Crítica: Submarine, de Richard Ayoade

submarine

POR DENTRO DE UM ADOLESCENTE EXCÊNTRICO
Filme indie traz olhar delicado e bem-humorado para a fase mais complicada da vida

Por Camila Estephania

Este ano, o inglês Richard Ayoade apresentou seu primeiro longa-metragem intitulado Submarine, uma adaptação do romance homônimo de Joe Dunthorne. Mais conhecido pela direção de videoclipes (como os de Arctic Monkeys e Yeah Yeah Yeahs) e pela sua atuação no seriado The It Crowd, Ayoade em seu filme de estreia tem chamado a atenção da mídia e do público jovem com qual já está acostumado a trabalhar.

No longa, entre os livros empilhados e os posters estampados na parede do seu quarto, Oliver Tate (Graig Roberts) apresenta-se como um jovem pensador sobre as pessoas. Apesar de narrar suas (muitas) reflexões durante o filme, na prática, Oliver se mostra um adolescente de poucas palavras. Introspectivo, ele guarda pra si um olhar mais delicado sobre as situações que o cercam do que seus colegas de classe, o que o torna uma vítima ocasional de bullying.

O filme é dividido em cinco partes: um prólogo, três capítulos, onde se desenvolvem o enredo, e um epílogo. A história começa quando Oliver revela seu interesse por Jordana (Sally Hawkins), uma jovem meio sádica, nada romântica e “ligeiramente impopular”, o que, como calcula Oliver, torna reais as suas chances de aproximação. Paralelamente ao desenrolar da relação dos dois, ele passa a espionar seus pais, que estão mergulhados em um casamento apático.

submarinemov22

Entre o desejo de se tornar o namorado perfeito e salvar o matrimônio dos pais, ele traça um planejamento para o sucesso dos relacionamentos, mas que é executado com falhas. A explicação, Oliver poderia tirar da sua leitura em certa noite: os pensamentos humanos são transmitidos por ondas que nenhum outro humano é capaz de captar. Assim, os planos feitos para dois são potencialmente frustrados diante da imprevisibilidade da mente do outro.

O título Submarine é justificado em uma conversa que o adolescente tem com seu pai, quando este, que vinha tomando antidepressivos, conta que se sentia como se estivesse em baixo d’água, onde os estímulos chegam amortecidos e não são suficientes para o tirar da inércia. Trata-se de um filme sobre a descoberta do relacionamento para um jovem inteligente e, de certo modo, inocente que, até a chegada do epílogo, amadurece seus pontos de vista.

A história de Oliver Tate, esteticamente, foi contada a partir de uma fotografia muito bonita. Destaque para as belas imagens gravadas pela Super 8 que dão a sensação de mais proximidade entre o público e os personagens.

O filme ainda conta com uma ótima trilha sonora inteiramente composta por Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, feita especialmente para o longa. As músicas contaram com o mesmo produtor dos trabalhos anteriores do cantor na sua banda e no projeto paralelo Last Shadow Puppets. O disco, que tem seis canções de voz, violão e piano, foi lançado pelo selo da Domino como o primeiro EP solo de Alex. Dentre as faixas, “Piledriver Waltz”, que aparece também no último disco do Artic Monkeys, Suck It and See, em uma versão mais rock.

Submarine foi muito bem recebido pelo público no Festival de Sundance deste ano e já teve estreia em países da Grã- Bretanha, nos Estados Unidos, além da exibição durante o Festival de Toronto. No Brasil, ainda não há uma a data prevista para a estreia nos cinemas, porém o livro que inspirou o longa já foi traduzido para o português e é publicado pela Editora Record.

submarine 1SUBMARINE
Richard Ayoade
[Submarine, Westein Co., ING, 2011]

NOTA: 8,0