Crítica: Inverno da Alma

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MELANCOLIA INDIE
Inverno da Alma se vale pelo status de cult para acumular prestígio entre os indicados ao Oscar. Mais do que crítica social, é bom por causa da interpretação de seus atores

Por Camilo Nascimento
Colaboração para a Revista O Grito!

oscar1Realizado com apenas 2 milhões de dólares, um orçamento baixo para os padrões hollywoodianos, Inverno da Alma é o mais independente dos filmes indicados ao Oscar e concorre a quatro categorias, incluindo melhor filme. No seu currículo ainda está o prêmio do júri do festival de Sundance.

Adaptação do romance homônimo de Daniel Woodrell, a história é construída por um conjunto simples de fatores: um pai traficante desaparecido, a filha mais velha que cuida dos irmãos mais novos, da mãe (doente mental), e o acontecimento de uma situação limite. A filha mais velha, Ree Dolly (Jennifer Lawrence) , descobre que seu pai, para sair da cadeia, colocou a casa como garantia de pagamento de sua fiança. Ele precisa comparecer a uma audiência com juiz, pois caso isso não ocorra a casa da família será tomada. Desesperada com a possibilidade de perder a casa, Ree precisa achar seu pai, estando ele vivo ou morto.

É aqui que o filme começa a consolidar o clima melancólico que marca a obra. Desde o começo vemos vários elementos utilizados em sequência para ajudar essa construção: a família vive de doações dos vizinhos, as casas são velhas e deterioradas, as roupas são sujas e gastas, tudo parece sem graça e sem vida. Há ainda o cenário onde o história é ambientada: uma comunidade nas montanhas, que se rendeu as drogas e que sofre com a falta de dinheiro.

Junte tudo com um pouco de mistério que ronda a comunidade: pessoas que não querem falar no assunto e uma conexão mal explicada entre todos os habitantes, e pronto. À primeira vista o filme pode parecer uma coleção de clichês, mas é ai que Inverno da Alma se supera. Acima de tudo, ele é feito para ser triste, seu tema se resume a tristeza, mas não há exageros, exacerbação ou desperdícios nos sentimentos ou drama, tudo é plausível com a realidade do enredo. A protagonista Ree, com 17 anos, não chora pelos cantos, o desespero é sentido pelo seu rosto, assim como o de outros personagens. É um filme sensível, cheio de entrelinhas e sutilezas.

Outro ponto que surpreende é a maneira como a história se densenrola, sem muitas explicações, sem se aprofundar em detalhes, o que importa é a trama central, única. Todos os elementos, que são poucos, convergem para a protagonista. A construção dos personagens é feita de maneira caricata, mas as interpretações levam o filme até o final, destaque para a de Jennifer Lawrence como Ree Dolly, (só ela já vale o filme), e do ator John Hawkes, como Teardrop, tio de Ree.

O filme mantém a aúrea de produção independente, tanto na escolhas dos atores, todos desconhecidos, quanto na tentativa de ser algo conceitual. E é aí que erra. A narrrativa lenta e arrastada que deveria deixar o público ansioso, preso e angustiado, acaba provocando o contrário. Dificilmente as cenas exibidas, e o tempo de narração prenderão a atenção do espectador.

O uso exagerado de personagens caricatos, que surgem o tempo todo, com um caráter dúbio, na tentativa de ressaltar o drama da protagonista, não funciona. Torna-se cansativo, e às vezes desnecessário. Há uma falta de agilidade em trabalhar o roteiro para que ele realizasse essa função, logo, existe uma preocupação constante em montar o clima do filme, utilizando todos os elementos possíveis. E todos eles tem somente a função de aumentar a carga dramática da protagonista. A opção da diretora em usar uma fotografia escura acabou prejudicando a beleza de alguns cenários.

Todos esses fatores estão lá, mas isso não prejudica o todo. A verdade é que a obra é destaque no Oscar mais pelo seu status de filme independente, do que pela produção em si. O filme possui alguns fatores que o fazem surpreender, como inovar ao usar um roteiro minimalista. Não ocorrem digressões, não há tramas paralelas, a história se mostra fechada em uma linha reta.Mesmo possuindo um tema fixo, Inverno da Alma é aberto para várias possibildades: crítica social, amadurecimento precoce e um retrato da vida.

Outro fator, talvez o mais importante, é que Granik foge dos padrões, o fim previsível se resume a superação do problema, mas essa superação não é mágica, não ocorre uma reviravolta na vida dos personagens. A melancolia não desaparece, ela continua presente e cercando a protagonista. É um filme bom, que está sendo superestimado pelas grandes interpretações de John Hawkes e Jennifer Lawrence, fadado a se tornar uma referência cult, mas Debra Granik ainda precisa amadurecer.

Merece sim atenção por revelar novos talentos, pela inovação da narrativa, que utiliza um único argumento para gerar toda uma trama, pela despreocupação em dar explicações da história, pela direção de Granik, linear e direta. Mas ainda é apenas uma produção de uma diretora promissora, que comete erros banais. A verdade é que os críticos se encantaram com a capacidade de Granik em encontrar a dosagem certa de sentimentos e emoções para a produção. E isso é mérito e reconhecimento merecido da diretora.

INVERNO DA ALMA
Debra Granik
[Winter’s Bone, EUA, 2010]

NOTA: 7,0

Indicações Oscar 2011
Melhor Filme
Melhor atriz – Jennifer Lawrence
Melhor ator coadjuvante – John Hawkes
Melhor roteiro adaptado