Crítica – HQ: Gata Garota Vol. 1, de Fefê Torquato

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Divulgação/Nemo.
Divulgação/Nemo.

HQ nacional Gata Garota conquista pelo carisma e apelo felino

Por Paulo Floro

Há uma vibração estranha na HQ Gata Garota, que sai da internet para ganhar um belo volume em livro pela Nemo. A obra da quadrinista meio catarinense/meio curitibana Fefê Torquato tem um ritmo e charme próprio, que confere personalidade à obra após algumas poucas páginas.

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A obra mostra a vida de Gigi, uma garota que é metade humana, metade gato. Ela faz parte de uma família de gatos-gente, criaturas únicas e, aparentemente, inseridas na sociedade atual. Ela namora Danilo, seu namorado demasiado humano, que precisa lidar com o lado felino da amada ao mesmo tempo em que lida com seus parentes. A série começou na internet e é publicada com regularidade no endereço gatagarota-hq.tumblr.com. Estão previstos outros dois volumes em livro.

O interessante da HQ é o modo como Fefê consegue utilizar todos os conhecidos clichês dos gatos dentro de um contexto cotidiano dos humanos. Faz isso sem soar óbvio ou gratuito. Além de passar mais da metade de seu tempo dormindo, Gigi lida com os “dilemas” felinos, como caçar e torturar insetos por horas e se enroscar em pessoas por comida.

A autora gasta a primeira parte da obra com esses pequenos causos do cotidiano. Logo em seguida somos apresentados à uma complexa rede de intrigas familiares capitaneada por sua prima Fefê. A obra ganha então contornos mais dramáticos que incluem brigas e reconciliações e algumas surpresas envolvendo o passado das personagens.

A HQ encontra espaço até para alguns rompantes de super-heroína de Gigi, que passa a combater crimes em sua cidade aproveitando seus poderes sobre-humanos.

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A arte de Fefê Torquato sabe utilizar o preto e branco dentro de um contexto dinâmico, que troca a sobriedade característica por um estilo mais afetado, quase exagerado. Com pouco texto, os enquadramentos e desenhos ajudam a comunicar e dar expressão aos personagens. O uso recorrente da pintura “borrão”, quase um chuviscado, deixou o preto menos sólido e chapado, ajudando a criar um clima próprio para obra.

Uma mulher-gato que realmente se comporta como um gato, Gata Garota tem carisma para se inserir com destaque no novíssimo panteão de personagens nacionais de quadrinhos.

gataGATA GAROTA VOL. 1
Fefê Torquato
[Editora Nemo, 160 págs, R$ 37,90 / 2015]
[Recomendado]

8,5

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