Crítica: Otto | The Moon 1111

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Otto abraça o caos em seu novo disco, The Moon 1111
Novo trabalho traz referências de brega, afrobeat, ficção-científica para falar de saudade e perda

Por Rafael Curtis

O pernambucano Otto lança este mês seu novo disco, The Moon 1111, mais uma vez de forma independente, agora com o patrocínio da Natura Musical. O músico chega cheio de referências, sendo a mais clara o filme Farenheit 451 (1966), de François Truffaut, que por sua vez é uma adaptação do clássico de ficção-científica de Ray Bradbury. Ainda há espaço para Pink Floyd, Fela Kuti, quadrinhos e candomblé (e ainda muito mais, se cavucarmos). Debaixo de tudo isso, temos a descoberta que Otto segue falando de saudade e perda.

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Antes do disco inteiro vazar, as primeiras faixas e entrevistas do músico davam a ideia de que este seria um trabalho de contraponto ao anterior, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, que era bastante marcado pela melancolia do fim de seu relaciomamento com a atriz Alessandra Negrini. Neste aqui, Otto parece disposto a abraçar uma proposta mais ensolarada, com podemos ver nos arranjos mais dançantes e até algum ingenuidade como “tchu-tchu-ru-ru”.

Mas, as letras do disco não se rogam em falar de culpa e revisionismo. Começa já pela primeira faixa, “Dia Claro”, em que ele diz: “Eu só queria um dia claro, como o que passou, momentos felizes, momentos de amor”, uma música que transborda sentimento de saudade e já anuncia que os relacionamentos são temas caros ao músico desde seu seu último disco. Em “A Noite Mais Linda do Mundo” ele afirma: “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.

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Fotos: Caroline Bittencourt

No caldeirão sonoro que Otto se especializou, o cantor volta a dar destaque ao brega romântico, como fica bem explícito em “O Que Dirá O Mundo”. Mas, este novo disco é bem mais diverso que seu anterior, com espaço para afrobeat, claramente inspirado em Fela Kuti, rock progressivo, música eletrônica. É um caos que o músico decidiu abraçar e que combinou bastante com o direcionamento conceitual deste disco. São diversos sentimentos, muitos deles conflitantes, tristeza x alegria, culpa, mágoa, mas também otimismo, paixão.

The Moon 1111 ainda traz um frescor de jovialidade que remete aos primeiros músicos de Otto. Além de trazer para esse disco sua banda, agora chamada de Jambroband – os guitarristas Fernando Catatau e Junior Boca; o baixista Rian Bezerra; o baterista Carranca e os percussionistas Toca Ogan, Marcos Axé e Male – ele ainda montou um estúdio no Nascedouro de Peixinhos, em Olinda. Lá, percussionistas jovens da região participaram das gravações. Outra parte do disco foram feitos no Estúdio Fábrica, no Recife e no YB, em São Paulo.

Este novo disco de Otto chega para confirmar sua originalidade como um dos novos artistas que melhor sintonizam novas tendências ao mesmo tempo em que se apropriam ritmos que sempre ficaram à margem, como o brega. The Moon 1111 chega após a ruptura de um hiato que foi o caso de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos. Aquele trabalho representou um divisor de água para o músico, que se afastou de seu início de carreira mais eletrônico e o revelou para um público maior, que não o relaciona com a explosão do manguebeat. Esses dois discos é a melhor forma de descobrir Otto – e entender o artista que ele se tornou.

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The Moon 1111
[Independente, 2012]
[Recomendado]

Nota: 9,1