Crítica: Ellie Goulding | Halcyon

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Cantora lança segundo disco com influências do dubstep e letras nostálgicas

Por Andressa Monteiro

A compositora britânica Ellie Goulding lançou este mês o seu segundo álbum de estúdio. Intitulado Halcyon (2012, Polydor) – expressão que na mitologia grega pode ser traduzida como um estado de espírito alegre ou como um pássaro com o poder de acalmar os ventos -, o disco já pode ser considerado como um bom sucessor de seu primeiro trabalho, Lights (2010, Polydor).

O nome faz jus ao disco em muitos momentos. Se for comparado com Lights, perde um pouco de sua sonoridade folk, com batidas mais agressivas e comerciais e ganha maior peso lírico e ousadia, deixando os ouvintes (acostumados apenas com os hits de sucesso) um pouco surpresos ao mostrar um projeto que oscila entre angústias existenciais e momentos de alegria extremas – exceto pelas letras.

Se observamos algumas das composições (sendo que todas elas possuem passagens tristes), podemos notar um contraste, por exemplo, na canção “Joy”, que, apesar do nome e das melodias contagiantes e animadas, ainda é triste quando diz: “And this is far from joy” (E isso está longe de ser felicidade); ou da faixa-título “Halcyon”: “When it’s just us, you show me what it feels like to be lonely” (Quando somos apenas nós e, você me mostra como é a sensação de estar sozinha), dando a impressão de melancolia e nostalgia no timbre peculiar e belo da compositora.

Tais sentimentos poderiam ser resultado de uma série de problemas emocionais com os quais Ellie sofreu durante os últimos anos, entre eles, ataques de pânico e medo de subir ao palco, que, felizmente, não retornaram desde então, graças a tratamento psicológico. Isso tudo somado a um bloqueio criativo desde a criação de Lights.

Antes da produção do disco, a artista já havia admitido que não conseguia escrever, ler e sequer absorver experiências de vida. Porém, tudo isso mudou no final do ano passado quando a cantora se separou de seu namorado Greg James e começou uma nova relação com o então famoso DJ de dubstep, ou também conhecido como “brostep”, Skrillex – dando material suficiente para a compositora criar.

As influências de Skrillex nas faixas “Figure 8” e “Hangin ‘On” (essa com elementos mais suaves vindas das batidas de dubstep) é presente; porém, desnecessária. Mesmo sendo duas das músicas mais impactantes do disco, a parceria fez com que as canções soassem mais como criações do próprio músico, com apenas a adição da voz de Ellie, o que felizmente não prejudicou o resultado final do disco.

Destaque para as faixas “My Blood” (para quem gosta de Florence and The Machine), com batidas tribais e muita energia e para a canção “Explosions”, mais experimental, brincando com diferentes conceitos, mas mesmo assim apelativa a todos os ouvidos. Ainda encontramos referências das cantoras Robyn, Björk, Kate Bush durante a audição do álbum.

Já o produtor Jim Eliot, que trabalhou com artistas como Kylie Minogue e Ladyhawke, torna o álbum mais sofisticado, unindo-se com o crescimento da confiança de Goulding, que canaliza suas turbulências pessoais em uma progresso musical suave e maduro, sem deixar os refrões pop e os sintetizadores viciantes de lado.

Ellie, definitivamente, consegue o que muitas artistas femininas tentam durante a carreira: adaptar para os fãs do eletrônico e do pop tocados nas pistas de dança um som com diversas texturas e experiências musicais, sem perder o frescor, a criatividade e a vendabilidade. A forma honesta como a compositora lida com as fraquezas humanas e com suas letras deixam o suficiente para a imaginação de quem a escuta, o que prova como a cantora tem muito mais a oferecer com o seu talento e inventividade, além de uma ou duas canções nas paradas de sucesso.

halcyonELLIE GOULDING
Halcyon
[Polydor, 2012]

Nota: 8,0

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Andressa Monteiro é jornalista e autora do blog The Goldfish Memory