Crítica – HQ: A Herança Africana no Brasil e Descobrindo Um Novo Mundo

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Foto: Divulgação.
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Novas HQs olham para a formação do povo brasileiro
A Herança Africana no Brasil e Descobrindo Um Novo Mundo recontam importância dos negros, índios e portugueses para o Brasil de hoje

Duas novas HQs brasileiras olham para a história do Brasil para produzir boas narrativas tendo como cenário a construção da identidade brasileira A Herança Africana no Brasil e Descobrindo Um Novo Mundo são voltados para jovens em idade escolar. O primeiro traz texto de Daniel Esteves, um dos mais prolíficos autores brasileiros de quadrinhos e vencedor do Troféu HQ Mix. O segundo, de de Lillo Parra, Rogê Antônio e Akira Sanoki, remonta a um período ainda pouco explorado que foram os primórdios que levaram ao descobrimento.

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A Herança Africana no Brasil é bastante relevante por seu discurso que contextualiza a situação dos negros desde a chegada à força ao Brasil como escravo até os primeiros anos após a abolição, jogados à margem da sociedade, sem condições materiais nem políticas públicas que os integrassem à sociedade. Com desenhos de Wanderson de Sousa e cores de Wagner de Souza, a HQ traz vários personagens em uma linha do tempo contada por uma avó a sua neta em um terreiro de candomblé em Salvador.

A ancestralidade é um ponto importante trazido pela HQ e mostra um aspecto pouco explorado no ensino da história do Brasil: não podemos perder a conexão com o nosso passado. Quem ainda tenta relativizar o grave problema do preconceito racial do Brasil e as políticas de afirmação, deveria ler essa HQ. Ainda que siga o tom didático bastante comum neste tipo de obra, Esteves cria uma narrativa fluída com ritmo e profundidade. Destaque para a passagem do tempo que acompanha tanto a evolução dos personagens como marcos da história brasileira, sem solavancos. Já Wanderson transmite dramaticidade aos personagens em uma trama que tinha tudo para ser esquemática, mas envolve o leitor.

Já Descobrindo um Mundo Novo remonta à era de ouro das grandes navegações quando nações como Inglaterra, Portugal e Espanha disputavam mercados além de suas fronteiras marítimas. A HQ acompanha a história do noviço José de Anchieta (1543 – 1597) e do menino Joaquim, que estão em uma embarcação em direção ao Brasil em 1553. Os autores fazem um panorama longo do contexto do mundo no período, como a busca por mercados consumidores, o combate ao islamismo e o impacto da presença do homem branco na cultura indígena.

A história, ainda que use o artifício da contação de história como A Herança Africana no Brasil, se encontra engessada na baixa profundidade dos personagens para dar conta de um período tão longo e complexo que foi a época dos descobrimentos. Mas há passagens incríveis que mostram a sofisticação do trio, como a sequência que mostra o primeiro contato com os índios no Brasil. Além disso a obra vale pela arte de Rogê Antônio, dono de um dos traços mais bonitos no quadrinho brasileiro hoje. As duas obras da Nemo da coleção História & Quadrinhos se colocam como materiais de qualidade para estudantes do ensino médio assim como para o colecionador de HQs.

A HERANÇA AFRICANA NO BRASIL
Daniel Esteves (texto), Wanderson de Souza (arte) e Wagner de Souza (cores)
[Nemo, 64 páginas, R$ 42]

 

7,5

 

DESCOBRINDO O NOVO MUNDO
Lillo Parra (texto), Rogê Antônio (arte) e Akira Sanoki (cores)
[Nemo, 64 páginas, R$ 42]

 

7,0

 

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