Crítica-HQ: Punk Rock Jesus se dá bem ao misturar sci-fi com religião

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Punk Rock Jesus, HQ de Sean Murphy, ganha edição de luxo pela Panini este mês. A história fala de um clone de Jesus, criado a partir do Santo Sudário, que se torna um roqueiro rebelde. Ele acaba se tornando um astro de reality show e causa muita comoção e polêmicas nos EUA.

A história saiu pelo selo Vertigo e foi publicada pela extinta revista mensal homônima aqui no Brasil, em 2013. Esta nova edição traz 100 páginas de extras, como esboços e bastidores da produção.

O gibi deu ainda mais moral a Sean Murphy, que tornou-se um dos queridinhos da indústria de comics dos EUA, com passagens por títulos como Batman e Star Wars. Outra HQ sua, Joe – O Bárbaro, com roteiro de Grant Morrison, já saiu em versão de luxo no Brasil.

Punk Rock Jesus é um gibi muito interessante, com um texto bem construído, boa ambientação e humor. Há críticas com sarcasmo à sociedade americana, sobretudo o culto obsessivo às celebridades. Soa anacrônico hoje associar rock à rebeldia (quem são os roqueiros rebeldes contemporâneos), mas usar desse imaginário do movimento punk conferiu charme à obra.

Murphy consegue trabalhar bem os temas religiosos e confere complexidade às relações entre fé, política e ciência. Com um desenho que traz muita influência de mangás cyberpunks e Bill Sienkewicz, ele é um dos artistas mais criativos do mainstream americano. Com essa obra ele prova que é também um escritor talentoso, que consegue dar complexidade ao enredo, mas com dinamismo.

Uma pena que a edição da Panini ostente um luxo desnecessário. São mais de 100 páginas de extras em um livro que reúne uma minissérie de apenas seis edições. A capa dura e o papel de boa qualidade, ok, mas cobrar quase 100 reais por conta de detalhes da produção e estudos de personagem chega a ser exploração.

Para quem acompanha a publicação da Vertigo no Brasil, a regularidade desses títulos encadernados é algo a se comemorar.

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