Crítica: Em Transe, de Danny Boyle

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A VIAGEM POP DE ‘EM TRANSE’
Danny Boyle faz suspense psicológico abusando dos truques visuais

O thriller psicológico já foi muito explorado no cinema, mas Danny Boyle conseguiu se desvencilhar das repetições do gênero ao explorar com criatividade suas próprias características como diretor. Estrelado por James McAvoy, Rosario Dawson e Vincent Cassel, o longa Em Transe mostra uma complexa trama envolvendo o roubo de um quadro que vale milhões e viagens mentais através de hipnotismo.

Boyle ficou famoso com o clássico indie Trainspotting (que revelou Ewan McGregor, se me permitem o parêntese), filme sobre drogas, amizade, juventude e falta de perspectiva da geração anos 90, sem muita ideologia. Depois, o diretor enfrentou experiências não muito boas no cinemão comercial, mas foi reconhecido com o Oscar por Quem Quer Ser Um Milionário, um bom filme, mas que nunca foi reconhecido como o seu melhor por fãs que o acompanham desde o início.

Muito do que fazia Trainspotting ser tão bom foi resgatado nesse Em Transe. Claro, não temos a discussão geracional, já que roteiro é bem diferente. Mas, o que Boyle faz é trazer uma trilha sonora certeira e um visual meticuloso, que gera cenas de impacto. Como diretor preocupado com a imagem, Em Transe é hiper-colorido, como uma festa rave, e até seus momentos mais violentos são carregados de luz e alguma tomada mirabolante de câmera. Há duas cenas que aparecem para chocar – e uma delas inclui uma nudez frontal de Rosario Dawson. É uma linguagem que se aproxima do videoclipe, com pouco espaço para contemplação (ou reflexão) e que obriga o espectador a embarcar no ritmo febril da montagem.

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Boyle passa o filme inteiro brincando com o espectador e fazendo reviravoltas na trama. O artifício irritou muita gente, mas esta é outra coisa exportada do início da carreira do diretor (e citamos Trainspotting mais uma vez). Quando pensamos que o enredo está completo e podemos esperar com calma pelo desfecho, o filme dá uma rasteira e muda tudo. Ainda que muita gente não goste, é mais uma escolha de narrativa do que uma desmérito do roteiro.

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Esmiuçar a trama estraga a graça de ver o filme, mas basta dizer que é uma experiência por estados alterados da mente bem narrado, com cenas de transe e hipnose. O trio de protagonista se mostra bem entrosado, com destaque para Rosario Dawson, no papel de uma psicoterapeuta. A falha no longa se dá por causa de seu final, um tanto desmiolado (até mesmo para Boyle).

O filme não tem a profundidade psicológica que poderia ter, mas foi a forma encontrada de Danny Boyle fazer um filme divertido, exagerado e cheio de truques visuais. Para quem curte o estilo do autor, é sua melhor obra em muitos anos.

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De Danny Boyle
[Trance, ING, 2013 / Fox Filmes]
Com James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel

Nota: 8,0

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