Crítica: Os Sertões | A Idade dos Metais

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PRIMITIVO E CONECTADO
Cosmopolita e pop, Os Sertões apresenta novo olhar sobre o interior nordestino

Já pela capa, uma releitura de Sgt Pepper’s Lonely Heart Club Band, dos Beatles, podemos perceber que a banda Os Sertões tem muito a dizer. Formado por Clayton Barros, ex-Cordel do Fogo Encantado, esse disco de estreia chega cheio de referências regionais e uma bagagem performática adquirida ao longos dos anos com o Cordel. A teatralidade é a marca que se mostra mais presente, com músicas de arranjos sofisticados e muita interpretação nos vocais.

Idealizado ainda em 2010, Os Sertões é uma proposta ousada de Barros, que ainda trouxe Deco Trombone, da Ska Maria Pastora, Rafael Duarte, do Rivotrill, no baixo e vocal e o baterista Perna, do Radistae. Se o clima e as características do sertão nordestino já foram exploradas à exaustão, a banda escolheu um caminho que faz uma conversa com o pop, urbanização, consumismo, arte, história. É um sertão ainda primitivo que eles querem passar, mas não alienado, estático.

As pequenas surpresas vão dando baques nas expectativas dos ouvintes. A começar pela escolha dos instrumentos que insere violão, guitarra, baixo e trombone onde se esperava rabeca e sanfona. Depois, o retiro sertanejo é deixado de lado por uma profusão de sons pesados, que remetem às máquinas, urbanidade, caos no trânsito, consumismo.

É como se Barros e sua turma estivesse dizendo: “está na hora de vocês olharem mais atentamente para o Interior”. E se os clichês da região sempre serviram de inspiração para tantas obras, os integrantes rompem com essas ideias cansadas em busca de uma nova interpretação da memória cultural do Nordeste.

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No repertório, espaço para melancolia, como “Silêncio”, muitos momentos dançantes, puxados por instrumentos de sopro, a exemplo de “Galope Rasante” e “Em Algum Lugar”. Lembranças da vida no Interior estão em “Da Infância”, com versos como “Meu pé de manga adora banho de chuva / meu pé de uva se não chover se zanga”. Já a urbanidade fica explícita em “A Pedra”, com participação de Otto e “Alamedas”. Sem soar pretensioso, a proposta conceitual de Os Sertões tem escopo e transpira sinceridade. Com aprumo pop, é um dos discos pernambucanos mais importantes do ano. [Paulo Floro]

O disco pode ser baixado gratuitamente no site da banda ou ouvido, na íntegra, abaixo. A banda é uma das atrações do festival No Ar Coquetel Molotov, que acontece dia 21 de setembro, no Teatro da UFPE. Veja a programação.

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osertoes discoOS SERTÕES
A Idade dos Metais
[Independente, 2012]
[Recomendado]

Nota: 8,6