Crítica-HQ: Nimona traz anti-heroína empoderada e longe dos padrões em divertida narrativa de fantasia

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Nimona poderia ser uma típica garota dos anos 00, mas sua personalidade é marcante e ela é uma transmorfa superpoderosa. Dedicada a se tornar uma grande supervilã ela decide se unir ao Lorde Ballister Coração Negro, um inimigo poderoso do reino que já viveu dias melhores. Essa é a premissa da HQ de Noelle Stevenson, best-seller nos EUA que chega ao Brasil pela Intrínseca. Com mistura de magia, ciência e ação, a HQ traz uma agilidade e um humor afiados em uma narrativa com muitas camadas.

Stevenson começou a carreira como desenhista da Marvel Comics antes de se aventurar nesta sua primeira HQ longa. Como matéria-prima ela se apropriou dos contos de fada e narrativas medievais para criar um mundo retro-futurista. Ou seja, em seu Reino temos lutas de cavaleiros e castelos, mas também videoconferência, experimentos científicos e delivery de pizza. Com um traço que remete a desenhos como Hora da Aventura, mas também clássicos do quadrinho franco-belga, entre eles Tintim, Nimona é uma leitura que causa familiaridade ao leitor. Mas Noelle trouxe nuances nem sempre vistas em narrativas de ação.

A começar por Nimona ser uma anti-heroína clássica, mas com personalidade bastante expansiva. Ela também é uma protagonista feminina longe dos padrões de beleza das heroínas dos quadrinhos e empoderada. A relação dela com o “vilão” Ballister Coração Negro é construída capítulo a capítulo até culminar em uma cumplicidade – no início o arquivilão não aceitou ter uma criança como ajudante, por mais poderosa que fosse. Eles precisam lidar com a Instituição, uma organização poderosa destinada a proteger as pessoas do Reino, mas que esconde intenções totalitárias. Seu maior herói é Sir Ambrosius Ouropelvis, que outrora foi amigo de Ballister. Há ainda uma sutil indicação que esses dois cavaleiros foram bem mais que amigos no passado e o amor entre eles acaba sendo parte importante da história.

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Nimona também esconde segredos, soltos à conveniência da trama, o que ajuda na fluidez da história. Mas talvez o maior mérito dessa HQ seja as reflexões que levanta sobre ética e moral, o que acaba desconstruindo as dicotomias do bem e mal tão relevantes em fantasias medievais. A vida – mesmo nesse mundo mágico – é complicada. Com apelo adolescente, Nimona tem profundidade suficiente para agradar qualquer idade de leitor. Ou seja, mesmo com superpoderes, Nimona é a protagonista feminina possível longe da objetificação e ideais e com a qual as leitoras possam se identificar.

Hoje popular, Noelle teve uma trajetória improvável. Ela começou fazendo trabalhos para Disney e Marvel – é dela uma das versões de Thor Annual #1, que foi bastante elogiado. Com trabalho online que viria a ser Nimona ela chamou atenção da gigante HarperCollins (casa de Neil Gaiman e George R.R. Martin), que a publicou no selo Harper Teens. Com a obra ela foi indicada ao Harvey Awards, ganhou o Eisner e tornou-se autora best-seller do New York Times. Tudo isso com apenas 24 anos. Sua outra obra igualmente aclamada, Lumberjanes, chega ao Brasil pela Devir agora no final do ano. Leia um trecho de Nimona em pdf.

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