Crítica: Kick-Ass – Quebrando Tudo

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A POLÊMICA VESTE COLLANT
Usando estética pop e hiper-violência, Kick-Ass se disfarça bem para criticar o conservadorismo

Por Paulo Floro
Editor da Revista O Grito!, no Recife

Ao assistir Kick-Ass, longa do diretor Matthew Vaugh, que estreou semana passada nos cinemas de todo o país, é preciso ligar o botão de desprendimento no cérebro. Hiper-violento, o filme se enquadra dentro das produções de estética pop que utilizam cenas sanguinárias e violentas com exagerada plasticidade, como os filmes recentes de Tarantino e outras adaptações recentes de HQs, como Sin City. E como a violência virou um gênero por si mesmo, não há o que se espantar ou ficar chocado. É neste jogo de humor negro, discretas tiradas politicamente corretas e muita pancadaria que reside toda a graça da trama.

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Aqui, um garoto adolescente decide virar um super-herói, mesmo sem ter nenhum poder ou mesmo aptidão. Vivido pelo ator inglês Aaron Johnson, o personagem Dave Lizewski é um garoto fracote, nerd, fã de quadrinhos e impopular com as garotas (chega a fingir que é gay para se aproximar de uma). Ao passar a vestir seu uniforme de Kick-Ass, passa a descobrir um mundo real demais para suas aspirações inocentes de um combatente do crime.

Dave acreditou que, de fato, poderia lutar contra o banditismo após presenciar alguns crimes em sua vizinhança. Pra isso, compra seu uniforme na internet, e abre um MySpace para se divulgar. Contrariando outras produções do gênero ‘herói’, ele não consegue vencer os inimigos com um toque de sorte, uma injeção de auto-confiança e uma trilha bacana. Logo no início de sua vida de herói, ele é espancado, esfaqueado e atropelado.

Até o final do filme, veremos diversas sequências que indicam que aquele filme quer mesmo subverter o ideário de um super-herói, ao mesmo tempo em que usa todos os signos já bem conhecidos desse gênero. É isso que o autor da HQ em que se baseou o roteiro, Mark Millar, tinha em mente quando escreveu e a proposta foi transposta com maestria para o longa.

Garota-problema
Tudo começa a mudar para o personagem na aparição de Mindy, uma garotinha de apenas 11 anos, que ao lado de seu pai, Damon (Nicolas Cage, sempre metido em filmes nerd), que juntos realizam uma cruzada contra o chefão do crime Frankk D’Amico (Mark Strong), vestidos como Paizão e Hit-Girl (nomes ridículos é uma das marcas de Mark Millar).

Com apenas 11 anos na época nas gravações, a atriz Chloe Moretz, é o grande destaque do filme. Suas cenas de luta são ainda mais impressionates que o banho de sangue de Beatrix Kiddo, de Kill Bill. Quando ela apareçe, ninguém, ninguém mesmo fica vivo. As sequências em que ela aparece mutilando bandidos, atirando, torturando e matando desafetos junto com seus pais – e achando tudo o máximo – foi o que mais chocou a plateia nos EUA. Motivo principal do longa ter ganho a classificação “para maiores de 18 anos” (não é, defitivamente, um Homem-Aranha, onde os pais podem levar os filhos).

O diretor Vaughn teve dificuldade de levantar recursos para a produção. Se tivesse cedido aos apelos e condições dos grandes estúdios e investidores, Hit-Girl seria uma jovem de 18 anos e usaria bastões no lugar de lanças e espadas. O fato da atriz ser uma criança, também contribui para esta polêmica pré-produção. Se americanos já são conservadores com palavrões ditos por crianças (e ela fala aos montes), imagine um filme onde a violência é seu principal alicerce.

Mas é Chloe que mais chama atenção por deixar o espectador à vontade com sua personalidade fanfarrona e – claro – homicida. É uma atuação que pode passar despercebida por muitos em se tratando de um filme colorido e cheio de ação como Kick-Ass, mas será difícil encontrar uma atuação que chame tanta atenção. Sobretudo de uma menina dessa idade. Cage, como o pai obstinado que busca a vingança, se sai muito bem, e o melhor é que seu papel coadjuvante não ofusca nenhum dos jovens atores, como era temido. Ele também deixa transparecer sua predileção por esses papeis em filmes nerds. Ele é conhecido por ser um aficcionado por quadrinhos.

Kick-Ass também é dirigido àquelas pessoas que o ignorariam por ser tratar de um filme de super-heróis, baseado em história em quadrinhos, com personagens adolescentes, muita pancadaria e humor-negro. Quanto preconceito e ideias conservadoras do público médio, a violência pop de Kick-Ass pode matar?

KICK ASS – QUEBRANDO TUDO
Matthew Vaughn
[Kick-Ass, EUA, 2009]

NOTA: 9,0

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