Crítica – HQ: Medeia, de Mariana Waechter

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Divulgação.
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HQ Medeia traz estética ousada e experimentação para falar de terrorismo

Medeia, de Mariana Waechter, é uma daquelas HQs das quais precisamos reler assim que terminamos. As imagens repercutem na mente como uma broca fazendo estragos. A HQ usa como base o texto de Eurípedes, de 431 a.C. para abordar a chegada do discurso do terrorismo no Brasil.

A HQ faz parte de um projeto multimídia do coletivo Sáfaro, que inclui artes visuais, vídeo, performance, música e pesquisa sobre terrorismo e todos os discursos políticos e sociais associados a ele. A contribuição de Mariana é como um arcabouço estético, um resumão de todas as discussões do coletivo em relação ao tema.

Medeia não traz um único balão ou recordatório. Não há nem mesmo uma narrativa típica dos quadrinhos, como a passagem do tempo dentro do fluxo da leitura ou mesmo cenas em sequência para contar histórias. O que temos são paineis que tratam do impacto que o discurso sobre o terrorismo tem sobre o cidadão brasileiro. Há um nível de tensão crescente em toda a obra, a começar pela capa, o que chega a ser perturbador.

A partir da tragédia de Eurípides, Mariana e o coletivo Sáfaro discute a truculência da força policial no País, a resistência do cidadão às injustiças e a crítica das rígidas tradições familiares. A figura da mulher permeia toda a obra, sempre envolta em algum nível de violência, seja decapitando um bode, parindo coelhos ou sendo expulsa de casa. Na obra de Eurípedes, Medeia é uma “estrangeira”, bárbara, acusada de bruxaria. Ao longo das décadas, seu mito tem sido usado para diversos debates. Um deles é sobre o limite das culturas e da nossa tentativa de “desumanizar” àqueles que estão alheios aos nossos conceitos de “civilização”.

Medeia, a HQ, apesar do tom excessivamente acadêmico, é instigante pela experimentação que propõe.

A quadrinista Mariana Waechter faz parte da turma dos autores que estão forçando uma experimentação nas HQs brasileiras, tanto na temática quanto na narrativa. Como em todas as artes, esse contingente de artistas assume uma responsabilidade de buscar novos caminhos para a evolução do gênero. Ainda bastante jovem (25 anos), Mariana desponta como promessa e esperamos que seu ímpeto criativo e a vontade de se arriscar ainda por muito tempo. [Paulo Floro]

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De Mariana Waechter
[Independente, 64 págs, R$ 29/ 2014]
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