Crítica: Nostalgia é a chave para curtir antologias de Tartarugas Ninja e O Máskara

Edições de luxo desses ícones da cultura pop ajudam a resgatar a cena underground de onde vieram

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Cena da HQ Tartarugas Ninja. (Divulgação/Pipoca e Nanquim).
Crítica: Nostalgia é a chave para curtir antologias de Tartarugas Ninja e O Máskara
7.5

Sentado à TV assistindo aos programas matinais como TV Colosso, Bom Dia & Cia, entre outros, o jovem dos anos 1990 talvez não tivesse ideia de que muitos daqueles desenhos animados eram inspirados em quadrinhos oriundos da cena independente dos comics americanos. O mesmo podemos dizer de filmes da Sessão da Tarde que mais tarde seriam entronizados como ícones da cultura pop do século 20. É o caso de Tartarugas Ninja e O Máskara, que ganharam este ano antologias luxuosas com farto material extra que valoriza o resgate histórico desses gibis.

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Criados pelos jovens artistas Kevin Eastman e Peter Laird, as Tartarugas Ninja conseguiram fazer da inusitada premissa de adolescentes super-heróis mutantes lutadores de artes marciais um sucesso comercial estrondoso. A revista lançada de maneira quase artesanal pela editora americana Mirage Comics foi ganhando cada vez mais espaço na cena independente até se tornar uma franquia de sucesso com filmes, videogames, RPG e merchandising de todo tipo. Inspirados por ídolos como Jack Kirby, George Lucas e Frank Miller, Eastman e Laird conseguiram tornar atrativa uma trama que misturava narrativa de ação com sci-fi.

Quem acompanhou as aventuras de Rafael, Donatello, Michelangelo e Leonardo no cinema e TV talvez se assuste com o estilo cru das histórias neste primeiro volume. A energia bruta típica da tradição fanzineira está distante do estilo do quadrinho mainstream americano, mas os personagens já traziam bastante carisma, o que torna a leitura bem divertida. Nem tudo envelheceu bem, contudo. Há momentos em que o roteiro se torna prolixo, sobretudo quando a trama assume contornos muito autoexplicativos. Há também cenas de lutas que parecem previsíveis (ainda que bem narradas e com bastante impacto visual). É necessário fazer um esforço e compreender o gibi como um item histórico de colecionador, um tesouro do pop oitentista.

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A edição da Pipoca e Nanquim é primorosa e traz ainda esboços das artes e comentários dos autores. Um segundo volume está a caminho e deve ser lançado no final deste ano.

O Máskara reúne as três primeiras minisséries que fizeram a fama do personagem mais louco do cinema. O quadrinho deu origem ao cultuado longa estrelado por Jim Carrey em 1994. Na trama, o neurótico Stanley Ipkiss adquire poderes ilimitados ao utilizar uma máscara misteriosa comprada em um antiquário. Ele entra em uma torrente de vingança pessoal contra as pessoas que lhe humilharam, que o coloca em confronto direto com a polícia e a máfia. Bem parecido com a trama do longa famoso, porém com uma dose bem maior de violência.

Assim como aconteceu com as Tartarugas Ninja, o filme d’O Máskara também teve seu conteúdo amenizado em relação à fonte original. Escritas por John Arcudi e desenhada por Dough Mahnke, o gibi tenta provocar uma espécie de catarse no leitor ao trazer vinganças e revides dentro de um contexto maluco, de surto. Mas as coisas acabam saindo do controle, como pode ser visto no caos homicida que o personagem acaba causando. Tudo fica ainda complicado quando a máscara começa ser utilizada por diferentes portadores, cada um com uma intenção pior que o outra.

Na primeira minissérie homônima fica clara a proposta dos autores em testar os limites do gênero super-herói ao apresentar a falta de escrúpulos que um indivíduo comum pode apresentar ao adquirir poderes ilimitados. As duas minisséries seguintes “O Retorno do Máskara” e “O Máskara Contra-Ataca” empalidecem em relação à estreia do personagem, mas também conseguem entreter. A segunda, inclusive, traz uma das passagens mais engraçadas e absurdas, que é quando Kathy, ex-namorada de Stanley decide enfrentar a máfia usando a máscara. É uma HQ que tenta se distanciar do padrão das HQs americanas tradicionais pela violência gráfica e o humor escrachado, mas, novamente, é necessário certa dose de compreensão de seu contexto para curtir.

O acabamento de luxo para personagens tão populares é bem representativo para o momento editorial que o país vive, em que o colecionismo passa a ganhar um espaço cada vez maior. Prova também o bom diálogo que a Pipoca e Nanquim mantém com o seu público, o que possibilita a descoberta tardia dessas HQs entre leitores brasileiros.

TARTARUGAS NINJA – COLEÇÃO CLÁSSICA VOL. 1
De Kevin Eastman e Peter Laird
[Pipoca e Nanquim, 324 pags, / 2020]
Tradução de Jeremias Giacomo
Nota: 7.5

O MÁSKARA
De John Arcudi e Doug Mahnke, com Matt Webb, Keith Williams, Rich Perrotta, Chris Chalenor e Gregory Wright
[Pipoca e Nanquim, 380 pags, / 2020]
Tradução de Jeremias Giacomo
Nota: 7.0

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