Crítica-HQ: O maximalismo pop de Geoff Darrow em Shaolin Cowboy

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Impossível ficar impassível diante da arte de Shaolin Cowboy, HQ de Geoff Darrow lançada pela editora Mino no Brasil. E esse é o maior trunfo da obra, uma verdadeira ode ao maximalismo ilustrado. A atenção ao desenho é imediata, antes mesmo de nos atinarmos a qualquer indício de trama ou ambientação. E Darrow é mestre em provocar essa experiência de choque e reverência por meio da arte.

Shaolin Cowboy: Buffet de Shemp foi lançada nos EUA pela Dark Horse e foi tida como uma das principais obras do Darrow, que é autor de Hard Boiled e Big Guy & Rusty – O Menino Robô, ambos publicados por aqui, mas já esgotados. O nível de detalhe é tão imenso que é possível passar horas analisando cada pedaço da página, o que causa uma sensação de imersão que custa a cessar.

A trama mostra o Shaolin Cowboy, um improvável lutador de artes marciais (seu corpo de tiozão de saloon já é, por si só, uma bem-vinda quebra de expectativa), enfrentando uma horda de zumbis. Ele precisa atravessar o Deserto Trump, que está infestado desses mortos-vivos, e para isso conta com sua lança que tem uma moto-serra (!) em cada extremidade.

Não há muito o que se elucubrar nesta trama que se apropria de referências de filmes de kung fu dos anos 1970 e terror clássico. Darrow não perde tempo explicando as ações de seu protagonista nem tentando dar razão ao seu universo. O que temos é um olhar voyeur de um extermínio zumbi em toda a sua beleza explícita e escatológica. O ‘gore’ do desenho é uma experiência que força limites gráficos dos quadrinhos – e isso já está de bom tamanho.

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A sequência da luta principal contra a horda zumbi dura impressionantes 68 páginas. Darrow combina a meticulosidade do seu traço com um domínio brilhante de narrativa de ação, movimento, perspectiva e deslocamento de tempo, criando um ritmo que leva nos olhos a um clímax ao fim da luta. As cores de Dave Stewart também merecem destaque, sobretudo pelo trabalho igualmente meticuloso de preencher todos os detalhes e nuances do traço de Darrow.

Há uma história que antecede esse Buffet de Shemp, lançada também pela Dark Horse, mas inédita no Brasil. Felizmente não é necessário ter lido a HQ anterior para aproveitar o livro. A Mino fez um belo trabalho com esse material, incluindo capa dura e um enorme texto introdutório contando a história até aqui. Muito bom ver o trabalho autoral de um autor como Geof Darrow sair por aqui nesse nível de qualidade.

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