de protestar, que foi algo que sempre pautou o grupo nos anos 1980.

A banda ficou conhecida por clássicos do rock brasileiro, como Cabeça Dinossauro (1986), lançado em pleno governo Sarney, e que trazia faixas que chegaram a ser banidas das rádio pelo teor político ou por trazerem uma atitude que incomodava os mais conservadores. Para este trabalho, o produtor Rafael Ramos conseguiu transpor essa mesma energia do início para o momento atual da banda, atualmente apenas com quatro integrantes (chegaram a ser nove no início), Paulo Miklos, Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello.

O nome do disco, Nheengatu, faz referência a uma língua inventada pelos jesuítas no final do período do Brasil Colônia e que tentava emular a diversidade dos idiomas indígenas em uma mistura com o português. O título se comunica com a capa, uma gravura da Torre de Babel bíblica, assinada pelo artista plástico Pieter Bruegel. Esse cenário caótico é a chave para começar a curtir o novo disco da banda, que após discos anódinos como Sacos Plásticos (2009), retomam o seu melhor momento. [Rafael Curtis]

titasTITÃS
Nheengatu
[Som Livre, 2014]

Nota: 8,0