Crítica – HQ: O Aguardado, de Augusto Botelho

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Foto: Divulgação.
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O Aguardado mistura literatura fantástica e sátira política para falar da volta de Dom Sebastião

O brasiliense Augusto Botelho soube utilizar a seu favor o poder da cultura popular para criar uma obra inventiva e instigante tendo como mote a lenda do retorno do rei português Dom Sebastião (1554 – 1578). Assim é O Aguardado, HQ que saiu no final de 2014 pelo coletivo independente Mês.

Misto de sátira política com quadrinho histórico, O Aguardado é uma das obras mais inventivas das HQs brasileiras em tempos recentes. O grande trunfo de Botelho foi se arriscar na narrativa ao criar uma trama febril que utiliza personagens reais, elementos de literatura fantástica e até eventos políticos recentes como os protestos de Junho de 2013 no Brasil.

O fio condutor da história é o retorno de Dom Sebastião, desaparecido desde a batalha de Alcácir-Quibir. Seu sumiço acabou gerando lendas do “sebastianismo”, que sempre preconizou sua volta como a resolução de todos os problemas. Na história ele reaparece no meio dos Lençóis maranhenses, com toda a sua corte. A partir daí as reações são as mais diversas, com direito a uma participação de Ariano Suassuna na TV. Após uma série de eventos, a situação do rei acaba sendo julgada no Supremo Tribunal Federal.

Como sátira política, O Aguardado expõe os riscos de se esperar milagres como resolução de problemas.

Ainda que alguns momentos da HQ a narrativa tenha sido prejudicada pela falta de dinamismo dos traços e enquadramentos, O Aguardado se sobressai na produção atual pela originalidade do argumento e do texto afiado dos diálogos. Traz também um domínio das referências do folclore (como o boi estrelado) e da história brasileira. Mas seu maior legado foi conseguir discutir política sem abstenção e ainda emplacar uma história instigante.

aguardado2O AGUARDADO
De Augusto Botelho
[Mês, 80 páginas, R$ 25 / 2014]
Compre online

8,0

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