Crítica – HQ: Grump – Naqueles Tempos, de Orlandeli

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Foto: Divulgação.
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Todos temos um pouco de Grump
Personagem do cartunista comemora 20 anos em antologia

Comemorar duas décadas de um personagem é um feito e tanto para um quadrinista brasileiro. O cartunista paulista Orlandeli fez um apanhado da trajetória de Grump, que começou no jornal Diário da Região e tornou-se uma espécie de “tira de formação” para o autor.

A obra revisita a evolução do personagem desde sua aparição na tira “Violência Gratuita”. Com influência de Henfil (1944-1988), Orlandeli experimentou um traço minimalista e aberto, quase sem completar. Com o passar dos anos, o desenho ficou mais fechado e também mais dramático.

Grump carrega os estereótipos do “loser”, figura auto-depreciativa que dialoga com as expectativas frustradas do brasileiro médio. É o típico azarado que tropeça nas barreiras impostas pelo capitalismo e também nas pressões da sociedade atual, obcecada com o sucesso. A coletânea faz uma linha do tempo, desde os primeiros anos usando ainda materiais mais simples o que gerou traços sujos até os últimos anos com a presença de uma maior sofisticação na narrativa. Serve também para ver como o autor comentou assuntos do momento, como a chegada do acordo ortográfico, assunto de uma série longa de tiras.

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O Grump de Orlandeli também é um retrato de um período interessante para o mercado de tiras de jornais no País, que buscava uma renovação e mais diversidade além dos figurões distribuídos em diários pelo País. O Diário da Região tinha um privilegiado espaço para quadrinhos, com grande parte de seu time de colaboradores formado por cartunistas do Interior de São Paulo. Orlandeli, que vinha do underground, cresceu dentro desse contexto.

Hoje, Grump é publicado em oito jornais e no site ÚltimaQuimera. Naqueles Tempos é um registro histórico importante não só para o trabalho de Orlandeli, mas para as tiras no Brasil. [Paulo Floro]

GRUMP – NAQUELES TEMPOS: 20 ANOS DE HISTÓRIAS
Orlandeli (texto e arte)
[Independente, 2014]

8,0

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Editor