Crítica: Dora, de Ignacio Minaverry

dora

HQ argentina explora com delicadeza dramas pessoais femininos e busca por criminoso nazista

Uma das melhores contribuições da editora paulista Zarabatana foi revelar produções autorais do quadrinho argentino que seguiam invisíveis para nós, brasileiros. Dora, de Ignacio Minaverry, se passa em Berlin Ocidental, em 1953. Garota judia, ela trabalha em um centro de documentação e tem como principal função catalogar material confiscado pelos nazistas. A história começa de forma muito subjetiva e vai desembocar em uma perseguição a criminosos de guerra na Argentina pós-Peron.

A HQ nos coloca como os “olhos” da personagem, vendo muitos e muitos documentos, por vezes até ressaltando a monotonia do trabalho, dando uma pegada realista – quase sempre nos surpreendemos com algum detalhe, assim como Dora. Vamos mergulhando na máquina burocrática nazista e entendendo a estratégia meticulosa do extermínio judeu em campos de concentração.

Minaverry faz um paralelo dessas descobertas com a própria descoberta de Dora como pessoa. Com uma subjetividade bem trabalhada, a HQ vai desnudando-a aos leitores, revelando dramas adolescentes, confusões sobre sua sexualidade e outras questões típicas da idade. Ela também tenta entender as razões do seu trabalho e por respostas ela explora o mundo, saindo de Berlin, passando por Paris e chegando à Argentina, onde tenta encontrar um nazista.

Política sempre foi uma matéria-prima importante para as HQs argentinas, e Dora é um bom exemplo. Mas, é também uma obra que preza pela delicadeza, com traços finos, limpos, algum experimentalismo estético e um texto levíssimo. Uma ótima descoberta para o mercado nacional. [Paulo Floro]

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Ignacio Minaverry
[Zarabatana Books, 168 págs, R$ 55]
Tradução: Claudio Martini

Nota: 8,1