Crítica: O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson

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Fantasia, realidade e encantamento em Wes Anderson
Grande Hotel Budapeste cria universo imaginário para falar de ideias falecidas, como o nazi-fascismo

Por Fernando de Albuquerque

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Na década de 1930 a Europa fervilhava entre a dualidade de viver novas ideias nocivas que desencadeariam a Segunda Guerra Mundial e uma saudade da grandeza monárquica de seus impérios dissolvidos. O Leste Europeu amargava os resquícios deixados pelo Império Austro-Húngaro que terminou há exatos 100 anos, em 1914, com a 1ª Guerra Mundial, e a tensão da presença comunista à porta do poder. É a partir de um retrato desse período entre guerras que Wes Anderson, mesmo diretor de Os Excêntricos Tenenbaums (2001), Um Peixe Fora D’água (2004) e O fantástico Sr. Raposo (2009), se debruça em O Grande Hotel Budapeste (2014). O filme cria um universo burlesco e imaginário, mas não menos real, para representar esse sentimento.

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Grande Hotel Budapeste começa sua narrativa a partir do presente, desencadeando as memórias de um escritor e sua maior obra. O Sr. Moustafa (F. Murray Abraham) conta a um escritor (Jude Law) as aventuras vividas ali pelo concierge Monseiur Gustave H (Ralph Fiennes) e seu jovem protegido, o mensageiro Zero (Tony Revolori). Os dois vivem momentos de intensa aventura ao descobrirem que Madame D. (Tilda Swinton) deixou toda sua herança para o seu amante Gustave.

Os dois passam a ser perseguidos pelo primogênito de Madame D, Dimitri (Adrien Brody), um nazi-fascista de marca maior, e seu capanga Jopling (Willem Dafoe), que não descansa enquanto não derruba todos em seu caminho. Como pano de fundo para todas as peripécias está Nebelsbad, nas montanhas alpinas da fictícia República de Zubrowka, “em tempos capital de um império”. A história corre em 1932, mesmo à beira de uma ocupação por uma potência invasora alcunhada não poucas vezes de “fascista”. A tela grande fervilha de referências à Boêmia, centro civilizacional austríaco, e todos os arquétipos em torno de uma monarquia gananciosa: os plebeus oportunistas, mas não menos sedutores; os aristocratas débeis; herdeiros gananciosos; imigrantes alertas; e burgueses interesseiros.

A partir desse cenário, uma série de acontecimentos atrapalhados acometem nossos protagonistas que realizam viagens intercontinentais, enfrentam a polícia, o exército, são presos e fogem em uma corrida audaciosa para salvar a própria pele e a esperança de tornarem finalmente ricos.

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Mesmo entre o universo burlesco e estanque criado por Wes Anderson, Grande Hotel Budapeste trata com leveza e graciosidade assuntos como a homossexualidade e a questão da imigração. Revela ainda, certo desprezo pelo nazismo, totalitarismos e os comunistas.

E nessa amálgama podemos dizer que esse filme abre ao mundo uma forma que Wes Anderson ainda não havia experimentado em seus filmes anteriores, que sempre procuram recuperar uma visão romântica e esperançosa da vida. Em todo o momento Grande Hotel Budapeste tenta recuperar uma época dourada e faustosa e responde ao espectador com a compreensão, resignada, que o passado ficou lá trás e não há como voltar.

073505.jpg-r_160_240-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxGRANDE HOTEL BUDAPESTE
De Wes Anderson
[Great Hotel Budapest, 2014 / Fox Film]
Com: Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham

Nota: 8,8