Crítica – Filme: Mad Max – Estrada da Fúria, de George Miller

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Foto: Divulgação.
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Com personagens femininas fortes e bom roteiro, Mad Max – Estrada da Fúria leva cinema de ação a outro patamar

Por Paulo Floro

O novo Mad Max – Estrada da Fúria, do visionário diretor George Miller, estabelece um novo patamar no cinema de ação, mas não apenas pelo espetáculo da técnica e efeitos visuais, mas pela abordagem.

A presença de mulheres fortes, protagonistas da própria história, se contrapõe às narrativas da grande parte do gênero, onde “beldades” são utilizadas como força de distração para o espectador masculino ou surgem como coadjuvantes de luxo. Aliado a isso temos uma direção de arte com personalidade forte, que uniu pirotecnia, estética gore, ultra-violência e narrativa acelerada, ao estilo thriller. Vai demorar para um outro longa de ação atingir o mesmo nível deste novo Mad Max.

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A história se passa no mesmo cenário pós-apocalíptico apresentado no último filme da série. Mas Miller não quis fazer nem um remake nem um reboot de seu universo. Para isso, pensou em uma aventura que fizesse referência às produções passadas, mas sem prejudicar a diversão de quem nunca assistiu a nenhum dos títulos da trilogia. O último, Mad Max – Além da Cúpula do Trovão, foi lançado há 30 anos.

Nesse mundo, os recursos naturais da Terra foram esgotados e uma população empobrecida vive sob uma ditadura do Senhor da Guerra Immortal Joe, um tirano que governa uma sociedade complexa baseada no terror e na posse da única fonte de água que ainda resta. Max (Tom Hardy) é capturado e acaba fazendo parte de uma caçada à imperatriz de elite Furiosa (Charlize Theron), que raptou um grupo de mulheres que eram mantidas cativas apenas para serem procriadoras do tirano, interpretado por Hugh Keays-Byrne. Logo nos primeiros minutos do filme somos colocados dentro de uma da mais impressionantes cenas de perseguição de carros já vistas no cinema.

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E que carros! Os chamados bólidos são verdadeiras máquinas de guerra que colocam seus pilotos em uma posição entre a vida e a morte, mas são cheios de truques, armas e segredos. Entre os veículos temos o Interceptador, que foi usado em todos os filmes da série e que possui a carroceria de um Ford Falcon. O “protagonista” é o Máquina de Guerra, pilotado por Furiosa, onde se passa quase toda a ação do filme. Com 18 rodas, ele foi montado a partir da mistura de um Tatra tchecoslovaco e um Chev Fleetmaster. E o que dizer do Doof Wagom, um gigantesco caminhão com caixas de som, que toca heavy metal para as tropas de Immortal Joe? Visto como uma única perseguição de carros com intervalos, Mad Max acaba fazendo o espectador criar empatia com esses veículos, adicionando mais uma camada de complexidade à narrativa e tornando as cenas de luta e ação mais impactantes.

Feminismo ou bom roteiro?

Mad Max – Estrada da Fúria não sustentaria uma ação de duas horas se não contasse com um roteiro bem construído e personagens bem escritas. As mulheres no filme são empoderadas e se aliam contra um sistema tirânico e patriarcal que ameaça a sustentabilidade do planeta. Munidas com um poderoso veículo de guerra, armas e munições, elas enfrentam exércitos em pé de igualdade. Furiosa é tanto a salvadora quanto a líder desse grupo feminino, da qual participam estrelas de filmes de ação do momento como Zoë Kravitz (X-Men: Primeira Classe) e Rosie Huntington-Whiteley (Transformers).

Com isso, Miller desconstrói o clichê da donzela em perigo tão utilizado em narrativas heróicas voltadas ao dito “obra masculina”. Tampouco foi utilizado o plot da guerreira apaixonada, como se fosse preciso “amenizar” a figura feminina dentro da trama de ação. Foi esse recurso, entre outras coisas, acabou prejudicando a Viúva Negra (Scarlett Johansson) no novo Vingadores – Era de Ultron.

Ao contrário do que uma primeira leitura poderia indicar, Mad Max não é um filme feminista, ou mesmo feminino. Apenas está alinhado ao dias atuais, que não mais admite as velhas concepções sobre a presença feminina ou o “papel” da mulher na sociedade. Somente estamos vendo um roteiro bem escrito.

Ainda sobre o roteiro, Mad Max consegue contar a história de um mundo desolado e seu sistema cruel com a ajuda de artifícios narrativos pontuais, como os lapsos de memória para lembrar os traumas de Max. Com a ação sempre em curso, o longa deixa de lado a verborragia para entreter o espectador sem entediá-lo. Tudo é imagem nessa obra instigante de um diretor que sempre esteve à frente de seu tempo (vamos também incluir outro filme de Miller, o saudoso Babe – O Porquinho Atrapalhado, como parte de sua genialidade :))

Ao final, Mad Max é um longa sobre esperança e redenção. A fuga desesperada para longe de um sistema cruel é a prova da obstinação humana por um porvir mais ameno. Apesar da visão de mundo aparentemente antagônicas, Furiosa e Max estão ambos engajados em encontrar uma alternativa àquele ambiente desolado.

Mad Max – Estrada da Fúria redefine o cinema de blockbuster nos dias atuais, onde filmes do gênero entraram em um modo de produção frenético. E mostra que é possível criar um cinema de ação onde o ser humano é o mais importante.

MAD MAX – ESTRADA DA FÚRIA
De George Miller
[Mad Max The Fury Road, EUA/AUS, 2015 / Warner Bros.]
Com Charlize Theron, Tom Hardy, Nicholas Hoult, Zöe Kravitz

9,5

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