Crítica: Hannah Arendt, de Margarethe von Trotta

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Hannah foi além do óbvio e foi perseguida: o mal pode estar no mais banal dos homens (Divulgação)
Hannah foi além do óbvio e foi perseguida: o mal pode estar no mais banal dos homens (Divulgação)

Hannah Arendt foca na polêmica e instiga a pensar sobre a “banalidade do mal”

Por Paulo Floro

A diretora alemã Margarethe von Trotta se deu bem no desafio de levar para as telas de um nomes mais importantes do pensamento político do século 20, Hannah Arendt, e ainda conseguir criar uma narrativa sedutora mesmo para quem não é familiar com a autora de clássicos como As Origens do Totalitarismo. Para isso, von Trotta, diretora de Os Anos de Chumbo (1981) e Rosa Luxemburgo (1986), focou em um período específico na vida de Arendt, a cobertura que ela fez para a revista New Yorker do julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Israel.

Em 1961, a autora, interpretada por Barbara Sukowa, fez uma viagem à Jerusalém para acompanhar um dos julgamentos mais impactantes daquela época. Chegando lá encontrou não um carrasco clichê, frio e assustador, mas sim um homem simples, comum, que mais parecia um funcionário submisso do que um clichê da crueldade. Foi então que desenvolveu a base para seus estudos sobre “a banalidade do mal”. O seu artigo, que depois daria origem ao livro Eichmann em Jerusalém, não foi bem aceito pela comunidade acadêmica, que a hostilizou e ainda menos na opinião pública.

Hannah fugiu da perseguição aos judeus e curiosamente foi acusada de defender um carrasco nazista.
Hannah fugiu da perseguição aos judeus e curiosamente foi acusada de defender um carrasco nazista.

Hannah não se rendeu à tentação de mostra Eichmann como um monstro odioso e ainda citou a cumplicidade dos Conselhos Judaicos na destruição dos judeus na Segunda Guerra Mundial. Para seus críticos, ela estava “defendendo” o carrasco nazista. Apesar de sempre negar isso, Hannah sofreu bastante com o assunto, inclusive no campo pessoal, com o abandono de diversos amigos judeus. O filme capta bem a ambiguidade da autora e suas crises pessoais com suas decisões.

O longa ainda aborda o relacionamento dela com o filósofo Martin Heidegger, que acabaria se afiliando ao Partido Nazista em 1933 (o que Hannah, que foi sua pupila, nunca perdoou). Nascida em Hanôver, na Alemanha em 1906, Hannah Arendt fugiu da perseguição nazista aos judeus depois que Adolf Hitler assumiu o poder. Depois de passar por Praga, Genebra e Paris se fixa em Nova York, onde viveu até sua morte em 1975. O filme de von Trotta foca na parte mais polêmica da pensadora, o que do ponto de vista da narrativa foi muito bom, pois deu agilidade.

No entanto, o longa tem problemas, como o fato de cair no academicismo em alguns momentos. Algumas cenas são tão didáticas que torna a experiência no cinema monótona. Também falhou em desenvolver os personagens que orbitam Hannah, sobretudo sua amiga e confidente, a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer), que aparece na trama como alguém fútil, uma muleta para trazer um tom “mulherzinha” ao roteiro. As duas sempre estão comentando sobre temas prosaicos, homens, sexo. Segundo a New Yorker, a representação não foi nem de longe fiel em relação à amizade das duas.

Hannah Arendt, o filme, aciona a possibilidade de temas ainda bem presentes na sociedade de hoje e mostra como é possível abordar pensamentos filosóficos de forma atraente em tela.

hannah1HANNAH ARENDT
De Margarethe von Trotta
[Hannah Arendt, LUXEMBURGO, 2012]
Com Barbara Sukowa, Axel Milberg, Janet McTeer, Klaus Pohl

Nota: 7,5

http://www.youtube.com/watch?v=bPTudnaaKNs&feature=player_embedded