Crítica HQ: Os Jovens Vingadores, de Kieron Gillen e Jamie McKelvie

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Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação/Marvel Comics.
Foto: Divulgação/Marvel Comics.

Nova HQ dos Jovens Vingadores usa mito do super-heróis para falar da adolescência

Por Rodrigo F.S. Souza

Os Jovens Vingadores começaram como um grupo formado em sua maioria por filhos de heróis que fizeram parte dos Vingadores, e herdeiros de títulos que suas versões mais velhas e conhecidas usavam. Sua série anterior durou apenas 12 edições, e foi um sucesso de vendas, tendo como roteirista Allan Heinberg, mais conhecido por seu trabalho como produtor e escritor de episódios de séries como The O.C., Grey’s Anatomy e agora a nova série gay da HBO, Looking. Sua abordagem chamou a atenção não apenas por conseguir criar relações nada forçadas entre estes novos personagens e outros já estabelecidos no Universo Marvel, mas principalmente pela inclusão de um casal gay no grupo.

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Este novo título dos Jovens Vingadores é comandado por Kieron Gillen e Jamie McKelvie. Desde a primeira edição a dupla cria uma metáfora de ação super-heróica sobre a disputa entre o que os pais esperam que seus filhos sejam, e o que/quem estes realmente são. É o velho conhecido e delicado jogo entre o meio em que convive e a essência do indivíduo pela definição de sua identidade, seus gostos, seu círculo social fora do familiar, e os objetivos que nortearão sua vida após tornar-se independente de seus pais, sejam eles adotivos ou genitores, reimaginado para um mundo habitado por adolescentes com superpoderes. Felizmente o autor sabe dosar a seriedade da discussão e evita trazê-la para o centro da história, apenas sugerindo sutilmente ao leitor uma segunda leitura do que está apresentando através dela.

Mas um dos pontos fortes de Jovens Vingadores são as experimentações da dupla criativa com novas formas de narrativa. Uma delas é a criação de cenas de ação com o ritmo dos videoclipes. Esta musicalidade já pode ser conferida na terceira página da primeira edição, quando o herói Noh-Varr põe um LP das Ronettes num toca discos, e começa a dançar ao ritmo de “Be My Baby”. A sequência que mostra um ataque de um bando de skrulls à nave do herói vem logo depois, exibindo uma sincronia entre duas mídias distintas como poucas vezes se viu. Econômica em sua execução, a sequência foi feita para empolgar o leitor com o potencial do título que tem em mãos. É explosiva e linda de se ver, e você vai querer revê-la várias vezes, até mesmo testando novas combinações com outras músicas que julgar em sintonia com o ritmo das imagens.

Foto: Divulgação.
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Tudo isto não funcionaria tão bem se não contasse com os desenhos muito expressivos e limpos de Jamie McKelvie. O desenhista dá conta tanto das cenas de ação quanto dos diálogos e os momentos mais intimistas dos personagens, demonstrando um domínio de linguagem corporal e expressões faciais comparável ao de Kevin Maguire (mais conhecido como o desenhista da fase “sitcom” da Liga da Justiça, escrita pela dupla Keith Giffen e J. M. DeMatteis). Seu traço lembra o de George Pérez, só que menos “poluído” de detalhes e, portanto, mais arejado, o que tem tudo a ver com uma história com jovens protagonistas, que precisam de espaço para se expressarem, se moverem, lutarem e se fazerem notar pelo leitor. E em edições futuras McKelvie faz várias experimentações de diagramação pra deixar qualquer leitor fascinado com as possibilidades da nona arte.

Jovens Vingadores é como sair por aí com amigos legais, inteligentes e talentosos para enfrentar juntos os problemas do mundo como se tudo fosse uma grande aventura, e todos os desafios fossem jogados na sua frente para fazê-lo sentir-se um pouco mais formidável e cheio de vida ao final deles. Não importa a sua idade, se você gosta de quadrinhos de super-heróis, de um escapismo divertido, de apaixonar-se e torcer por seus personagens, esta é a HQ que está procurando.

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Kieron Gillen (texto) e Jamie McKelvie (arte)
[Publicado na revista mensal Homem de Ferro & Thor, 68 págs, R$ 6,50 / 2013]

Nota: 8,5